Quatro dos cinco rapazes desaparecidos quando iam a festa na Grande São Paulo (Foto: Montagem/Reprodução/Polícia Civil de São Paulo)
A Polícia Civil investiga o desaparecimento de cinco rapazes que iam de carro da Zona Leste da capital para uma festa num sítio em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, há uma semana. A informação foi confirmada nesta quinta-feira (27) ao G1 por telefone pela assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Parentes dos desaparecidos disseram à reportagem que suspeitam do envolvimento de policiais, possivelmente militares, no sumiço dos jovens como represália pelos assassinatos de um policial e de um guarda civil em setembro. O grupo estaria sendo apontado por outros policiais como responsável pelas mortes dos agentes de segurança. (leia mais abaixo).
A denúncia de familiares sobre o sumiço do grupo de amigos após abordagem policial foi feita à Secretaria de Direitos Humanos e Defesa de Cidadania da Prefeitura de São Paulo. O documento seguiu para a Ouvidoria da Polícia, que pretende acionar a Corregedoria da Polícia Militar (PM) para que ela apure a informação. A Secretaria da Segurança ainda não respondeu se a Corregedoria irá apurar o caso.
Familiares dos desaparecidos contaram à Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania que "estão preocupados e acreditam que eles podem estar nas mãos de policiais ou mesmo estarem mortos".
Polícia Civil
O caso foi registrado no 55º Distrito Policial (DP), Parque São Lucas, mas está sendo investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
Estão desaparecidos desde a noite de sexta-feira (21) Jonathan Moreira Ferreira, de 18 anos; César Augusto Gomes Silva, de 19; Caique Henrique Machado Silva, 18; Robson Fernando Donato de Paula, 16, que é cadeirante, e um homem conhecido como 'Síndico', que, segundo policiais ouvidos pelo G1, é Jonas Ferreira Januário, 30.
O site de pessoas desaparecidas da Polícia Civil divulgou fotos e dados de Jonathan, César, Caique e Robson. A imagem e as informações sobre Jonas não estão na página. Quem tiver informações sobre o grupo pode mandar e-mail para o DHPP na internet ou ligar para o Disque Denúncia pelo telefone 181.
De acordo com o boletim de ocorrência, Jonathan, César, Caique e Robson moram no Jardim Rodolfo Pirani. Por volta das 23h de sexta-feira (21), eles pegaram carona no carro de Jonas em direção a festa na cidade da Grande São Paulo. Os amigos tinham marcado um encontro no local com mulheres que conheceram pelo Facebook.
Eles disseram aos familiares que voltariam no sábado à tarde, mas como não retornaram, os parentes iniciaram as buscas e localizaram o veículo de Jonas, um Volkswagen Santana, abandonado no Rodoanel, no domingo (23). O carro foi apreendido pela polícia e seria periciado. Moradores disseram que o automóvel estava naquele ponto desde sexta.
Relatório de atendimento dos Direitos Humanos e Cidadania da prefeitura informa que "um dos jovens enviou um áudio para um membro da família dizendo que estavam sendo abordados pela polícia no rodoanel – Bairro Jardim Santo André e depois não tiveram mais contato".
Policiais do DHPP ouvidos nesta quinta pelo G1 desconheciam a existência do áudio do WhatsApp de que um dos rapazes relatou ter sido parado com os amigos numa blitz policial.
"Essa denúncia de que policiais militares podem estar envolvidos no desaparecimento desses jovens precisa ser apurada, e a Ouvidoria vai cobrar essa investigação das autoridades responsáveis", disse ao G1 o ouvidor Julio Cesar Fernandes Neves.
De acordo com o relatório, um dos desaparecidos, Robson, já foi vítima de policiais em 2015, e os demais teriam passagens criminais pela polícia, além de serem apontados como assassinos de um agente de segurança pública.
"Esse jovem no ano passado levou 14 tiros da policia e por conta disso ficou paraplégico. Os demais jovens também teriam passagem e estavam sendo acusados de terem matado um policial", informa o documento.
Sob a condição de que seus nomes não fossem divulgados, parentes de três dos cinco desaparecidos falaram ao G1 que policiais militares passaram a intimidar e ameçar os jovens de morte após os assassinatos de um policial e de um guarda civil metropolitano em setembro deste ano.
Entre os dias 23 e 24 de setembro, um policial e um guarda civil metropolitano foram mortos, respectivamente no estado de São Paulo. Um dos crimes foi em região de classe média alta da cidade e o outro aconteceu em Santo André.
Um cabo da polícia militar foi morto em uma tentativa de assalto. Sérgio Augusto Moraes, de 46 anos, estava de folga. Ele foi baleado numa lanchonete na Bela Vista, na região dos Jardins. O cabo da polícia morreu no hospital até agora ninguém foi preso.
O guarda civil Rodrigo Lopes Sabino, de 30 anos, chegava em casa, em Santo André, quando foi abordado por dois homens. Os vizinhos dizem que por volta das 5h ouviram dois disparos. O delegado que investiga o caso afirma que um desses tiros acertou a vítima na nuca. O GCM foi encaminhado para Santa Casa de Santo André, e morreu por volta das 6h.
"Não teve uma investigação policial que apontou os meninos como os responsáveis pelas mortes, mas outros policiais passavam pelo bairro e ficavam ameçando se os encontrassem na rua iriam matá-los também", disse ao G1 a mãe de um dos jovens desaparecidos.
Familiares relataram à reportagem que alguns dos desaparecidos tiveram passagens por atos infracionais na adolescência e, por isso, cumpriram medidas socioeducativas na Fundação Casa. Outros chegaram a ser presos por outros crimes.
Protesto
No boletim de ocorrência consta que a maioria deles tem tatuagens, como carpas, palhaços e irmãos Metralha – personagens que, no jargão policial, representam símbolos usados por criminosos.
"Acho possível até mesmo que os policiais se passaram pelas meninas do Facebook para armarem uma emboscada para os meninos", disse outra mãe de um desaparecido. "Estranhamente as páginas das moças na internet não existem mais."
Nesta quinta, os parentes organizavam protestos nas ruas próximas ao Rodoanel, onde o carro onde estavam os cinco jovens foi encontrado. De acordo com a Polícia Militar, o ato seguia pacífico até as 14h.
Fonte: G1