Cidades

Acidentes de trânsito fizeram 341 vítimas em 2016

Rafael Ferreira Araújo, 26 anos, faleceu no dia 19 de setembro, após um acidente de trânsito entre um veículo Fiat Palio e a motocicleta que pilotava. O motorista do carro, Wilson da Silva Campos Pinto, de 33 anos, o atingiu ao realizar uma conversão irregular. Além da inflação, ele não tinha a Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Ao sair do trabalho, Rafael seguia em direção ao Bairro Pirineu em Várzea Grande quando sofreu o acidente. Wilson irá responder na Justiça por homicídio culposo na direção de veículo. Pelo teste de bafômetro foi constatado que Wilson não estava embriagado. Ele usava tornozeleira eletrônica no momento do acidente, mas estava desligada e deverá responder judicialmente por isso.

Em Mato Grosso, o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública divulgou que, de janeiro a julho de 2016, já foram registradas 341 mortes no trânsito. De acordo com o Mapa da Violência no Brasil de 2013, Mato Grosso ocupa o 4º lugar em acidentes com vítimas fatais e a maioria das vítimas tem idades entre 15 a 29 anos. Segundo a Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito (Deletran), só em 2016, mais de 70 pessoas já morreram no trânsito em Cuiabá. Em Várzea Grande, já são 35 pessoas.

O Sistema de Registro de Ocorrências Policiais (SROP) revela que, de janeiro a agosto de 2016, 663 colisões envolvendo motocicletas foram registradas em Cuiabá. Em Várzea Grande no mesmo período, foram registradas 199. Comparados ao mesmo período em 2015, Cuiabá registrou 774 e Várzea Grande foram 206.

Em entrevista ao Circuito Mato Grosso, o delegado Jefferson Dias, da Deletran explicou um dia antes do acidente com o Rafael que a maioria dos acidentes acontece pela sensação de impunidade. “O cidadão que é pego dirigindo um veículo de forma irregular, tem que ter a sensação da efetividade das leis. Não é só uma questão de Cuiabá, mas do Brasil todo. A imprudência é vista de uma forma, que ao invés de ser a favor da sociedade, vai contra a família da vítima que perdeu seu ente querido, pois na maioria das vezes, as pessoas não ficam presas”.

Segundo a Deletran, 400 termos substanciados contra pessoas autuadas por dirigirem sem habilitação foram protocolados até o dia 19 de setembro de 2016. “Quando você dirige um veículo automotor sem habilitação qual é a consequência disso? Se você for pego, isso irá gerar um termo substanciado de ocorrência que é encaminhado para um juizado de pequenas causas. Se atropela alguém e essa pessoa vem a falecer, ele é indiciado por dois a quatro anos de cadeia e na maioria das vezes nem fica preso, mesmo sem habilitação”, criticou o delegado.

Maioria é jovem e sem habilitação

Uma comissão de análises de acidentes de trânsito da Deletran levantou que grande parte dos acidentes em Cuiabá e Várzea Grande envolvem jovens e pessoas não habilitadas. Em 2016, a comissão apurou que a faixa etária em relação aos acidentes com morte está indo dos 18 aos 39 anos de idade.

Estudos divulgados em 2010 e 2013 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) indicou que 1,24 milhões de mortes por acidente de trânsito aconteceram em 182 países do mundo. Se nada for feito, estima-se que 1,9 milhão de mortes devem ser registradas em 2020 e 2,4 milhões em 2030.

No último sábado (17.09), o Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso iniciou as atividades da Semana Nacional de Trânsito (SNT) 2016. O tema deste ano é “Década Mundial de Ações para a Segurança no Trânsito – 2011/2020: Eu sou + 1 por um trânsito + seguro”. O slogan da campanha é “Na estrada ou na cidade, seja você a mudança no trânsito”, e faz um alerta sobre a responsabilidade ao volante, uma vez que mais de 95% dos desastres causados no trânsito aconteceram por imprudência dos motoristas.

A história de uma jovem que teve as pernas amputadas

Aos sete anos de idade, Lurdes Soares, sofreu um acidente e perdeu as duas pernas. “Minha mãe era mãe solteira, então os filhos ajudavam em casa. Naquele dia era a minha vez de ir buscar pão. Sai bem cedinho de casa e na volta, já com o pão, fui atravessar a rua e criança né, a gente não percebe muito as coisas. Na hora que atravessei estava vindo um caminhão e ele me atropelou. Fiquei com metade do corpo no asfalto e a outra na calçada”, contou ao jornal Circuito Mato Grosso.

