Cidades

Memorial de Marechal Rondon no coração do Pantanal

Um memorial é um conjunto de memórias, logicamente, daquilo que foi vivido. Uma das funções que instituições sociais devem cumprir para preservar a história é criar meios de ter acesso ao passado. O Memorial Rondon, inaugurado nesta quarta-feira (24), no distrito de Mimoso, município de Santo Antônio de Leverger (MT), abre a possibilidade de aumentar as experiências da cultura mato-grossense, merecida homenagem a Marechal Cândido Rondon, Patrono das Comunicações.

Após 15 anos do lançamento do projeto, o centro finalmente fica aberto ao público como referência para estudos da geografia, história e cultura pantaneira e, mais especificamente, do distrito de Mimoso, onde nasceu o militar, que entrou para rol de personalidade como o responsável por conectar a região do Centro-Oeste do País com a costa por meio de instalação de linhas telegráficas.

Descendente de indígena das etnias Bororó e Terena por seus bisavós maternos e Guará bisavó paterna, Cândido Rondon também participou do processo que culminou na proclamação de República do Brasil, na segunda metade do século XIX.  Na liderança da Comissão, Rondon colocou em atividade expedições que adentraram a mata amazônica e conectou Mato Grosso com Paraguai e Bolívia, via linhas telegráficas.

O memorial em Mimoso visa possibilitar a exploração desse passado para melhor entendimento do personagem e Mato Grosso, na participação da formação brasileira. O projeto foi criado em 1997 em um conjunto de dez monumentos que deveriam ser criados em comemoração aos 500 anos de descobrimento do Brasil. O plano era que a obra estivesse concluída para a celebração de 150 anos do marechal, completados no ano passado.

De fato, os serviços de construção começaram em 2001, no governo do falecido Dante de Oliveira, mas dois anos mais tarde foi paralisada. Em 2006, foi planejada uma nova licitação para retomada da obra, o que não aconteceu. Em 2012, à época de lançamento de projeto para a Copa do Mundo, a continuidade de serviços no memorial voltou a ser cogitada; porém, só foi realmente reiniciada em 2015, já na gestão do governador Pedro Taques. A obra ficou orçada em R$ 2,9 milhões.

Com 5 mil metros quadrados, na Baía de Chacororé, Pantanal mato-grossense, o centro tem como referências a sustentabilidade e a cultura indígena. A estrutura foi construída soerguida em palafita para se adaptar à região que passa por alagamento em períodos do ano. O espaço tem formato circular e o telhado com brises 100% de metal que remetem à ideia de ocas indígenas. À noite, a estrutura se destaca pela iluminação de 500 lâmpadas led.

Nas disposições p

ara pesquisa, o memorial tem quatro laboratórios, que, de acordo com o arquiteto Paulo Molina, responsável junto com José Afonso Portocarrero pelo projeto, deverão se tornar ponto de apoio para pesquisadores do Pantanal mato-grossense. “Existem muitas pesquisas sobre o Pantanal, por isso pensamos na construção de laboratórios para que os pesquisadores tenham um ponto de apoio que possa facilitar os estudos”, comenta.

Além dos laboratórios, dois amplos salões na parte superior da obra e dois pequenos auditórios, no térreo, foram pensados para envolver a comunidade local com exposição de artesanato e biblioteca. Um mirante para observação do pantanal também foi criado à estrutura do prédio. O memorial também visa fomentar o mercado turístico da região.

Exposição fotográfica, relatórios, quadrinhos

Uma exposição fotográfica permanente e o primeiro volume de compilações de documentos de relatórios de marechal Cândido Rondon estão dentre o material histórico divulgado na inauguração do centro.

A mostra nomeada “Paisagens de Rondon” foi criada pelo fotógrafo Mario Friedlander e documenta o percurso trilhado pelo militar durante as campanhas exploratórias. Friedlander e sua equipe percorreram 25 mil quilômetros desse caminho, passando por Rondônia, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. As imagens mostram ícones deixados por Rondon em lugares distintos do País e atravessando a fronteira de outros países da América Latina.

Trinta e seis painéis compõem a exposição, que apresenta pontos em cidades como Araguaia, região que concentra uma diversidade de etnias indígenas. Além das imagens captadas por Frielander, “Paisagens Rondon” revela ainda um importante arcabouço de registros iconográficos deixados por Rondon na passagem por estes lugares.

Também foi lançado, na inauguração, o primeiro volume dos relatórios da produção científica da Comissão Rondon. Parte de um projeto de resgate de 86 relatórios, dos 110 produzidos em décadas de trabalho, a obra disponibiliza ao público os estudos e pesquisas desenvolvidos e comandados por Rondon e que foram publicados entre a primeira década do século XX até a década de 1950.

As publicações originais foram encontradas por pesquisadores na Universidade Federal de Mato Grosso, Arquivo Público do Estado, Casa Barão de Melgaço, Biblioteca Pública Estadual Estevão de Mendonça e acervos particulares.

O material digitalizado foi reunido em um livro explicativo, apresentando a trajetória de Cândido Mariano da Silva Rondon, sua capacidade de liderança e preocupação científica e cultural.

Durante a inauguração do Memorial, o Governo do Estado ainda lançou o livro “As aventuras de Rondon”, que conta com a parceria do escritor e quadrinista Maurício de Souza. A obra retrata em quadrinhos a história do mato-grossense e do patrono da Comunicação.

Reinaldo Fernandes

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