O mundo que você vivencia é filtrado por várias peneiras construídas ao longo do tempo e o que passa por elas é interpretado. Gosto de chamar essas construções de peneiras de mundo interno. E quanto do seu mundo interno você conhece? Você já parou para iluminá-lo e descobrir o que é guardado lá dentro? Como funcionam seus pensamentos, desejos, emoções? De onde surgem seus hábitos e padrões? Os ingredientes que compõem o prato de nossa existência surgem momento a momento, e você já se perguntou quanta coisa acontece em um momento? Células movem-se para lá e para cá fazendo todo o seu corpo funcionar, seu cérebro interpreta os estímulos que permeiam o corpo através dos sentidos e conexões cerebrais são criadas, pensamentos, emoções, cheiros, temperaturas, cores.
Qual a cor que colore seu olhar quando você come uma pizza?
Como está sua qualidade mental quando o desejo por chocolate vem?
Qual o primeiro pensamento que surge quando no prato tem jiló e quiabo?
Criar intimidade com nossos processos internos é aprender mais sobre como operamos no mundo em que vivemos, descobrindo como esses mesmos processos refletem em todas as ações que praticamos, principalmente na nossa relação com a comida.
Comer é uma atividade que está presente na maior parte de nossa existência.
Quando estamos felizes saímos para comer e celebrar. Quando estamos tristes normalmente nos refugiamos em algo que traga conforto. Temos uma conexão profundamente emocional com os alimentos: um bolo quentinho pode ser motivo de lembranças ternas da infância e, para alguns, um simples quiabo é um gatilho que dispara nojo ou repulsa.
Será que estamos totalmente presentes nestes momentos?
E qual a importância de estar presente?
Pensando sob o aspecto celular, uma alface ou um McDonald´s vai servir como combustível, matéria prima e alimento para milhões de células, glóbulos e tecidos dentro do seu corpo. Pensando assim, você é o que você come, absorve, transporta, logo o que você comer irá tornar-se parte do seu corpo, da sua mente, de todo esse sistema incrível que te dá suporte.
Ter consciência desse milagre é estar presente. E estar presente é um modo natural de meditar.
Entender e experimentar o momento, degustando um bom café, uma salada fresca ou hambúrguer suculento, tudo é exercício.
Uma prática bem fácil de incorporar na rotina a fim de nos familiarizarmos sobre nossa relação com a comida é o “comer consciente” ou mindful eating, uma técnica simples que está presente em todos os programas de mindfulness.
O mindful eating é uma prática que vem crescendo ao redor do mundo, entrando na rotina de gigantes como o Google, que instaurou um dia da semana de seus funcionários reservado para o comer consciente e em silêncio. E é muito simples.
Escolha com atenção e consciência cada alimento que será colocado no seu prato e sente-se confortavelmente, nos ísquios e com a coluna ereta e relaxada na cadeira. Pegue seus talheres e corte o que for necessário cortar, repouse garfo e faca após cortar os pedaços.
Faça três respirações conscientes e pegue a primeira garfada, antes de colocar na boca olhe, cheire, passe um pouco nos lábios para sentir a temperatura, percebendo todos os impulsos no estômago, pensamentos que surgirem, emoções, percebendo e permanecendo presente para a experiência.
Com o alimento dentro da boca, ainda sem mastigar, gentilmente, repouse as mãos no colo permitindo que um relaxamento inato surja. Mastigue uma vez, e depois mais uma, bem devagar, percebendo mudanças na textura, sabor e os impulsos de engolir que podem surgir. E somente engula quando não existir nada mais para mastigar. Faça novamente, e novamente. Abrindo-se para a gama de fenômenos que podem surgir na experiência.
No fim da sua refeição perceba como sente seu estômago. E como se sente num todo, isso pode ser feito com qualquer alimento, desde uma fruta, até um vegetal, até aquele hambúrguer delicioso do fim de semana.