Foto Ahmad Jarrah
Cuiabá, dia 5 de agosto. Último prazo para os partidos anunciarem suas candidaturas. Com a desistência do prefeito de Cuiabá Mauro Mendes (PSB), o governador Pedro Taques vai à casa do então deputado estadual Wilson Santos (PSDB) para um convite controverso: se candidatar à prefeitura de Cuiabá. Ainda enfrentando o desgaste por ter abandonado a prefeitura da Capital em 2010, Wilson aceita a proposta.
Com a candidatura, a disputa Mauro Mendes e Wilson Santos veio à tona. Rivais políticos em três eleições passadas, Mauro liberou o secretariado para divulgar apoio, mas não o fez pessoalmente. O prefeito não gravou nenhum programa eleitoral pedindo voto para o companheiro de coligação.
“Um líder só faz omelete quebrando ovos. Ele não pode, sob pena de prejudicar um futuro promissor na vida pública, passar batido nas eleições na Capital. Ele é líder, e tem que se posicionar como um”, considera Wilson.
Em sua segunda gestão, em 2009, foi deflagrada a Operação Pacenas que investigava fraudes nos processos licitatórios relacionadas ao saneamento básico de Cuiabá e Várzea Grande, pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Foram 11 pessoas presas e 22 indiciadas, na operação determinada pelo, então, juiz e hoje candidato, Julier Sebastião (PDT).
Wilson afirma que a operação foi uma “armação” de Julier com os políticos da época para desestabilizar sua gestão. “Aquilo foi algo extremamente maldoso, arquitetado friamente para destruir um iminente adversário que havia sido reeleito prefeito, com mais votos que na primeira eleição, e era disparado o líder nas pesquisas para o governador do Estado”.
Em entrevista para o Circuito Mato Grosso, Mato Grosso também fala do desgaste que sofreu após sua saída em 2010. O candidato, em seu segundo mandato de prefeito de Cuiabá, deixou a prefeitura para seguir candidatura a governador do Estado de Mato Grosso.
Confira entrevista
Circuito Mato Grosso: No início da campanha o senhor mantinha a postura de não “bater” em nenhum candidato. Nos programas eleitorais do fim da campanha o senhor relacionou Emanuel Pinheiro à corrupção. Por que a mudança de estratégia?
W.S.: Eu disse desde o início que o ideal é uma campanha propositiva, discutindo os reais problemas da cidade. Como a conclusão do VLT, rodoanel, do Pronto Socorro, das Upas – nas regiões leste e oeste, ampliação do programa Novos Caminhos. Essa sempre foi a minha linha.
Nós dividimos o programa em três momentos. Responder a todos os questionamentos que a mídia fazia a minha candidatura. O segundo, mostrar serviço prestado, são 30 anos de vida pública, foram 18 dias apresentando programas. E ontem, o comando da campanha – comunicação e marketing – decidiu começar a mostrar os diversos grupos políticos que disputam as eleições de Cuiabá. Para que o cidadão tenha noção e precisão, de quem é quem na disputa.
Circuito: Isso não pode passar um desespero da coligação?
W.S.: Pesquisa, historicamente, não me intimida. Já viramos pesquisas com 20 pontos atrás em 10 dias. Nós nunca atacamos e nem desrespeitamos os institutos. Em 2004, a Vox Populi divulgou uma pesquisa na TVCA apontando, faltando 10 dias para o final do segundo turno, 56% Alexandre Cesar (PT), 36% Wilson Santos. Em 10 dias nós viramos as eleições. Nós estaremos no segundo turno
Circuito: O candidato declarou já ter recebido R$ 501 mil de recursos. É possível fazer campanha com pouco dinheiro?
W.S.: Eu faço campanha até com zero. Eu não tenho um real para por na campanha, me chamaram em cima da hora. Fui o último candidato a entrar. Eu disputo eleição em qualquer ambiente, em qualquer ambiente, lugar e situação.
Circuito: E como vê essa nova legislação?
W.S.: Eu acreditava que não viveria para ver essa mudança. A principio foi tratada como mini reforma, mas foi a maior reforma na estrutura política e eleitoral desde a década de 30, o Brasil nunca viu uma reforma como esta. Ela mexeu na essência: no dinheiro.
É ai que é a gênese da corrupção. Quando o empresário financia ele quer o troco, como você acabou com isso, os empresários estão livres e os políticos também. Daqui para frente, os processos licitatórios serão mais transparentes, mais competitivos.
Isso é revolução, alforria dos políticos com o setor empresarial que financia a campanha. E os políticos vão ter que aprender daqui pra frente a fazer campanha sem dinheiro.
Circuito: Caso o candidato não vá para a disputa do segundo turno, o senhor apoiaria o Emanuel Pinheiro?
