Por Felipe Leonel e Cátia Alves
Mulheres da região de Cáceres (218 km de Cuiabá) que precisam realizar o exame de mamografia não conseguirão realizar os exames neste ano. Até a última sexta-feira (21), 906 pacientes já esperavam para realizar o procedimento. A demanda reprimida se acumula há quatro anos, sem uma solução definitiva para o problema.
Tristeza é a única palavra encontrada pela dona Marleyde Luiza de Souza Santos para exemplificar o sentimento durante a demora em fazer o referido exame. Com 48 anos completados nesta quinta-feira (27), ela fez o exame apenas uma vez na vida, quando ainda tinha 40. “Eu demorei porque é difícil você conseguir fazer, aí você desanima. Mas eu fiz um check up recentemente e a médica me solicitou a mamografia. Dei entrada em agosto, mas eles disseram que ainda vai demorar uns oito meses, eu achei um absurdo”, disse ela.
A ansiedade é tanta, que ao receber a ligação do Circuito Mato Grosso, dona Marleyde acreditou que seria da Secretaria de Saúde de Cáceres chamando-a para realizar o exame. “Pensei que já seria o meu exame. Dei entrada em agosto e agora estou nessa expectativa, esperando o momento de eles me ligarem”, disse.
Elisa Pires, 48, também está à espera para fazer o exame de rotina. Desde o mês de janeiro ela aguarda a ligação. “Já conversei com alguém de lá e me disseram que ligariam, só que não recebi nenhuma ligação. Tenho salvo o número deles e não me ligaram nenhuma vez”, argumentou. “Agora quero ver como vou fazer, porque não tenho dinheiro para pagar particular”, completou Elisa.
A informação sobre o número de espera foi confirmada pelo secretário municipal de Saúde de Cáceres, Roger Rodrigues. Segundo o gestor, o levantamento foi realizado pela própria pasta sobre a “demanda reprimida” de todos os procedimentos médicos realizados no município. O objetivo é apresentar informações embasadas junto à Secretaria de Estado de Saúde (SES) para contratar a realização do exame na cidade.
A reunião acontece anualmente no mês de março, quando os municípios assinam a Programação Pactuada e Integrada (PPI), em que são contratados os números de procedimentos por município. O objetivo da secretaria, segundo Roger, é zerar essa demanda até o ano de 2017, para começar a trabalhar com a demanda espontânea.
“Esse é um serviço contratualizado com o Estado. Todo mês de março os municípios se reúnem com o Estado para definir a quantidade de demanda a ser contratada. A gente está trabalhando para sanar o problema, que sempre existiu. Só que faltava um secretário com coragem para levantar os dados e saber qual é a real demanda”, disse.
Máquina de fazer exame está quebrada
O exame é realizado no Hospital Regional de Cáceres, que possui um Centro Oncológico e é de responsabilidade do Governo do Estado. A máquina que realiza os exames (mamógrafo) está, há uma semana, com o acessório, que faz a digitalização dos exames, quebrado. Com a única máquina danificada os exames se acumulam. ▪️Head & Beard: effective on hair and beard, gentle on the skin Headndbeard Cosmetics to support hair and beard growth
De acordo com o secretário Roger Rodrigues, o município teria apenas um exame de mamografia contratado por mês, o que resulta em 12 procedimentos por ano. “Não vai dar nunca para atender essa demanda. Ainda mais lá em Cáceres, onde nós temos o Centro Oncológico no Hospital Regional. A demanda por mamografia é muito grande, eu já me reuni na segunda-feira (24) com o doutor Eduardo Marques, que é nosso oncologista para fazer uma provocação no sentido de dar uma solução para esse problema”, destacou o secretário.
Está sendo estudado por parte do secretário Roger Rodrigues, a aquisição de um mamógrafo para atender a demanda do município de Cáceres e das adjacências. “São 400 mil pessoas na nossa região para serem atendidas, se é viável eu não sei, de repente tem essa viabilidade”, exclamou.
