Cidades

Servidores deflagram greve e vão às ruas por direito constitucional

Fotos Ahmad Jarrah

"A maior greve de servidores que já vimos”. A frase era dita com recorrência por diversos servidores do Estado na tarde de terça-feira (31). Como continuação da manifestação feita no primeiro dia de greve geral dos servidores, às 7h desta quinta-feira (2), os servidores irão novamente às ruas. Desta vez, convocados pelo Fórum Sincal, a manifestação pretende sensibilizar a população da causa dos servidores.

A passeata terá início na praça Ulisses Guimarães (em frente ao Shopping Pantanal), indo em direção a cidade de Várzea Grande. Às 16h da tarde os servidores vão se reunir em frente a Secretaria de Gestão (Seges) para um encontro com o governo Pedro Taques (PSDB). 

No primeiro dia de greve geral (terça-feira) dos servidores do estado de Mato Grosso, foram às ruas 10 mil pessoas – segundo os sindicalistas, e 5 mil pessoas, segundo a Secretária de Segurança pública –  protestar contra o não pagamento integral da Revisão Geral Anual. O protesto, organizado pelos profissionais da educação e alunos das escolas estaduais contra as parcerias público-privadas, ganhou força com o apoio de várias categorias que se uniram e marcharam pela Avenida Historiador Rubens de Mendonça (do CPA) até o Palácio do Governo. Eles exigem o pagamento integral de 11,27% da Revisão Geral Anual (RGA), conforme legislação estadual. 

Contudo, o Governo se reservou a apresentar proposta de pagamento de apenas 5% da RGA em duas parcelas. Sendo a primeira de 2% em setembro e a segunda de 3%, em janeiro de 2017. Os sindicalistas não aceitaram e apresentaram contraproposta de pagamento total da RGA parcelado, desde que a última parcela figurasse ainda em 2016.

Uma reunião entre governo e sindicatos está marcada para esta quinta-feira (02) no auditório da Secretaria de Estado de Gestão (Seges), no Centro Político Administrativo, em Cuiabá.

Professor de filosofia de uma escola em Sinop, há 29 anos servidor do Estado, Olmiro Müller era um dos representas das mais de 15 cidades do interior do Estado. "Fico muito feliz em participar do Sintep e desta manifestação. Não via os servidores unidos assim por uma causa há tempo", revela. 

Todas as 32 categorias de servidores públicos estaduais que fazem parte do Fórum Sindical (representante maior do funcionalismo público), cruzaram os braços e voltarão ao trabalho apenas quando o Governo fizer o pagamento integral.

Presidente do Sindicato dos Trabalhados do Ensino Público (Sintep) de Mato Grosso, Henrique Lopes

“O governo tem que assegurar a integralidade da RGA, e caso faça qualquer parcelamento, que seja feito dentro do exercício de 2016, e não haja perda de direitos financeiros aos trabalhadores, até porque o governador se intitula legalista. Como todos os servidores, esperamos que esta greve termine o mais rápido possível. Nós, da educação, ainda queremos que o Governo apresente um calendário para realizar o concurso público. Nós temos mais de 60% dos servidores contratados temporariamente. Além disso, o governo afirma que não irá manter as PPPs do modo como foi proposto. Se é verdade que ele não quer privatizar a educação, principalmente nos setores de serviço que são desenvolvidos por profissionais da educação, o primeiro passo é elaborar um calendário do concurso público. Queremos dialogar isso com o Governo”.

Presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE) de Mato Grosso, Vinícius Brasílino

“Já são 16 escolas ocupadas em Mato Grosso contra as PPPs. Acreditamos que esse processo de PPP é um processo maldoso com a educação de Mato Grosso. O Governo do Estado está tentando, com discurso bonito, dizer que vai construir escolas com esse processo, quando na verdade irá entregar a gestão das escolas – que por lei é uma gestão democrática – para a parceria público-privada. Esse processo precariza cada vez mais a educação. O secretário [de Educação do Estado] Marco Marrafon fala das parcelas, mas não fala quantos anos essas empresas ficarão na gestão das escolas, que pode ser de 5 a 35 anos. Imaginem quanto essas empresas vão lucrar com nossas escolas. Acreditamos que o movimento tende a crescer e mais escolas aderirem à greve. E esperamos que o governo Pedro Taques recue e venha fazer um debate real sobre a educação no Estado”

Secretário Geral do Sindicato dos Servidores Penitenciários (Sindspen), Ademir da Mata

“Os servidores todos estão aderindo à greve. Nós estamos descontentes com toda essa desvalorização do Pedro Taques com o servidor penitenciário – como com todas as categorias. Essa mobilização está sendo uma resposta à forma como ele está tratando os servidores do estado de Mato Grosso. Aqui [na manifestação] são mais de 10 mil pessoas, e você vê que a insatisfação é de 100% com o modo de gestão do governador Pedro Taques que não cumpre aquilo que é direito – que está na Constituição, e não que pagar [RGA]”.

 

Presidente do Sindicato dos Servidores do Detran (Sinetran), Daiane Renner

“Estamos vivendo um momento histórico, em que toda classe de servidores públicos e estudantes se uniram em defesa ao direito básico assegurado por nossa Constituição que é o RGA. Todas as unidades do Detran do Estado aderiram à greve. O governo simplesmente impôs o parcelamento ilegal do RGA, e esse ano o ataque é maior, com a esperança de que não houvesse uma reação dessa magnitude que o funcionalismo mostrou que é capaz de fazer”.

 

Presidente do Sindicato dos Servidores Públicos da Saúde e do Meio Ambiento (Sisma) de Mato Grosso, Oscarlino Alves 

“Nós estamos há mais de 14 anos sem concurso na Saúde Pública. As OSSs gastando mais dinheiro e com pouca efetividade, e o povo morrendo em nossas mãos. Nós trabalhadores virando usuários do sistema, tomando medicamentos antidepressivos para poder trabalhar. E agora, a terceirização de forma indeterminada. O não pagamento da RGA foi a gota d’água. Mexeu no nosso bolso, nós somos os filhos pródigos deste governo, carregamos esse governo e o Estado de Mato Grosso nas costas. Deveríamos ser tratados como no discurso de campanha: que nós seriamos considerados e valorizados, pois somos o patrimônio do Estado de Mato Grosso. Hoje, o patrimônio está na rua. Deixe as máquinas e os computadores sucateados funcionando sozinhos. É nesse momento que o trabalhador mostra sua força. Estamos aguardando o posicionamento do governo e estamos abertos ao diálogo sempre. E vamos fazer a 7ª reunião com esse governo, e não 103 reuniões como ele diz”

Coordenador da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) de Mato Grosso, Wagner Oliveira

“Chegamos a um momento em que o Governo precisa ter um pouquinho de maturidade e sensibilidade política, e entender que ninguém é contra o Governo e, sim, a favor de um direito que é inalienável e não podemos dispor desse recurso. Está faltando uma gestão pública mais efetiva e organizada. Nós cuidamos do tesouro e da contabilidade do Estado de Mato Grosso, e sabemos que exigente um contingente de financiamento que estão querendo fazer à custa dos salários dos servidores. Nós não conseguimos entender até agora é qual mensagem política que esse governo está querendo passar com essa intransigência, porque o servidor está unificado. Estamos exaustos desta mobilização, queremos apenas que ele cumpra um direito. Nós demos todas as formas possíveis de parcelamento para ele se organizar, mas ele não quer negociar. Não abriremos mão dos 11,28%. É direito constitucional, se abrirmos mão disso, estaremos dando dinheiro para o governo. É o governo fazendo graça com o chapéu alheio”

Cintia Borges

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