Cidades

Os filhos que não comemoram o dia dos pais

Neste domingo (14) comemora-se o Dia dos Pais que foi criado para fortalecer os laços familiares e por respeito por aqueles que nos deram a vida. Porém, muitos filhos deixaram de comemorar a data por que já perdeu o pai ou por algum motivo não mantém mais contato. Para essas pessoas a data é marcada de outra maneira.

A jornalista Julyenne Nogueira, 22 anos, não vê o pai há cinco anos. Após a separação dos pais, ela e a mãe de mudaram do Rio de Janeiro para Cuiabá. Ao jornal Circuito Mato Grosso Julyenne disse que até tentou manter uma relação com o pai, mas ele não aceitava a escolha da filha em morar com a mãe e isso acabou afastando os dois.

“Tenho notícias dele quando falo com minhas irmãs mais novas ou pela mãe das meninas”, contou Julyenne. Desde então o dia dos pais é lembrado com declarações a sua mãe, que passou a representar também a figura de pai. “Nas festinhas do dia dos pais ela que participava, eu fazia as lembrancinhas e entregava para ela. Minha mãe jamais deixou que eu sentisse que era diferente por não sermos a família tradicional que antigamente pregavam tanto”.

A psicóloga Eluise Dorileo, explicou em seu artigo “A influência do Pai em nossas vidas”, que na vida moderna muitas famílias não têm a presença do pai e a função acaba sendo assumida pela mãe. Ela cita que em alguns casos o pai existe, mas não tem papel relevante e que essa ausência pode influenciar de forma decisiva a vida do filho.

Sobre a falta da figura paterna, Julyenne disse que em nenhum momento sentiu a falta. “Eu acho lindo a família que tem o pai e a mãe, mas não trocaria o vínculo, a parceria e a mulher que ela [mãe] me fez ser por ter me criado sozinha”, afirmou.

Em conversa com o Circuito Mato Grosso, Eluise explica que enquanto ‘mamíferos’ todos nós precisamos do triangulo: mãe, pai e filho. “A mãe nos da à vida e o pai nos leva para a vida. Essa é a teoria do alemão teólogo e psicoterapeuta Bert Hellinger de embasamento da constelação familiar”.

A única lembrança é uma foto

“No dia dos pais, especialmente, fico melancólica. Sobrevivi e vivo sem ele, mas o vazio de sua ausência nunca será preenchido”, é assim que Sandra Carvalho, 49 anos, lidou com a perda do pai que ela não chegou a conhecer. Vítima de um acidente com arma, Manoel Ramos de Carvalho, morreu em 1967, quando Sandra tinha apenas oito meses de vida.

“Éramos cinco irmãos e a filha mais velha tinha 11 anos. Minha mãe, que era costureira, assumiu sozinha a criação dos filhos e com muito trabalho, dia e noite, nos sustentou, ensinou o caminho do bem e que é pelo trabalho que construiríamos nossas vidas. Ela fez tudo o que pode para suprir a ausência do nosso pai. Não o conheci, mas sinto muita saudade, muita falta”, relatou Sandra, que hoje faz as vezes de pai e mãe com seus filhos.

Segundo a psicóloga Eluise, o pai existe dentro do DNA da criança independente de onde ele esteja. “As pessoas precisam entender que elas trazem o pai dentro delas e aceitar o jeito como aconteceu à perda ou o rompimento da relação entre eles é uma forma de aceitar sua história. Quando você aceita há uma libertação de um emaranhado de coisas”.

Com a perda precoce do pai, Sandra disse que achou que dever criar uma ‘casca’ para se defender e que por isso cresceu firme e capaz de resolver desde um problema de fiação elétrica em casa até enfrentar sozinha os problemas mais difíceis. “Penso que talvez eu não tivesse passado por alguns problemas se ele estivesse por perto. Sei que não seria bem assim, mas é tipo um sentimento de que ele poderia ter me protegido de algumas surpresas da vida”.

Em seu artigo, Eluise explica que esse sentimento proteção não se trata de uma necessidade real, mas da necessidade neurológica e/ou biológica da simples presença. “O pai pode estar distante fisicamente, mas o campo que une a família faz com que eles estejam ligados ou energeticamente vinculados”.

Seis anos sem o pai

O garçom, Evandro Miranda Caldas, 32 anos, perdeu o pai há seis anos, mas a primeira perda do vínculo foi quando os pais se separaram após 26 anos de casados. “Meu pai não aceitava que eu fosse homossexual, então acabou se separando da minha mãe por causa disso”, contou.

Doente, o pai de Evandro acabou falecendo tempos depois da separação e o dia dos pais para se tornou ainda mais difícil. “É uma data difícil né, mas acaba que minha mãe supri a falta que tenho dele”. Desde criança, Evandro sempre teve uma ligação mais forte com a mãe, já o pai era mais ligado com as irmãs.

Eluise explica que o pai nunca vai deixar de ser pai porque foi embora ou porque morreu, mas que depende de cada pessoa lidar com isso. “É preciso estar aberto para resolver as coisas que estão no nosso inconsciente para seguir nosso caminho no nosso papel de filho”, pontua a psicóloga.

 

Catia Alves

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