A relação dos brasileiros com o Estado é material histórico para análises e discussões sempre carregado de ambiguidades sobre paternalismo e liberalismo, autoritarismo e liberdade. E em tempos de crise política, a temática volta e meia aparece como vertente explicativa do desenvolvimento social e político. O escritor Bruno Garschagen, especialista em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Católica de Portugal, vem a Cuiabá neste sábado (20) para ministrar um seminário sobre o assunto no 2º Ciclo de Palestras pela Liberdade.
Com o tema “Por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado?”, o encontro enfocará o debate sobre o atual cenário político do país, marcado pela quebra de imagem de figuras políticas e os efeitos na mentalidade brasileira. Para Garschagen, o conflito tem em substrato um traço histórico de prepotência do Estado, que se infiltra nas mais diversas esferas da vida, e dependência arraigada dos brasileiros da instituição. Duas características fundidas pelo personalismo político.
“A sociedade brasileira deseja ou pede que o Estado seja o grande agente do desenvolvimento social, político e econômico. E mesmo que o serviço público seja ruim, continuamos a pedir que o governo faça mais (e ao fazer mais, faz pior). Se o governo aumenta a oferta atual e a quantidade de serviços estatais também aumenta o gasto e, assim, eleva a carga tributária para financiar a máquina pública. E se formos olhar em detalhes, o aumento dos serviços públicos é muito bom para os políticos (que conseguem se eleger com base nisso) e para os brasileiros que pretendem fazer concurso público (e com isso terão empregos criados e garantidos). Mas, para a sociedade, o sistema atual é um fardo cada dia mais oneroso”, comenta.
Segundo ele, o domínio do Estado e a baixa resistência cultural pela autonomia podem ser percebidos nos grupos não-governamentais que surgem no país e se rendem à “assistência” estatal. “Há muitas ações privadas de cidadania no Brasil. Milhares de projetos sociais espalhados pelo território. E deveria haver ainda mais. O problema é que o Estado assumiu para si muitas das atribuições que antes eram desenvolvidas pela sociedade. E uma parcela dos brasileiros não se sente responsável em ajudar o outro porque, legalmente, é responsabilidade do governo, que, além de tudo, cobra muitos impostos e atrapalha a prosperidade econômica ao criar obstáculos à iniciativa privada”.
Garschagen é autor do livro “Pare de acreditar no governo”, lançada pela editora Record (Brasil. 2015, 332 páginas). O raciocínio se desdobra a partir do ponto histórico da chegada dos portugueses na América do Sul, no século XVI. Passa pela colonização e pelos outros períodos, como a Era Vargas, até chegar ao governo do PT, teorizando essa ambígua relação do povo brasileiro com o Estado.
O 2º Ciclo de Palestras pela Liberdade é realizado pelo Instituto Caminho da Liberdade (ICL). O seminário deve ter início a partir das 17h, no auditório da Câmara de Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL). O ingresso custa R$ 10, e a arrecadação será repassada para instituição de caridade a ser escolhida pela CDL através do seu projeto CDL Social.