Cidades

IML emprestou luva do Metropolitano para liberar corpo de radialista

O corpo do radialista da Rádio Cultura, Ademir Rodrigues, de 65 anos, atropelado por volta das 15h deste sábado na avenida Miguel Sutil, em Cuiabá (MT), só foi liberado à meia noite porque os técnicos do Instituto Médico Legal (IML) não tinham luva para realizar a necrópsia. Segundo amigos da família, o exame só foi possível depois que funcionários do IML conseguiram emprestar luvas do Hospital Metropolitano de Várzea Grande.

Ademir Rodrigues foi atropelado por um Fiat Uno na avenida Miguel Sutil, em Cuiabá, enfrente ao supermercado Comper. Ele teria tentado atravessar a via fora da faixa. Segundo familiares, o radialista ia almoçar quando foi atropelado. O condutor do Fiat parou para socorrer a vítima, mas ela já estava em óbito. De acordo com a polícia, o teste do bafômetro deu negativo.

A ocorrência foi acompanhada pelo  delegado Jefferson Dias da Delegacia Especializada em Delitos de Trânsito (Deletran) e pela Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec). O corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para exames de necropsia. Porém, só foi liberado nove horas depois porque não havia luvas para a necrópsia.

O corpo do radialista será velado na Capela Jardins, sala Roseiras. O enterro será às 16h, no cemitério Parque Bom Jesus, no Bairro Parque Atalaia.

Leia mais: IML só consegue atender 30% das perícias em Mato Grosso

Há meses o IML vive a falta de material para os exames nos corpos de pessoas vítimas de morte violenta. No mês de julho passao o jornal Circuito Mato Grosso denunciou as condições precárias de funcionamento do órgão, não só na Capital, mas também no interior de Mato Grosso. De acordo com servidores, o IML só está funcionando com 30% de sua capacidade.

“Pior impossível. Falta até luva para trabalharmos e essa estrutura deficitária existe na Capital e no interior”. Este desabafo é do presidente do Sindicato dos Peritos Oficiais Criminais de Mato Grosso (Sindpeco-MT), Alisson Trindade, que faz um cálculo bastante preocupante: por falta de estrutura, nem 30% dos serviços do Insstituto Médico Legal de Mato Grosso (IML) são realizados.

De acordo com o presidente do Sindpeco, essa precariedade interfere diretamente na qualidade dos laudos criminais e, consequentemente, nas resoluções dos crimes.  “Hoje temos um corpo técnico muito capacitado, vários servidores com mestrados e doutorados, mas não conseguem fazer o trabalho porque não têm estrutura nem materiais adequados”. 

Alisson Trindade faz um alerta. “A perícia está produzindo em menor quantidade e em pior qualidade. Quando não tem um material substanciado, a execução penal fica prejudicada, pois a prova pericial é extremamente importante para o judiciário dar condenação ou a absolvição ao réu. Então, se você não tem qualidade nessa prova pericial, todo o processo da segurança pública fica prejudicado”.  

O presidente do Sindpeco observa, ainda, que a secretaria investiu em ostensivo e deixou a perícia de lado. “Hoje a segurança prende e logo o cara está na rua, porque se você não tiver uma prova pericial de qualidade, o juiz e o delegado não conseguem segurar o cara na cadeia e condená-lo. Enquanto não houver investimentos na perícia criminal, que produz a prova criminal, infelizmente a segurança pública não vai funcionar”, lamenta. 

Se na capital do Estado a situação se encontra crítica, no interior a situação se agrava. Segundo Alisson Trindade, as unidades funcionam em casas alugadas. “A maioria das unidades alugadas não são adequadas para o trabalho pericial. O ideal não é isso, precisa de um espaço de laboratório, precisa de um stand de tiro, precisa de um prédio adequado pra realizarem o trabalho, o que não existe hoje, no interior”, explica.

Alisson explica que o sindicato protocolou um ofício apontando todas as irregularidades nas unidades para o então Secretário de Estado e Segurança Pública, Fábio Galindo e, novamente, mês passado e até agora não obtiveram resposta.

“A situação está realmente muito crítica. É preciso aumentar o orçamento da Politec, porque com o atual não dá para comprar os materiais básicos para o perito realizar os trabalhos”, acrescenta Trindade.

O desafio de trabalhar no IML de Cuiabá

Valter Ferrari, servidor do Instituto Médico Legal (IML) de Cuiabá, falou com exclusividade ao Circuito Mato Grosso sobre os desafios de trabalhar diariamente em um lugar onde a estrutura é precária. O semblante abatido do técnico em necropsia é mais um sinal de quem está cansado de conviver com o mesmo cenário há mais de 21 anos.

A falta de pessoal é um dos inúmeros problemas enfrentados pelos servidores. “O IML atende toda a região metropolitana de Cuiabá. Nós só temos uma equipe por plantão para fazer atendimento das ocorrências, por isso muitas vezes há a demora para chegar ao local do fato”, explica Valter.

Ferrari conta que há somente dois carros tipo ‘rabecão’. “Se acontece mais que duas ocorrências em locais distantes, uma delas será prejudicada pela demora, porque não tem profissional nem equipamento para ir buscar o corpo”. 

Caso semelhante aconteceu no dia (21.06), quando um dos veículos estava com problemas mecânicos e o outro atendendo uma ocorrência distante. Nesse período, um jovem foi assassinado com dois tiros na cabeça no Bairro Mapim, em Várzea Grande (MT), por volta das 18h e o corpo só foi removido às 23h45 com auxílio de uma viatura do Corpo de Bombeiros. Foram 5h45 à espera do rabecão.

“Esta situação acontece frequentemente”, relata Valter, informando ainda que as manutenções nos veículo não são feitas periodicamente, por isso vivem quebrando. “A questão é que eles andam muito”.

Sandra Carvalho

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