Cidades

Gambiarras refletem crescimento desordenado em Cuiabá

Cuiabá cresce desordenadamente nos últimos trinta anos e ainda hoje são muitas as comunidades que vivem a falta de estrutura por terem nascido de processos de invasão. Pelo menos 100 bairros são irregulares, onde falta água, energia e outros benefícios. Esta semana, duas situações atestaram a falta de controle do crescimento da cidade. Moradores interditaram a Rodovia Emanuel Pinheiro e a avenida principal do Jardim Vitória em pleno domingo à noite pelo seguinte motivo: excesso de gambiarras, falta e oscilação da energia. De um lado, as famílias alegando não ter teto e reclamando do descaso da prefeitura. De outro, poder público alegando que a área invadida é de preservação ambiental e a concessionária afirmando que só fornecerá energia após a regularização.

Moradores protestam exigindo energia

Os moradores da região do Jardim União, em Cuiabá, há mais de 20 anos sofrem com a falta de energia e também com as constantes oscilações. Dona Jucely Francisca da Silva, de 38 anos, vive com o marido e três filhos, um deles especial, em uma casa simples. Possui pouquíssimos eletrodomésticos. No último domingo, 16, o motor da geladeira queimou. Motivo: moradores do bairro vizinho, o Águas Nascentes, bairro nascido de invasão, puxam energia do único transformador por meio de gambiarras (ligações clandestinas).

Sem luz desde à tarde da última sexta-feira (14) e cansados de arcar com prejuízos como perdas de alimentos e danos em eletrodomésticos, moradores da região do Jardim União, em Cuiabá (MT), interditaram o trânsito na Rodovia Emanuel Pinheiro e da rua de acesso à Avenida do CPA na noite deste domingo (16) para protestar contra a falta de energia e constantes oscilações no fornecimento.

“Com esse vai e vem de energia, minha geladeira que é nova acabou queimando. Direto tem queda na energia, ela fica fraca, oscilando. Eu tenho uma filha especial e no fim de semana que acabou a luz, fiquei acordada a noite inteira abanando ela porque estava desinquieta com o calor e o mosquito”, disse Jucely, que mostrou a situação em que se encontra a geladeira. Detalhe: ela paga cerca de R$200,00 de energia por mês.

Na outra rua, o pedreiro Ló Gomes Rocha também atesta a mesma situação das oscilações da energia elétrica e diz que a queda da eletricidade se deve ao transformador, que teria pouca capacidade de abastecer todas as ruas da região.

“A energia aqui é fraca, ela não aguenta aparelhos grandes, ar-condicionado, máquina de lavar. A minha geladeira teve uma peça queimada por conta das oscilações da rede elétrica. O modem do computador volta e meia queima, como tem a garantia da assistência, a gente sempre troca sem prejuízo. Mas o problema aqui é que não tem rede de energia para todos aqui do bairro. Direto a lâmpada queima, o ventilador venta fraco, mosquito só falta carregar”, diz o senhor Ló.

“Direto dá pipoco no transformador”

A comunidade Águas Nascentes, que nasceu de invasão, não possui sequer um poste de energia, toda a rede elétrica é feita de “gato”. No entanto alguns moradores entendem a situação dos moradores da região, mas têm consciência de que o valor de a energia ser alta é em razão das ligações de energia clandestina.

O presidente do bairro, Manoel Belo Gomes, explica que o bairro com aproximadamente 20 anos de existência tem um transformador com pouca amperagem para a quantidade de moradores que utilizam a rede elétrica. “O transformador do Jardim União não está aguentando, tem que trocar por um maior, direto ele estoura e dá pipoco, aí a Energisa vem arruma o que estragou e depois acontece de novo”, relatou Manoel.

De acordo com ele, há várias ruas que não possuem postes para a ligação de energia, e os moradores vão se virando fazendo os “gatos”, no entanto ele defende a situação. “Não é que os moradores não querem pagar, é que aqui não temos postes com a rede elétrica, todos aqui na região estão a favor de colocar os postes nas ruas e os padrões em suas casas para ter uma energia de qualidade e quando houver algum problema ter a quem recorrer”, declara o presidente do bairro.

