Opinião

NÃO SE CURA A LOUCURA DE UM GÊNIO INSPIRADO

Izabel Cristina Cavalcanti Cruz presenteou-me com o selo “Centenário de Lima Barreto”, de 1981. Estudiosa da vida e da obra de Lima Barreto, publicou Isaías Caminha e o mal-estar na civilização brasileira, no limiar do século XX. 

Lima Barreto (1881-1922) produziu um expressivo número de textos publicados em periódicos, romances, sátiras, contos, crônicas que ocupam um lugar especial na estante da literatura nacional. Dentre os livros de Lima Barreto, destaco Triste fim de Policarpo Quaresma, que tem como personagem central Policarpo Quaresma, um funcionário público que trabalha no Arsenal de Guerra e que sofre de “febre patriótica”, um exacerbado orgulho nacionalista.  

Dentre os desejos da personagem está o de resolver os problemas sociais do Brasil e o de eleger o Tupi-Guarani como língua oficial. Proferiu Quaresma: “Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani, língua originalíssima, aglutinante, é verdade, mas a que o polissintetismo dá múltiplas feições de riqueza, é a única capaz de traduzir as nossas belezas, de pôr-nos em relação com a nossa natureza e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos vocais e cerebrais, por sua criação de povos que aqui viveram e ainda vivem, portanto possuidores da organização fisiológica e psicológica para que tendemos, evitando-se dessa forma as estéreis controvérsias gramaticais, oriundas de uma difícil adaptação de uma língua de outra região à nossa organização cerebral e ao nosso aparelho vocal – controvérsias que tanto empedem o progresso da nossa cultura literária, científica e filosófica.”

Quaresma, no tumultuado início da República, foi voluntário na Revolta da Armada por discordar com as injustiças sofridas pelos prisioneiros. Condenado ao fuzilamento, não viu consolidado seu projeto de nação. Quaresma e Barreto acreditaram na construção de um Brasil melhor e combateram, cada qual ao seu modo, o preconceito racial e a discrinação social. Em 1917, Lima Barreto foi internado em um sanatório. Mas, como proclamou em cordel Gustavo Dourado, “não se cura a loucura de um gênio inspirado”.

Anna Maria Ribeiro Costa

About Author

Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.

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