Circuito Entrevista

Fotografo fala sobre inspiração, profissão e tecnologia

Fotos Rai Reis

Viver da fotografia não é fácil, segundo o fotógrafo Rai Reis, mas quando há paixão e talento é preciso se reinventar para continuar a viver dela. Após perder o emprego como repórter fotográfico, o historiador e jornalista resolveu abrir um Studio e passou a trabalhar com fotografia para decoração. Sua fotografia consagrada por paisagens, rios, canoas, cidades, decoram casas e escritórios agora.

A natureza sempre foi a maior inspiração de Rai, que nasceu na cidade de Cáceres (218 km de Cuiabá), onde cresceu brincando no rio que ficava a trinta metros da sua casa. Em entrevista ao jornal Circuito Mato Grosso, o fotógrafo contou sua história e como se mantém no mercado da fotografia em Cuiabá. 

Confira entrevista na íntegra

Circuito Mato Grosso: Rai, conte um pouco sobre sua história com a fotografia. 

Rai Reis: A minha história é um pouco chata [risos], mas vamos lá. Nasci em Cáceres, minha família é do Mato Grosso, e foi lá que eu passei a minha infância. Vim para Cuiabá na adolescência e com 17 para 18 anos eu fiz um curso no Senac e depois que terminei o curso comecei a fotografar no Jornal Diário de Cuiabá. Trabalhei 10 anos com fotojornalismo. Fiz História e Comunicação Social e acabei ficando na fotografia mesmo. Quando fiquei desempregado no jornalismo eu parti para o Studio. Em uma crise dessas da vida financeira eu abri um Studio e tem 19 anos já.

CMT: Como você começou a fotografar? 

R.R: Comecei a fotografar em casa quando ainda era criança. Meu pai era advogado, mas gostava de tecnologia e tinha uma máquina fotográfica, Super 8 (modelo), e desde criança eu tive intimidade com equipamentos fotográficos. 

CMT: Você ainda trabalha com o fotojornalismo?

R.R: Faço ainda algumas pautas para o jornalismo, mas para órgãos fora de Mato Grosso. Esses dias eu fiz uma pauta para um site de São Pauta chamado Apuca onde eu fiquei viajando por vinte dias pelo Nortão de Mato Grosso. Foi um trabalho bem bacana sobre a ocupação de uma terra indígena e um panorama geral de como está os Xavantes aqui no Estado. É bom sair e o problema do estúdio é você ficar muito parado na cidade esperando os Jobs e eu acho que fotógrafo tem que sair. 

CMT: Todo fotografo tem uma identidade. O que ele mais gosta de fotografar se torna uma marca. Como você construiu a sua identidade na fotografia? 

R.R: Eu sempre andei muito de motocicleta, sempre sai para remar. Sai aos finais de semana para dar um role e curtir a natureza. Eu Sou múltiplo, sou geminiano. Eu gosto de natureza, gosto da cidade, gosto de gente, de retrato, gosto de tudo, mas a natureza sempre me inspira. A luz né? Principalmente as baixas luzes, não a luz do sol. Ou de madrugada bem cedo ou final do dia. O que mais me inspira é isso. Na fotografia chamamos de hora mágica que não é nem noite nem dia então as fotografias que você produz nesse horário são… Eu gosto desse horário. Gosto de estar na rua nesse horário, gosto de fotografar neste horário. Me dá uma sensação de plenitude. 

CMT: Como foi o tempo em que você trabalhou só com fotografia em estúdio? 

R.R: Depois de um tempo de estúdio eu saquei que eu não tinha mais fotografia. No jornalismo você acaba produzindo foto, porque você está no movimento constante né? Numa pauta na outra e devido a essa variedade você acaba produzindo essa variedade de fotos também. 

CMT: Qual a sua opinião sobre a fotografia na publicidade? 

R.R: A publicidade é uma coisa muito fria. Uma pastelaria vamos dizer, o cara pede uma foto, mas ele te manda um layout e você segue aquilo a risca sem mudar uma virgula para atender o cliente, então não é uma fotografia que satisfaça como arte ou pessoal. É uma fotografia sobre encomenda. Não sei nem se é uma fotografia a foto publicitária, seria mais um produto. O cara quer aquela fotografia exatamente como esta no papel, naquela fotografia chupada de um banco de imagem internacional e você tem que fazer aquilo. A visão do fotografo nessas horas não existe. Com um tempo de estudo caiu minha ficha e eu percebi que aquele negócio não ia dar certo, pois na publicidade não tem foto. A publicidade acabou, virou um negócio que chega três orçamentos pra mim mesmo que você mande o melhor preço não fecha. 

