Foto Ahmad Jarrah
Atuante na luta sindical há 33 anos, a presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Agrícula, Agrário, Pecuário e Florestal (Sintap), Diany Dias, faz duras críticas ao governo Pedro Taques (PSDB). De acordo com a sindicalista, o governo atual não cumpre com diversas liminares na justiça e acusa: “Antigamente, nós tínhamos um governador que conhecia as leis, mas não sabia do rigor delas. Hoje, temos um governador que sabe das leis, conhece seu rigor, mas sabe das suas brechas”.
Com as eleições para Prefeitura de Cuiabá, o impasse entre governo e servidores sobre o pagamento integral da Revisão Geral Anual ganhou esfera municipal. Recentemente, o Fórum Sindical se reuniu com o candidato Emanuel Pinheiro (PMDB), e teve apoio de diretores, inclusive de Diany Dias.
Ela é presidente do Sintap há 10 anos e começou como sindicalista por influencia da mãe. ”Ela que me mostrou que a luta era a única da gente chegar onde a gente almeja chegar, com união e com a busca da unicidade de uma classe e de um povo”, revela.
Além de presidente do Sintap, Dias atua como Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), e é secretaria Geral da Agricultura Familiar de Santo Antônio de Leveger.
Confira entrevista na íntegra
Circuito Mato Grosso: O Fórum Sindical se reuniu com o candidato a prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PSDB), e em seguida foi divulgado que a entidade apoia sua candidatura. Isso não pode se encaminhar para um racha dentro do Sindicato.
Diany Dias: O Fórum não vai participar da campanha nas eleições municipais. Quem vai participar da campanha é a servidora Diany Dias, não a diretora do Sintap. O apoio que os presidentes do Fórum vão dar ao Pinheiro é em virtude da luta que ele apoiou referente ao RGA. Como eu não tenho condições de parcelar o meu voto, como foi feito com o RGA, eu vou apoiar o candidato Emanuel Pinheiro.
Dentro do Fórum Sindical têm candidatos de todas as chapas, tanto da parte do Wilson Santos, Emanuel Pinheiro, procurador Mauro… Nós não poderíamos fazer isso.
Circuito: O Sintap acusa o governo de não cumprir algumas liminares. Quais são elas?
D.D: A primeira liminar que ganhamos e não é cumprida é em relação a URV (Unidade Real de Valor), nós ganhamos na primeira e segunda estância, e o Governo não cumpre. A segunda liminar é para que a identificação da madeira seja norma. Isso não é prerrogativa de um sindicato, mas nós selamos pela sociedade.
A identificação é importante para que a população saiba que tipo de madeira está comprando e pague um preço justo por ela. Além disso, vetamos o desmatamento ilegal, porque fiscalizamos a origem da madeira.
Antigamente, nós tínhamos um governador que conhecia as leis, mas não sabia do rigor delas. Hoje, temos um governador que sabe das leis, conhece seu rigor, mas sabe das suas brechas. Então, está difícil para que a gente busque que as ações sejam cumpridas, por que ele sempre acha um meio dentro de uma ação para desenvolver e não chega a cumprir.
Circuito: Diany, qual a importância do trabalho sindical?
D. D.: Quando você ajuda uma classe ou determinado seguimento, você ajuda também a sociedade, por que aquele seguimento faz parte da sociedade, faz parte do desenvolvimento de um estado, pais e município. Por exemplo, alguém depende de você, e esse alguém que depende de você, tem outra pessoa que depende dele. No meu caso, tem a pessoa que cuida da minha filha, ela depende de mim, do salário que pago a ela. E tem os filhos dela que depende daquele salário.
Então quando você ajuda um segmento a crescer e esse segmento cresce e automaticamente o seu entorno crescer também. É só através de uma entidade sindical que se pode construir alguma coisa. Porque as mazelas que estão vindo ai são muito grande para o servidor. Como aposentar com 70 anos, congelamento de salários.
Circuito: Há quanto tempo você é presidente do Sintap?
