Cidades

Upa e unidade da família devem trabalhar integradas, diz Júlio Muller

Fotos: Ahmad Jarrad

Mais do que uma estratégia de Estado para o desenvolvimento de uma nação, saúde é um bem essencial. O Brasil, pioneiro num modelo que atenda seu grande contingente populacional gratuitamente, ainda patina com o Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o secretário de saúde da gestão Dante de Oliveira em Mato Grosso (1995-2002), Júlio Strubing Muller Neto, um dos problemas enfrentados pelos gestores é a falta de integração entre as redes, como as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e os médicos de família.

Júlio recebeu a equipe do Circuito em seu apartamento em Cuiabá. Médico aposentado, o ex-gestor público conhece como poucos as políticas de saúde e os principais projetos que já deveriam estar em funcionamento para atender a população. Questionado se a construção das UPA’s, realizadas em parcerias com o governo federal, poderia substituir o trabalho dos médicos da família, ele é taxativo, ao dizer que a saúde da família é a grande solução para o sistema de saúde. Porém, o especialista não diminui a importância do pronto atendimento.

“Saúde da família, atenção básica, é a grande solução para o sistema de saúde em geral. A questão, entretanto, não é a escolha entre um e outro. O problema que ainda não conseguimos superar é a falta de integração na rede”, analisa.

O ex-secretário de saúde afirma que o modelo de saúde da família – que segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é definido como o “acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada onde são desenvolvidas ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais frequentes” -, é a solução que permite enfrentar os desafios do futuro, entre os quais, o envelhecimento da população, o aumento de patologias crônicas etc.

Júlio Muller, no entanto, reconhece que a saúde da família não é o remédio para todos os males. Ele afirma que o atendimento e os benefícios deste recurso, peça chave na atenção básica, deve ser complementado por especialistas como psicólogos, cardiologistas, e demais profissionais que possam contribuir na resolução de demandas específicas, ponderando que a importância do trabalho em rede, que una esses dois paradigmas de atenção a saúde, deve ser priorizado.

“Os especialistas do pronto-atendimento devem fazer um trabalho integrado com os profissionais da saúde da família que, por sua vez, são a base de um sistema capilarizado nos bairros e nas cidades”.      

 

“Falaram para eu tampar o sangramento para não sujar o corredor”

A população que depende do Sistema Único de Saúde conhece muito bem as deficiências de um sistema que possui o mérito de prover atendimento a todos indistintamente, mas que sofre pressão de grupos econômicos e políticos que se beneficiam da precarização dos serviços. Para contar um pouco a história do dia-a-dia dessas pessoas, o Circuito Mato Grosso visitou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Morada do Ouro, em Cuiabá.

Na tarde abafada da última quinta-feira (11), a equipe do Circuito se depara logo na entrada da unidade de saúde com uma jovem mulher na cadeira de rodas, enfaixada na perna direita na altura do tornozelo. Juliana Luiza Martins Rocha, de 23 anos, havia sofrido um acidente de moto na noite do dia 10 de agosto, quarta-feira. Sangrando muito, ela buscou por atendimento na Upa Morada do Ouro, e ficou chocado não só por não conseguir se consultar, mas pelo que ouviu de um dos funcionários.

“Cheguei a noite sangrando muito e precisava de atendimento. Não consegui falar com nenhum médico e ainda tive que ouvir para eu ‘tampar’ o sangramento para não sujar o corredor. Só hoje me atenderam”, diz ela.

Próximo da entrada da Upa, conversamos com o motorista Jesse Junior. Ele afirmou a equipe que estava há quatro horas esperando pela consulta pois quando se dirigiu a unidade de pronto atendimento, na terça-feira (09), “aplicaram apenas um injeção depois que esperei mais de cinco horas. Mas não ajudou, minha garganta continua ‘trancada’”

Maria José Duran, de 66 anos, é outro retrato do drama dos brasileiros que recorrem ao SUS. Beneficiária do INSS, com depressão, ela esperou por cinco horas em virtude de uma alergia na cabeça, e não conseguiu ser atendida. Seu filho, o vendedor Sérgio Carlos de Oliveira, indagou a equipe do Circuito: “se uma senhora de 66 anos com depressão não é prioridade no atendimento, então quem é?”   

Diego Fredericci

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