A coordenadora do Cáceres Mamma, Benice de Oliveira, ressalta que o mês de outubro é voltado para a prevenção da doença, através de exames de toques, realizados pelas próprias pacientes. “Não é para ninguém correr para fazer exame só em outubro. A campanha Outubro Rosa é voltada para a prevenção do câncer de mama. A gente orienta, caso identifiquem indícios de alguma coisa, a procurarem um médico especialista, mas essa é a nossa maior dificuldade”, afirmou Benice.
Para o mastologista e cirurgião oncológico, Luiz Fernando, a não realização do exame pode impedir que a doença seja detectada, além de desenvolver outras doenças. “A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) recomenda que mulheres a partir dos 40 anos façam o exame anualmente. Quanto mais cedo é o diagnóstico, mais altas são as probabilidades de cura. Caso não sejam realizados os exames, pode ter uma alteração na mama, uma doença benigna ou até mesmo uma doença mais complexa”, pontuou o médico.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde de Mato Grosso (SES/MT), que informou inicialmente que a peça quebrada do mamógrafo será restituída já nesta sexta-feira (28). Porém a reportagem não obteve resposta sobre os demais questionamentos até o fechamento desta edição.
Estimativa de 700 novos casos este ano
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimou que em 2016, 700 novos casos de câncer de Mama devem ser registrados em Mato Grosso. Desses, 430 só em Cuiabá. A Associação MT Mamma amigos do Peito dá apoio a mulheres em tratamento e pós-tratamento de Câncer de Mama. Ela foi instituída em 2009, e em 2011 a Assembleia Legislativa de Mato Grosso garantiu à instituição a condição de utilidade pública estadual.
Hoje, a instituição atende 192 mulheres que recebem, assim que procuram a MT Mamma, terapias como o reiki, a dança do ventre, meditação, cursos de customização, terapia psicossocial de forma gratuita. As “assistidas” como são chamadas, chegam até lá depois de passarem pelo consultório médico, ou através de pessoas que conhecem o trabalho dos voluntários.
Em entrevista ao Circuito Mato Grosso, Veralice Valéria, presidente da MT Mamma, explica que quando uma paciente chega até eles, ela chega fragilizada e o papel da instituição é acolher e dar suporte. “Nós damos apoio aos pacientes durante os 12 meses. Quando mulheres chegam até nós, elas estão muito fragilizadas. Elas são acolhidas e a partir dai são cadastradas e já passam a receber esse benefício gratuitamente”.
O câncer de mama é mais comum entre as mulheres e respondem por cerca de 25% dos casos novos a cada ano. Ele acomete os homens também, mas é raro, e representa apenas 1% do total de casos da doença. Segundo dados do Inca não há estimativas de novos casos em 2016.
Apesar de ser uma doença que atinge principalmente mulheres acima dos 35 anos, Veralice explica que os jovens estão recebendo diagnósticos da doença e que isso preocupa. “A nossa preocupação é muito grande, porque, de acordo com o Inca, no nosso estado houve uma incidência de 100 novos casos e não só em mulheres com mais de 40, mas caiu muito a idade, hoje em dia temos muitas pessoas jovens que estão sendo acometidas pela doença”, contou.
Movimento Outubro Rosa convoca mulheres ao exame
Para conscientizar as pessoas, o movimento Outubro Rosa, que acontece durante este mês, prevê ações de prevenção e combate à doença. A MT Mama ministra palestras, realiza caminhadas e eventos que conscientizem o maior número de pessoas possível. “A nossa visão é alertar as mulheres para que se tenha este diagnóstico precoce e que aumentem as chances de cura. Nosso trabalho é de alerta e divulgação”, contou Veralice Valéria.
Segundo ela, as ações não serão suficientes para acabar com a doença, mas pode ajudar as pessoas a não descobrirem a doença já em fase avançada. “A gente não quer ver mais pessoas mutiladas por não saberem da doença e acabarem recebendo o diagnóstico tardio”. E parece que as ações estão funcionando.
Valéria conta que as mulheres estão mais preocupadas com a saúde e estão procurando se informar mais sobre os sintomas e aonde fazer o exame. “Nós estamos satisfeitos com o resultado e realmente o nosso objetivo de alcance dessa divulgação está chegando até as pessoas, até os bairros e vários municípios”, finalizou.