W.S.: Não sou homem de ficar em cima do muro. Tenho responsabilidade com Cuiabá. Eu espero estar, mas tudo é possível. Caso esse cenário aconteça, não tenha dúvida que eu terei lado. A minha preferencia é de não ir para o segundo turno, mas como isso está impossível, vamos pro segundo turno, seja com que for. No segundo turno o eleitor vai ter clareza. Seis candidatos confundem muito. Propostas são muito semelhantes, no segundo turno o eleitor tem clareza.
Circuito: Para o senhor, qual será a principal dificuldade do futuro prefeito na administração de Cuiabá?
W.S.: Prefeito Mauro acabou de anunciar que a receita da cidade deve crescer 0% no ano que vem, e afolha de pagamento 12%. Quem tem experiência para gerir isso? É um desafio para o próximo prefeito. Só tem um candidato que passou por essa situação. Foi o Wilson Santos, que pegou a prefeitura em 2005, com 14,5 mil servidores em greve, com salários atrasados, com a cidade há duas semanas sem coleta de lixo, com um governador de oposição. Um drama.
Em 60 dias todos os servidores tinham recebido os salários atrasados há 11 anos, e terminei o ano com R$54 milhões de superávit.
Circuito: E o senhor acredita, que caso eleito, o apoio do governador irá ajudar?
W.S.: Eu não tive a felicidade de ter um governador parceiro. São essas ironias que a política constrói. Eu sempre fui muito amigo da família Maggi, especialmente seu André, patriarca. Ajudei o grupo Maggi a ir para o Amazonas. Em especial para implantar o projeto hidrovia madeira-amazonas. E quando eu e Blairo nos encontramos no cenário político, nós não nos entendemos. Isso só trouxe prejuízo para Cuiabá.
O Wilson que volta tem 55 anos, é avó, e agora com o governador do lado. Que faz muita diferença. Vou te dar um exemplo.
O Mauro Mendes, enquanto estava o Silval Barbosa, ele não conseguiu fazer São Benedito, nem no Pronto Socorro. Só foi o Pedro Taques entrar que ele conseguiu as duas coisas, porque tinha parceiro. Essa conversa de alinhamento é bom, sim. Só fala que alinhamento é ruim quem nunca viveu essa situação. Qualquer prefeito desse País quer ter o apoio do governador e presidente da república. Quem fala que não quer apoio é inexperiente, lunático, utópico. Inclusive na iniciativa privada é necessário parceiros.
Agora, eu vou ter um governador que tem uma dívida enorme comigo. Ele foi me buscar lá em casa, eu tava sossegado. Minha mulher, meu filhos contra, toda a família brava comigo. Então ele tem divida comigo, então não quero cobrar no plano pessoal, eu quero que ele pague essa dívida com Cuiabá.
Vamos terminar junto o Hospital e Pronto Socorro Municipal, as Upas, faremos parceria para que chegue a 100% de asfalto em Cuiabá. Vamos resolver a questão da água junto.
Circuito: Como avalia esse desgaste que teve após o abandono a prefeitura em 2010? Acredita que a população já te perdoou?
W.S.: O Dante de Oliveira tomou posse em 1993, e depois de 15 meses o Dante deixou a prefeitura, e a população votou em massa em Dante para o retorno dele. Quando eu fiz esse movimento, parte dos que votaram no Dante para deixar a prefeitura e ser governador, condenam a minha saída. Eu não consigo entender esse movimento.
Acredito que a população entendeu a minha saída, principalmente depois do governador Silval. Eu dizia na cara dele: ‘Você comanda o governo mais corrupto da história de Mato Grosso. A sua continuidade significa corrupção maior em Mato Grosso’, diz em 2010
Eu sabia quem era Silval, quem o rodeava. E eu tive a coragem cívica de tentar evitar esse mal. O que é pior: o Wilson ter deixado a prefeitura ou Silval governar Mato Grosso?
Circuito: O prefeito Mauro Mendes tem se mostrado resistente em participar da campanha, gerando algumas especulações. Como a coligação e o candidato estão lidando com isso?
W.S.: Sou paciencioso, homem tolerante. 55 anos. De fato o Mauro Mendes está na campanha. Ele liberou todo secretariado que está nos apoiando com medidas concretas. Participando e organizando reuniões, dando depoimentos públicos, adesivando seus carros. Na prática, o prefeito está na campanha. Segundo, todos os 22 candidatos do PSB pedem voto para nossa candidatura. Terceiro, o vice da Chapa é do PSB e foi indicado pelo prefeito Mauro.
O prefeito, e é uma opinião pessoal e eu já disse a ele isso, é o sucessor natural do governador Pedro Taques. Ele deverá ser o próximo governador após Pedro Taques.