Ela teve que amputar as duas pernas devido à gravidade da lesão. “O motorista precisou dar ré no caminhão para conseguirem me tirar dali. Ele passou duas vezes em cima delas e por isso elas ficaram esmagadas. Naquela época os médicos precisaram amputar as duas”. Lulu, como é carinhosamente chamada, relata que o motorista prestou socorro a levando até o hospital e que a família entrou na justiça para conseguir uma indenização.

“A Justiça até estipulou para que ele pagasse uma indenização na época até o meu último dia de vida, mas ele alegou que não tinha condições. Nós recorremos, mas fomos informados que ele estava foragido e que por isso não poderiam intimá-lo e exigir o pagamento. O juiz disse que se a minha família soubesse do paradeiro dele era para informar, mas como ninguém sabia o caso acabou esquecido”.

Lurdes disse que só foi sentir que a falta dos membros lhe causaria certas limitações quando estava na adolescência. “Na época do acidente eu até gostei, pois na ingenuidade recebia carinho e atenção da família mais aí chegou à adolescência e eu comecei a perceber que a minha condição me limitava em algumas coisas”, porém segundo ela, isso não a impediu de realizar um sonho: ter um filho.

A estudante de administração é mãe do pequeno Deric e disse que não abriria mão da vida que tem, caso recebesse uma chance. “Se alguém chegasse para mim e falasse: eu lhe dou suas duas pernas, mas aí você vai perder tudo que tem hoje. Eu responderia que não obrigada, eu estou bem assim”.

Em sua página no facebook, Lulu Soares, ela compartilha momentos bons e ruins. Em uma foto postada no dia 31 de agosto, ela mostra uma das situações mais corriqueiras na vida de um cadeirante: a falta de acessibilidade. “Eu linda de bonita tentando entrar na Defensoria Pública de minha amada Várzea Grande. #Semrampa, #Semadaptações, #Sembanheiro, #Semespaço. Vou reclamar para quem?”, escreveu na legenda da foto.

Questionada sobre preconceito, Lurdes disse que as pessoas costumam mascarar o preconceito contra pessoas com alguma deficiência. “As pessoas não falam nitidamente que são preconceituosas, pois é terrível você falar para alguém que você tem preconceito com deficientes. Você não escuta alguém falando que a pessoa não gosta de chegar perto de alguém porque ela tem certa deficiência”, finaliza.

O perigo do uso de celular ao volante

Pesquisas realizadas pela Universidade de Utah, nos Estados Unidos apontam que o motorista perde cerca de cinco segundos de atenção ao desviar seu olhar para ler uma mensagem no aparelho celular. Se ele estiver andando a 80 km/h terá percorrido um campo de futebol sem ver o que está acontecendo do lado de fora.

A prática ainda é considerada infração de natureza média e passível de multa no valor de R$ 85,13 e quatro pontos na carteira, porém as leis devem ficar mais rígidas. A partir de novembro, o valor passará para R$ 293,47. O motorista também poderá ser multado no sinal fechado. O uso do aparelho celular, ou qualquer aparelho eletrônico, enquanto dirige tira a concentração e segundo o delegado Dias é nesses momentos em que acontecem os acidentes.

“O condutor não consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo. Enviar uma mensagem, mexer no aparelho de som para colocar uma mídia, coisas feitas em segundos não permitem que você conduza o veículo nesse tempo.”, explicou. O uso do aparelho no trânsito, incluindo falar, ler e mandar mensagens de texto, áudio, ou verificar informações, aumenta em até 400% o risco de acidentes.

Em rodovias, essa situação é ainda mais grave, uma vez que as velocidades são maiores. O superintendente da PRF, Arthur Nogueira, apontou que a cobertura telefônica nas rodovias ainda é pequena então fica mais fácil encontrar motoristas usando aparelhos. “Imagina o perigo que é uma pessoa dirigindo um caminhão ou carreta, a pelo menos 80 km/h e mexendo no celular. É acidente certo”, enfatizou.

Cinto de segurança

Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), pelo menos 20 motoristas são multados diariamente por não usar o cinto de segurança nas rodovias federais de Mato Grosso. De janeiro a julho deste ano, 4.347 multas foram aplicadas pelas cinco BRs que cortam o Estado. 

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Catia Alves

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