Pai. Faz dias que queria te escrever. Só que nesta vida, a gente sempre acaba deixando coisas importantes para depois. Temos essa mania. Por aqui, estamos cheios de novidades. Semana passada estreei mais um filme, aliás todos se lembraram do senhor, mas isso não tem muita relevância: Vem aí mais um netinho para você. Não sabemos se é menina ou menino, mas se chamará ou Franscisco ou Lola. Até comentei que você não ia gostar de Lola, mas quem sabe até lá não mudo o nome para Dalila. Ê minha avó Dalila. Que saudades. A saudade às vezes aperta de um tanto que corro para o telefone e ligo pra você. Volta e meia entro no seu face, pra ver se está tudo bem. As crianças são demais. Joãozinho cada dia mais esperto, sempre comenta de você, com muita alegria. Pode ficar orgulhoso do seu neto. Ele já é grande pessoa. Maria, cada dia mais bonita. Parece uma boneca de porcelana. Já fala tudo na linguagem dela. Minha mãe já voltou a pescar, vai se aposentar finalmente! Flor continua fazendo mágica com as finanças e com as crianças. Mas sabe, véio, tá dando medo. Algumas notícias não são tão boas. O povo aqui na terra parece que está enlouquecendo. Estamos vivendo uma tensão pré-guerra, só não vê quem não quer. Coisas que nunca imaginaríamos que voltasse a acontecer, estão voltando com força total. Até o nosso Inter, está voltando a ser time ruim. Quanta falta você faz pra ele. Quando o Inter ganhava era fato, segunda perto da hora do almoço, você me cutucava:
– E aí Orelha…. dormiu ontem, né?
Ninguém nunca mais me chamou de orelha. O último jogo que vimos foi contra o Galo. Nunca mais conversei com ninguém sobre o Inter. Acho que o melhor de tudo que eu posso escrever para você, é que além de todas as dores, eu perdi o meu melhor amigo, o cara que me deu ajuda em todos os momentos. E Deus, ah sim, Deus sabe o quanto eu agraço por isso.
Te amamos pai.
PS: Tenho que dar o braço a torcer: o pé frio era eu.