CMT: Como está o mercado da fotografia atualmente? 

R.R: Não sei o que esta acontecendo, mas este ano foi um ano terrível para a fotografia publicitária e acredito que para os profissionais também. O que esta me salvando mesmo é a fotografia de decoração e novamente a crise acabou abrindo outro seguimento. Têm uns três anos que estou neste ramo.

CMT: Como você começou nesse mercado da fotografia para decoração? 

R.R: Como a fotografia virou objeto de arte, sempre foi, mas aqui em Cuiabá ela esta chegando agora. Fora de Cuiabá isso já existe há muito tempo, que se chama “Fine Art”. Eu comecei com fotos panorâmicas de cidades, de 180 graus. Eu gosto de fotografar cidades e fazia as fotos quando não tinha pautas e ai eu comecei com as panorâmicas mostrando principalmente a cidade de Cuiabá e continue fazendo meus passeios. Eu gosto de remar, gosto de rio, de bicicleta, canoa, gosto também dessa natureza mais bruta, mas intocável. Eu tenho um contanto com a natureza muito forte, sempre tive. 

CMT: Como funciona esse mercado? Como você vende as suas fotografias para a decoração?

R.R: Eu tenho um site e como eu já estou há um tempo no mercado eu conheço muito arquiteto que me ligam e falam o que precisam e eu envio para eles. Eu mesmo faço o layout e envio. A fotografia não é mais aquela fotografia tradicional, continua sendo uma fotografia bruta, real, não manipulada. Eu não gosto de manipulação de fotografia eu gosto dela como ela é, mas os formatos mudaram. 

Eu já tenho minhas fotos prontas e eu sugiro para a pessoa conforme o que ela pede. Geralmente eu tenho sugerido fotos em natureza, porque eu acho que a fotografia de natureza ela tem um efeito calmante em cima da pessoa e do ambiente. Fotos de água, de canoas, matas então você tem efeitos calmantes. Você tem uma vida tensa, acelerada, e ai você tem na sua parede do escritório ou da sua casa um ambiente que baixe sua ansiedade, seu estresse. 

CMT: Onde você está expondo atualmente?

R.R.: Estou expondo na rua. São 100 imagens esparramadas por Cuiabá, Várzea Grade que estão espalhadas por viadutos com imagens de florestas e uma palavra. Esse é um projeto lá de Chapada da Casa Guimarães que me chamou para fazer uma exposição lá, mas eu falei que até topava fazer a exposição, mas dentro de um ambiente em Chapada eu não queria, pois ninguém ia ver. Eu disse que aceitava se a exposição fosse feita na rua. 

CMT: Porque expor na rua e não em uma galeria?  

R.R.: A rua, por conta do grafite, é a nova galeria. Todo mundo vê. O grafite ele esta na rua, mas ele esta voltando para os museus, galerias, um caminho inverso. A arte precisa ser mais consumida, de fácil acesso e por isso eu escolhi o lambe lambe. Por isso eu quis sair de dentro da galeria, do espaço fechado, do privado para o público. A arte precisa de visibilidade. Você tem uma geração de artista aqui produzindo a vinte, trinta anos, tem um monte de artista fazendo arte aqui de excelente qualidade só que vendem pouco. Eu sei por que eu conheço, trabalho com eles. 

CMT: Mas o que você acha das galerias de arte? 

R.R.: Eu acho ótimo galerias. Acho que as pessoas precisam construir mais arte aqui e menos luxo, menos glamour. A gente precisa se aculturar. A arte é a cereja do bolo. A galeria tem a função de ser essa vitrine, de mostrar a arte para as pessoas. O mercado de artes em Cuiabá é recipiente. Eu acho louváveis as galerias e dou maior força. 

CMT: E desse novo modo de fazer fotografia, com os aplicativos de edição e fotografia no celular, qual a sua opinião?

