Foto: Valquíria Castil
Com Sandra Carvalho
O ex-secretário da Casa Civil, Pedro Nadaf, está depondo na tarde desta segunda-feira (29) no Fórum de Cuiabá na ação que investiga um esquema de corrupção supostamente encabeçado pelo ex-governador Silval Barbosa (PMDB). Nadaf está preso desde setembro do ano passado. Ele é acusado de cobrar propina para a concessão de incentivos fiscais.
Na audiência de instrução e julgamento que está sendo conduzida pela juíza Selma Rosane de Arruda, da 7ª Vara Contra o Crime Organizado, o ex-secretário está sendo interrogado pela promotora de Justiça Ana Cristina Bardusco e pelos advogados de alguns dos demais réus, que no total somam 17. Logo após o interrogatório de Nadaf, Bruno Saldanha será ouvido.
Acompanhe trechos dos depoismentos:
15h – Pedro Nadaf começa o depoimento afirmando que assumirá todos os delitos que cometeu e pede desculpas a todos os mato-grossenses.
15h12 – "O governador me chamou para angariar recursos para a campanha eleitoral junto ao setor empresarial, e foi aí que se formou esse conjunto que permeira a organização criminosa que passou a atuar em Mato Grosso.
15h27 – Nessa busca para pagar o saldo de campanha, de dívidas, de partidos que ficaram, e a organização pagou a saldar os débitos, e eu fui tomando conhecimento de alguns secretários que faziam parte desta organização direta ou indiretamente, que tinham a mesma função de levantar recursos financeiros para pagar esses débitos. Implicitamente nós tínhamos uma coação para levantar o dinheiro para pagar a dívida e aquilo que era sobra dessa dívida, cada um tinha uma participação do pedaço desse dinheiro de acordo com a sua participação no grupo. Mas a organização estava ligada à Secretaria de Administração, o secretáro de administração tinha uma ascensão sobre as demais secretarias, bem como chefe de gabinete, que era um porta voz do governador diante da organização.Existia um decreto do governador dizendo que transferências financeiras ou processos licitatórios tinham que passar pelo conselho. Existia um ato interno que ele delegava poderes para o Silvio e pra ele para que passasse pelo Condes. Então nós ficávamos dentro do Condes focados em grandes ações como aumentos salariais, duodécimos, quando alguma secretaria dava grandes somas para nós movimentarmos, masas os grandes atos administrativos eram passados para o Silvio. O Silvio passava com esse poder paralelo a despachar com o secretário de Administração a autorização para as licitações e ai ele direcionava aqueles pregões àqueles que iriam dar fruto para a organização. Eu cansei de ver o coronel Cordeiro,o César Zílio e Pedro Elias, chegar com os processos que eram para ser discutidos no Condes levár-los depachos para o Silvio autorizar as licitações dentro daquilo que era interesse. Como também os pagamentos era represados, para que ouvesse o pagamento de propina quando liberasse o pagamento também com a chancela do Silvio.
15h44 – Eu não tive participação de retorno nenhum, porque pós-campanha eleitoral nós estavamos imbuidos de pagar a dívida. Eu, por exemplo, não tinha conhecimento da Consignum. O restante que ficava remanescente do dinheiro pago aos grupos políticos nós rateávamos entre os que iam buscar esses recursos, e que acabava sendo vantajoso. Alguns casos não tiveram retorno, porque tinham que atender demandas políticas… nós sofríamos pressão política por conta de dívidas. O governador coordenava. Como o César disse, o dinheiro era deixado no closet do gabinete do governador… problema político e econômico surgia, nós íamos articulando a saída. O César Zílio foi secretário de Administração para negociar propina. Antes de ser secretário da Casa Civil eu fiz parte do Condes e aí tive contato com ele. Uma vez ele me orientou sobre um contrato de gráfica para buscar recursos ilícitos para pagamento de dívida por meio da adesão a um pregão de gráfica – e já respondo sobre essa improbidade – como é o caso da Intergraf, como também passei pra ele dinheiro de propina na compra de gado. Eu, no final de 2011, a comprar gado com o César, comecei comprando 100 cabeças de gado, aí eu vendia, recomprava com o lucro e grande parte da propina ia passando pra ele comprando gado e até o ano passado cheguei a ter 1273 cabeças. Eu tenho um acerto pra fazer com ele de custeio de pasto.
16h – Para fortalecer a organização criminosa, o governador disse que deixaria o César Zílio de stand by, no MT Par, porque ele poderia dar trabalho, e segundo que haveria uma situação de atender o PMDB e encaixar o Faiad. Sobre o Pedro Elias, ele assumiu em abril de 2014, com a saída do Faiad para ser candidato adeputado estadual, então todos os dias praticamente ele passava na minha sala. E em três momentos ele próprio me relatou também que tinha que buscar propina pra o Rodrigo dentro do mecanismo da organização. No final do governo, pela liberdade que eu tinha com secretários, para que ele arrumasse mais gente para conseguir outras popinas para pagar dívidas, mas também para ter algum retorno financeiro. Aí eu coloquei isso para o Pedro e ele disse que não queria mais se envolver. Então eu quero deixar claro isso. O dinheiro da propina era deixado no closet do banheiro do gabinete do governador, em cima de um cofre, já busquei dinheiro lá para pagar dívida como também já presenciei o Rodrigo receber o dinheiro da propina do próprio pai.
16h12 – Sobre o Riva, ele tinha muitos negócios com o governador e eu inclusive já tive a participação em atos ilícitos. Sobre o caso da Consignum, em junho nós estávamos tratando de assuntos da Assembleia na minha sala e o Riva insistia com o governador para a substituição da Consignum e eu fiz uma ponderação. Riva disse 'vamos mudar aí que vamos colocar outra empresa que vai dar resultado bom pra nós' e Silval disse que iria pensar.
16h28 – Eu tenho pessoas que podem testemunhar as agressividades que ele tinha comigo, o Silvio. Várias vezes ele tratava com certa brutalidade e arrogância alguns secretários como eu e o Elias.