Acabo de furar mais um sinal vermelho. Desde garoto adoro fazer roleta-russa. Principalmente na Avenida da Prainha. Quanto mais movimentada, mais adrenalina. Olhei no retrovisor do carro e me vi adulto: gordo, barba por fazer, rugas. Simplesmente decadente. Quanto mais se vive, mais perto da morte. Não sei se era reflexo de mim mesmo, ou se era reflexo dos nossos sentimentos. Sentimentos obesos que pesam as juntas da esperança. Sentimentos que fazem a gente estar onde está. E do jeito que está. Aliás, é impossível dizer onde estaremos daqui….
Uma mão frenética me acorda. Ufa, pensei. Que sonho doido. Abro os olhos está Joãozinho sentado ao meu lado na cama:
– Papai… papai!!!!!!!!
Balbucio palavras com a lerdeza de quem estava em sono profundo:
– Oi filho….. o que aconteceu? Fez pipi na cama?
– Claro que não, né Pai! Preciso trocar uma ideia com você.
Por um segundo fiquei preocupado. O que faz um ser inteligente, no alto dos 7 anos , acordar seu pai às 3 da matina.
– O que você faz na vida mesmo, papai?
Nesse momento enchi o peito. Crianças geralmente têm seus pais como heróis. Na real chega a ser um reflexo da boa educação que a gente proporciona. Afinal, trabalhamos duro para que nossos filhos se reconheçam na gente e, no meu caso, continue minha árdua batalha em frente a nossa empresa.
– Papai é publicitário e cineasta.Papai tem mais…..
-Ih… então papis, não quero ser nem publicitário e nem cineasta. O senhor trabalha muito!
– E por que você me perguntou isso a essa hora?
– Pra não esquecer né! Você me disse pra te falar tudo que eu achasse importante.
Boa noite papai.
Joãozinho sai do quarto e fecha a porta. Virei pro lado. Claro que não consegui mais dormir.