A dona de casa Marilia Mendes confirma que o que falta são os postes, não apenas por necessidade dos serviços, mas principalmente dignidade de poder cobrar os serviços e para ter um comprovante que declare o endereço de onde mora. “Nós todos aqui do bairro queremos ter energia e pagar por ela. É um direito nosso. Nesses últimos dias comida estragou na geladeira por conta da falta de luz e o pior é não ter oficialmente onde recorrer. O que a gente quer é melhoria, uma coisa organizada, ninguém aqui tá correndo de pagar”, asseverou.

Energia somente após regularização

A Energisa, que é responsável pela distribuição de energia elétrica em todo o Estado, informou que a situação do bairro é delicada e esclareceu algumas situações dos moradores da comunidade Águas do Nascente e do Bairro Jardim União.

A empresa explicou que a área é um local invadido, cujo fornecimento de energia só poderá ser legalizado após a regularização habitacional junto à prefeitura, de acordo com a legislação vigente.

Em Cuiabá, além da lei municipal que proíbe a ligação de energia em áreas não regularizadas, existe uma força tarefa desde julho de 2016 que envolve o Ministério Público Estadual, a prefeitura de Cuiabá, as concessionárias de água e energia, a Defensoria Pública e o governo do Estado, entre outros, para coibir as invasões.

No dia 14 a Energisa retirou as ligações irregulares de energia da Comunidade Águas Nascentes, após a reclamação dos moradores legalizados. A equipe constatou as gambiarras e fez a retirada das ligações clandestinas que causavam as oscilações.

O alerta da Energisa quanto às ligações clandestinas é que elas são ilegais. Além de sobrecarregar a rede de distribuição da vizinhança, reduz a qualidade do fornecimento e pode trazer sérios riscos de acidentes.

Segundo a assessoria da Prefeitura de Cuiabá o local invadido é uma área de preservação ambiental e possui uma ordem da Procuradoria Estadual para que os moradores saiam do local.

Queimou a geladeira?

Quem perdeu a geladeira elétrica deve anotar a data exata da ocorrência. O usuário pode ir à agência da Energisa ou, ainda, entrar em contato através do telefone 0800 6464 196 e abrir um pedido de ressarcimento de danos elétricos.

Se ficar comprovado que ela foi queimada em função de uma ocorrência na rede elétrica, ele receberá uma indenização de uma geladeira nova ou o conserto. A análise dura cerca de 24h.

Secretaria diz não ter recurso para adquirir áreas

O secretário de Assistência Social de Cuiabá, José Rodrigues, informou ao Circuito Mato Grosso, em sua edição 589 que tratou sobre este tema, que uma equipe técnica acompanha as ações de retiradas realizadas pela Secretaria de Ordem para levantamento do perfil das pessoas que participavam de ocupações. Geralmente são cuiabanos, ou migrantes que vivem há mais de um ano na capital, com família, baixa qualificação educacional e profissional.

No entanto, pouco se pode fazer para destinação delas em outras áreas apropriadas para instalação de lotes. A secretaria afirma ainda que não tem recurso para comprar uma casa para essas pessoas. “O máximo que podemos fazer é verificar o perfil delas, se é de quem realmente necessita de assistência e se não estiver ativa no Cadastro Único (programa federal de assistência social que cria dados para ações como as do Bolsa Família e do Bolsa Escola), nós a cadastramos”, afirma.

Quanto a encaminhamentos para aquisição de casas, se encaixadas no perfil de baixa renda, que são de pessoas pobres ou em extrema pobreza, a secretaria informou que o Minha Casa, Minha Vida é o único programa ativo no País. “Essas pessoas ganham prioridade nos sorteios do programa. Por exemplo, no último sorteio realizado para Cuiabá, 442 famílias de baixa renda foram sorteadas. Mesmo assim, não se pode fazer muita coisa, pois dentro do grupo de baixa renda há outras prioridades, como famílias chefiadas por mãe solteira ou por idosos”.

 

Grileiros invadem beira de córrego

Há pelo menos 100 áreas de invasão em Cuiabá de acordo com dados da própria prefeitura. Mais uma foi registrada esta semana, desta vez em uma área localizada às margens do córrego Ribeirão do Lipa, no Santa Marta, em Cuiabá (MT). Quinze pessoas chegaram no local no domingo (16), e de acordo com uma moradora da região, de carro e até caminhão de mudança. A permanência foi pouca. Nesta quarta-feira (19), eles foram retirados por fiscais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Valquiria Castil

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