D.D.: Há 10 anos. Eu sou a única presidente que ficou três mandatos consecutivos.
Circuito: E como é ser uma mulher, e presidente, em uma classe de maioria masculina?
D.D.: A luta sindical você vê pelo Fórum Sindical. São 32 carreiras, e apenas três mulheres que estão à frente da presidência. Eu sou vice-presidente nacional da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e a maioria é homem. Já vem da lida sindical de que a maioria dos trabalho foi desenvolvido por homens. Da luta sindical do ABC para cá, nós estamos ganhando espaço sindicalista, mas ainda tímido e calmo.
Mas acredito que as mulheres estão acordando para a política. Afinal, somos quase 60% da população e não chegamos há 10% nos poderes. Mas ainda somos tímidas.
Circuito: O Sintap foi a Brasília recentemente para protestar contra o Projeto de Lei 257. Como foi o enfretamento?
D.D.: O deputado Valtenir Pereira (PMDB) abriu espaço para nós mudarmos o texto junto a bancada do PMDB, que abriu a porta para o Sintap. No dia da votação nós, servidores de Mato Grosso, não estávamos sendo enxergados pelos deputados, porque tínhamos sido barrados. Então nós fechamos a entrada principal do Congresso.
Com isso, convocamos outros servidores que também estavam lá, em torno de 100, que vieram e fizeram a barreira junto conosco. E aí eles passaram a nos enxergar. Tanto que o Projeto de Lei até hoje não foi votado.
Nós somos hoje 2 milhões de servidores públicos no Brasil. Sabe quantos tinham em Brasília ? Não chegava a 200. Então, os servidores ainda não acordaram para ver como esse problema é grandioso.
Circuito: Podemos falar que os servidores de Mato Grosso são referência em união nas lutas sindicais, vide o que aconteceu com a luta para a conquista do RGA?
D.D.: Em 2006, com a criação do Fórum Sindical, os servidores foram se conscientizando da união das carreiras. E nós vemos que hoje tem estados que se inspiram na gente com a criação de Fóruns Sindicais. Nós fomos o primeiro a Estada a criar um Fórum.
Nós, do Indea, somos o primeiro sindicato a ter a carta sindical no nosso segmento, que e da defesa agropecuária. De todos os estados, apenas Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Isso reflete a desorganização da luta sindical.
Referente a esse trabalho desenvolvido, hoje nós temos o melhor salário do país. O que acontece é que a organização sindical dentro do serviço público ainda é acanhada. Não é aguerrida como na iniciativa privada, como os metalúrgicos. Por causa dos cargos, dos apadrinhamentos…
Dentro da nossa base, nós estamos mostrando que a casa dos servidores é o sindicato. Porque, por mais que um líder sindical venha tomar decisões que não agrade todo o segmento, mas a sua casa ainda é o sindicato. E quem está na gestão do sindicato, passa.
Eu busco trazer a união para o Sindicato, por que somos poucos. No Indea são 886 servidores e o Intermat 56, para atender 141 municípios. Somos um órgão enxuto, e temos que ser coesos.
Circuito: Diany, o que foi desenvolvido nesses três meses a frente do Fórum Sindical e como você avalia esse período?
D.D.: O Fórum Sindical é uma tempestade de ideias. Nós estamos com várias ideias de todos os sindicatos, e também com as dificuldades encontradas nos sindicatos. Nós estamos buscando participar da gestão do Governo.
O Governo diz que é um governo transparente, que cumpre leis, e nós queremos de fato que isso aconteça. Porque a prerrogativa de um sindicato é fazer o que? Fazer com que as leis sejam cumpridas no Estado, Municípios, e no ente Federal.
Como coordenadora do Fórum, busco continuar a campanha do dia 29 de julho, que é o golpe com a implantação do Projeto de Lei que divide o pagamento da RGA. Nós vamos continuar com os protestos para não deixarmos cair no esquecimento, e participaremos de outras campanhas também para outros sindicatos.