Fotos: Raul Bradock
Estudantes da rede estadual de ensino ocuparam a Escola Estadual Elmaz Gattas Monteiro, localizada no bairro Ipase, em Várzea Grande, desde a noite deste domingo (22). A temperatura mínima registrada na madrugada desta segunda-feira (23) foi de 14° graus, segundo o site Climatempo, porém os alunos tiveram ajuda da sociedade e de professores que se sensibilizaram com a causa, doando alimentos, cobertores e colchões para os estudantes que pernoitaram dentro da instituição.
O movimento segue a linha de outras grandes cidades no âmbito nacional e está, além de outras coisas, diretamente ligado ao escândalo de corrupção (Operação Rêmora) ocorrido na Secretária de Estado e Educação (Seduc) e do Projeto de Parceria Público-Privada (PPP).
Segundo o vice-presidente da Associação Mato-grossense dos Estudantes (AME), Gabriel Henrique, em momento algum os projetos proposto pelo governo, como a PPP e a unificação dos uniformes foram apresentados para os alunos e sociedade.
“A gente só vai sair daqui quando o governo voltar atrás com esse projeto de PPP e quando a CPI da educação for aprovada. Foi muito difícil ontem [Domingo] por conta do frio, nós procuramos fazer algumas atividades pra poder esquentar, mas isso mostra que os jovens estão preocupados com a educação e que de certa maneira estão politizados e entendem que a educação é a única forma de transformar o mundo”, afirma Gabriel Henrique.
Gabriel elenca os principais desafios do movimento, mas se mostra convicto nos ideais propostos pelos alunos. “O diretor ainda não liberou a cozinha pra gente, não temos perspectiva de como faremos o nossas refeições, mas se tiver que fazer um fogão a lenha no meio da quadra, nós faremos. Ontem, nós ocupamos e comemos pão. A comunidade está ajudando bastante, já recebemos algumas doações de alimentos, e alguns professores trouxeram colchões e cobertores pra gente. Essa é só a primeira de muitas escolas, a gente acredita que muitas outras irão entrar no movimento”, ressalta.
Para Gabriel, os pais dos alunos aceitaram a iniciativa de maneira tranquila, e conta que os próprios estudantes estão conscientizando os pais sobre o tema.
Sintep-MT
A diretora do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de Mato Grosso (Sintep), Leliane Cristina Borges, esteve no local representando o sindicato e dando apoio aos estudantes. “A União dos Estudantes percebeu o quanto é danoso a privatização do ensino público em Mato Grosso, pois ela terceiriza uma empresa que vêm cumprir as funções da escola de forma mecânica e a escola é um lugar de humanização. Nós somos totalmente contra a privatização, porque ‘precariza’ o trabalho dentro da escola”, afirma.
Segundo a diretora, os estudantes não se organizaram direito para a ocupação e agora estão precisando do apoio e compreensão da sociedade. “Eles vieram para a ocupação da escola e não pensaram nos recursos, a gente está ajudando nessa logística, como a alimentação, por exemplo. Agora eles estão preocupados porque estão com fome, e nós estamos aqui para articular essas necessidades juntamente com a sociedade. Nós que somos educadores temos a responsabilidade de cuidar dos nossos alunos, seja no âmbito estadual, municipal ou federal”.
“Nós estamos lutando pela educação porque ela tem um papel muito grande na sociedade. A escola pública tem muito mais sucesso que insucessos, o que faz o estudante evadir é a falta de recursos que se dispõe para o aluno. Muitas vezes o professor só tem saliva e giz para trabalhar quatro horas com o aluno”, finalizou Leliane.
Posição de professor
A reportagem do Jornal Circuito Mato Grosso conversou com uma professora da escola, Elizete Gonçalves dos Santos, que leciona a disciplina de química há cerca de um ano na instituição. Ela exalta a posição dos estudantes e fala a respeito dos professores, do movimento dos alunos e do seu sentimento como docente.
“Maior parte dos professores é a favor da ocupação, porque a gente vê que a maioria das pautas está condizendo com aquilo que a gente também está lutando. Eu estou super feliz porque esse é um momento ímpar, é um momento pra gente colocar a democracia em pratica e entender o poder da juventude, porque eles estão fazendo política e eles esse direito de discutir, pra gente sair dessa falsa neutralidade, a gente tem que se posicionar, esses estudantes estão dando exemplo para nós adultos, professores e pais. Eles estão lutando por uma escola pública de qualidade, que haja democracia na prática, não só na fala. A gente tem que apoiar o movimento porque é um momento louvável pra história de Várzea Grande e de Mato Grosso”, explicou a professora.
Colegiado de Diretores de Cuiabá e Vale do Rio Cuiabá (CDC)
O presidente do CDC, Dimas Antônio esteve no local convidando os representantes do movimento para uma reunião na manhã de terça-feira (24), no Colégio Estadual Presidente Médice, às 8h com o MT Participações e Projetos S.A (MT PAR). A reunião conta com diretores de 11 escolas de Cuiabá e 15 de Várzea grande que estão na pauta da privatização.
Antônio disse estar confuso sobre o que é mais importante a ser discutido. “Nesse momento eu não sei nem o que é mais importante, se é a reposição do Reajuste Geral Anual (RGA) ou a questão da Parceria Público-Privada (PPP), porque isso vai afetar diretamente o andamento das escolas. E a nossa opinião é que essa parceria não vai dar certo, assim como nunca deu em nenhum lugar aqui no Brasil”, critica.
O presidente do Colegiado de Diretores também comentou a respeito da atitude dos alunos. “O movimento dos alunos é pacífico, não estamos vendo baderna nenhuma e nem autoritarismo. Conversei um pouco com o diretor e parece que ele está muito ‘adoentado’ mas ele entende o movimento e a situação. Isso é válido, já aconteceu em outras cidades, acho que tem que surtir efeito. Nunca imaginei que a gente pudesse trabalhar em uma escola pública em que a merenda e privatizada, o vigia é privatizado, a limpeza é também. Em fim, acho que isso não daria certo” finalizou Dimas
O Governo
Ainda na manhã desta segunda-feira (23) o governador Pedro Taques (PSDB) confirmou o remanejamento do secretário de Estado de Planejamento, Marco Marrafon, para a Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (Seduc). Eles visitaram algumas escolas da Capital e na ocasião, Taques comentou a respeito da PPP.
“O que vamos fazer é reformar as escolas como aquilo que se denomina de PPP, que são Parcerias Público-Privadas. O diretor de uma escola não tem que ficar perdendo seu tempo com pintura de escola, com banheiros que precisam de reforma ou da falta de acessibilidade. Quando tratamos das PPPs, queremos que os gestores tenham mais tempo para os alunos, com atenção e intensificação do processo pedagógico”, comentou.
Marrafon falou sobre os desafios em assumir a maior secretaria do Estado em questão de orçamento e em número de servidores.
“Foi com muita honra e coragem para enfrentar o desafio dado pelo governador Pedro Taques e fazer aquilo que é minha vocação: trabalhar o ensino e pensar o novo na educação, construída a partir de bases inovadoras”, disse.
Marrafon disse que o Governo trabalha intensamente com a realização de Parcerias Público-Privadas para construir 31 escolas e reformar outras 45, permitindo a ampliação da rede com mais 40 mil vagas.
Ele enfatizou que as empresas contratadas não trabalharão com ensino, mas apenas na parte estrutural dos prédios escolares. “Ao final da operação, a iniciativa privada devolverá a estrutura para o Estado, fazendo o processo inverso da privatização”, pontuou.