Estarrecida fiquei com a chamada da reportagem da Rádio Senado “Índio quer açúcar: a epidemia de obesidade nas aldeias brasileiras”. Para além da entonação de voz da jornalista, a reportagem está carregada de dados descontextualizados, o que leva a mal-entendidos que contribuem ainda mais para intensificar o preconceito à pessoa indígena. Contudo, a reportagem ganha um aporte histórico-antropológico com esclarecimentos dos antropólogos Carlos Coimbra, Carlos Fausto, dentre outros.
Termos incorretos como “aldeias espalhadas por todo o País”, “branco”, “processo de aculturação”, “resgate de valores” distribuem-se na reportagem. As aldeias não estão “espalhadas” por todo o País, elas estão distribuídas dentro de uma ordem cultural; o termo “branco”, para designar pessoas que não se identificam como indígenas, é altamente preconceituoso por excluir outros segmentos da população brasileira; o uso de “processo de aculturação” foi deixado fora das discussões das Ciências Sociais; valores não são “resgatados”, e, sim, revitalizados.
É sabido que mudanças drásticas vêm ocorrendo nas sociedade indígenas. O que ocorre nos últimos anos, de acordo com o antropólogo Carlos Fausto, “é um processo de sedentarização ligado à infraestrutura criada pelo Estado para atender essas populações – luz elétrica, gás, água encanada, escola, posto de saúde e tecnologias de locomoção. Há apenas uma geração, os índios caminhavam até suas roças, remavam para pescar e andavam quilômetros para ir a uma festa em outra aldeia. Hoje, andam de barco a motor, de carro e, às vezes, de moto – como nós, que pegamos elevador, em vez de subir escada”. O processo de indução à sedentarização não fez com que índios deixassem de ocupar todo seu território.
O IBGE informou que quase 60% dos brasileiros estão acima do peso. Obesidade não é um malefício que atinge somente o povo Xavante. A Rádio Senado, no Dia Mundial de Combate à Obesidade, deveria trazer dados contextualizados sobre a obesidade Xavante e discorrer sobre os males do colonialismo a impor outra ordem aos indígenas.