Ele fez uma boa gestão, vai para história como um bom gestor cuiabano, imprimiu o ‘modo Mauro Mendes’ de governar. Qualidade nas obras, trouxe princípios da administração privada para a maquina pública. Revelou talentos na gestão pública, então ele está muito bem conceituado perante a opinião pública.
Se ele quiser continuar na vida pública, que um líder só faz omelete quebrando ovos. Ele não pode sob pena de prejudicar um futuro promissor na vida pública, passar batido nas eleições na Capital. Ele é líder, e tem que se posicionar como um. E creio que até o final do segundo turno, essa presença na campanha será ampliada.
Circuito: A ausência dele te entristece de alguma maneira?
W.S.: Não, porque o Mauro não me deve nada. Eu e Mauro Somos muito parecidos. Nós somos migrantes, ele goiano e eu paulista. Somos de uma mesma geração, nascemos nos primeiros anos de 1960. Fomos acolhidos nessa cidade. Iniciamos na vida pública pelo movimento estudantil, o Mauro dirigiu o DCE, e eu o Centro Acadêmico de Direito. Ali abrimos: ele para iniciativa privada, e eu para vida pública. Virei professor, fiz concurso. Agora nós nos reencontramos, depois de 30 anos. Nós tínhamos que nos reencontrar. Ele muito bem sucedido na vida privada, eu razoavelmente bem sucedido na vida pública. E eu torço para que daqui para frente a gente caminhe junto.
Circuito: E o que a “gestão Mauro Mendes” ensinou a gestão pública de Cuiabá?
W.S.: Eu tenho humildade em aprender, e o Mauro deixou ensinamento importantes que farei de tudo para manter. Quero a austeridade dele. Vou concluir as obras do Mauro, avançar no social e vou ser mais popular. A minha natureza é mais próxima da população.
Circuito: Houve uma mancha na sua gestão que foi a Operação Pacenas. Como o senhor esta lidando com esse desgaste?
W.S.: O juiz Julier Sebastião mais alguns políticos influente e importantes no Estado na época construíram a Operação Pacenas. Aquilo foi algo extremamente maldoso, arquitetado friamente para destruir um eminente adversário que havia sido reeleito prefeito, com mais votos que na primeira eleição, e era disparado o líder nas pesquisas para o governador do Estado.
O grupo político que dominava o Governo Estado à época, aliou-se ao juiz Julier e montaram uma operação. Ele me ouviu ilegalmente um ano e meio, e não ouviu uma frase minha comprometedora.
Nós licitamos o PAC. Essa licitação foi anulada pela minha gestão. Fizemos uma segunda licitação onde eu trouxe para dentro o Ministério Público, a doutora Ana Luiza Basdusco participou. Licitação transparente nacionalmente. As empresas que venceram não foram questionadas. Quando nós tínhamos quase 10% das obras, o Julier e esse grupo político detonou a Operação Pacenas. A Operação Pacenas não me prejudicou, ela tirou R$350 milhões, em valores atualizados, do saneamento de Cuiabá.
E a operação foi anulada pela justiça brasileira nas três instancias. Se a operação fosse honesta e decente, por que as três esferas de justiça anulariam a Operação Pacenas? E o juiz tá ai hoje nas pesquisas, lá em baixo, acusado de receber propinas, vender sentença, teve a casa e o gabinete rebuscados pela Polícia Federal. Tá carimbado como malandro.
Infelizmente esse moço, junto com os que governavam a Mato Grosso, deram um prejuízo a Cuiabá de R$350 milhões. Nós podíamos ter hoje, 80% de todo o esgoto coletado e devidamente tratados pelas novas ETEs (Estações de Tratamento de Esgoto). Poderíamos ter 100% de água com cloro e talvez flúor em Cuiabá. Mas Julier Sebastião da Silva, mais os governantes de Mato Grosso impediram sobre isso.
Circuito: O que te credencia a, novamente, ocupar o cargo de prefeito de Cuiabá?
Os próximos quatro anos serão anos difíceis na economia nacional. O Brasil só vai voltar a ter um crescimento sustentável, firme, a partir de 2020. A era das commodites passou. Somos um estado produtor de commodities baratas e a era passou em nível mundial. Governar Cuiabá em uma fase de crise econômica, primeiro, exige um gestor experiente. Segundo, a parceria com Pedro Taques me anima demais. Porque eu não tive, e sei o quanto faz falta, o apoio do governador. Terceiro, eu volto mais maduro. Volto com 55 anos. Eu volto mais pé no chão, sei onde errei. Não vou mais perder tempo com determinadas situações. Vou pular etapas.