R.R.: A tecnologia ao mesmo tempo que popularizou a imagem ela matou o fotografo. O fotografo enquanto profissional e a fotografia profissional foi pro “pau”. Porque ninguém mais imprimi foto, você hoje tem álbuns virtuais com centenas, milhares de fotos mais tudo em HD, cartão de memória, computador, aplicativos, redes sociais. É um negócio estranho, porque a fotografia tem mais de 100 anos e ela existe hoje porque ela esta impressa. A fotografia feita hoje corre o risco de não existir daqui há 30, 40 anos, devido às mídias que nós temos daqui há alguns anos vão estar obsoletos. Nós temos meio que um apagão de memória fotográfica, eu imagino, porque o que acontece com as mídias? Elas vão ficando obsoletas e vão sumindo com elas. Se você quer uma foto imprima. 

CMT: Credita que com isso o profissional de fotografia passa por uma crise?

R.R.: Eu não digo que vai acabar porque ele vai ficar especialista em alguma área. Ele vai fazer só publicidade, só casamento como a gente já vê ai no mercado. A fotografia esta em uma crise, ao mesmo tempo em que popularizou, a imagem ela matou a imagem impressa né? Eu fazia muito mais foto, ampliava muito mais foto do que hoje.  Agora eu amplio fotos para ambientes e grandes, as pequenas já não rola mais. 

CMT: Como é trabalhado os direitos autorais para você? 

R.R.: A fotografia quando cai na internet tem gente que acha que é de domínio público. Eu nem esquento mais com isso. Esses dias eu abri a página no Facebook de uma rede de hotéis com uma foto minha na capa sem crédito, sem nada, está lá à foto. Já cheguei em bar, onde o cara fez uma parede inteira com a minha fotografia de cidade ai eu falei: Pow essa foto é minha, ai ele respondeu: ah é? Eu achei que fosse de domínio público. Então eu não brigo mais, já briguei, mas não faço mais isso. Tem fotografo que vai pra cima, processa e tal. Eu não faço, eu tenho centenas de fotos na cidade aí e vou ficar brigando? Eu nem tomo conhecimento. O mundo está ficando cheio de coisas assim que vai te amarrando. Ta ficando mais difícil para você fazer fotos. Se você sai na rua fotografar uma paisagem e sair uma pessoa ali, ele pode te processar por uso indevido de imagem. Você não tem mais direito, não tem mais direito de expressão você fica meio que engessado. 

CMT: A fotografia tem um alto custo a quem consome?

R.R.: Algumas pessoas falam que minha fotografia é cara, mas eu falo que não é não. Eu tenho fotografia de R$ 10. Então como eu vivo disso eu procurei vários suportes para a fotografia, desde os mais tradicionais até as publicações de livros. Se a pessoa faz uma casa de R$ 2 milhões, o que custa pagar, por exemplo, R$ 1 milhão numa foto? Não é nada. 

CMT: Pode dar algum conselho para os novos fotógrafos?

R.R.: Eu aconselho quem quer entrar para o mercado da fotografia, que faça concurso. [risos] 

Fotografia é arte e viver como artista não é fácil. Você não tem um holerite, não tem salário, então você é meio que um empreendedor, você está empreendendo com a fotografia, com a arte então é difícil. Tem muito fotografo e milhares de celulares aí concorrendo com ele. Se não tiver um diferencial não vai. O fotografo esta no fio da navalha, ou ele se especializa ou ele vai fazer outra coisa. Então quando o cara vai entrar no mercado ou ele tem um olhar de artista, é um criativo, ou então ele vai fazer outra coisa porque se não ele não vai conseguir viver a vida com fotografia. É uma maré, vai e volta, às vezes vende às vezes não vende assim como a arte. É uma vida dura. Não é glamorosa não.

Como comprar

As obras do fotógrafo podem ser adquiridas por meio do site: www.raireis.com.br. Ou indo até o Studio Rai Reis, localizado na Rua Pedro Celestino, n° 434, Centro de Cuiabá. O telefone para contato é o (65) 3321-3338/ (65) 9 9982-4290.

No Facebook você encontra mais sobre o trabalho do Rai Reis na página: www.facebook.com/studioraireis/.

Catia Alves

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