Foto Elis Freitas
As mulheres que desejam parir em Cuiabá atualmente têm uma opção a menos. O Hospital São Mateus, em Cuiabá, fechou as salas de cirúrgicas que disponibilizavam para parto humanizado.
De acordo com o obstetra, Victor Rodrigues, o Hospital o comunicou que não permitiria mais a prática de parto humanizado, justificando que as mulheres, devido às dores do parto, gritavam em demasiado e estariam atrapalhando o repouso dos demais pacientes internados na ala. O comunicado foi feito por meio de reunião entre o Hospital com o obstetra.
Em nota, o hospital explicou que “não tem ambiente apropriado para realizar partos humanizados”. E diz que os partos feitos em quartos sem o suporte pode “colocar em risco a segurança da mãe e do recém-nascido”.
O Hospital esclarece ainda que “os partos humanizados exigem todo um ambiente preparado conforme normas do Ministério da Saúde. Os partos normais e cesarianas estão sendo realizados no centro cirúrgico normalmente pela entidade hospitalar. Ressaltamos que Cuiabá possui outras três instituições hospitalares devidamente equipadas para atender esse tipo de parto”.
A instituição informou ao Circuito Mato Grosso que, por entender que outros hospitais disponibilizam suítes adequadas às gestantes, não pretende se atualizar. “A maioria dos hospitais se prepararam ao longo do tempo. A Femina e o Santa Rosa, por exemplo, criaram suítes adequadas para o parto humanizado”, diz o médico.
A advogada Heleonora Maria Barros Gonçalves, mãe de uma bebê de um ano, fez o seu parto humanizado com o doutor Victor, no Hospital São Mateus. “Me causa estranheza a afirmação, pois a ‘estrutura’ necessária para parir é mínima, eu mesma pari no referido hospital no quarto. Eu utilizei instrumentos levados pela minha doula [assistente de parto], como a piscina e a banqueta, apenas para minimizar o desconforto das contrações”.
Para a mãe, o hospital vai à contramão de outras instituições. “Fiquei estarrecida ao saber da decisão do hospital, pois até então eu fazia questão de indicar para as minhas amigas a referida instituição. Também me senti desrespeitada ao ler que ‘as mulheres gritam muito e atrapalham o repouso dos outros pacientes’”.
PARTO HUMANIZADO
Dedicado há 22 anos à obstetrícia, e há 15 anos fazendo partos no Hospital São Mateus, o médico explica que existe apenas dois tipos de parto: o normal e a Cesária. O Parto Humanizado é “uma conduta dos profissionais frente ao parto”, que garante os desejos da mulher no momento do parto.
“No parto humanizado se preconiza a fisiologia da mãe. Você deixa o corpo da mãe fazer o parto, e só faz o monitoramento para ver se existe um risco para a mulher e para o bebê. Não há procedimentos para acelerar o parto. No parto vaginal tradicional, os médicos fazem alguns procedimentos para acelerar o processo”, explica o médico.
Os procedimentos ao que o especialista se refere são a injeção de ocitocina e o rompimento da bolsa amniótica propositalmente pelo médico. “O problema de volume de pacientes, às vezes, faz com que os médicos realizem esse tipo de procedimento para que logo o leito seja liberado. Outro problema do parto vaginal é a remuneração de alguns profissionais, comparado com a outra parte, é muito próximo. Mas, o tempo de um parto vaginal é mais longo, leva seis ou oito horas”.
RELATO
“Eu fui apresentada ao "mundo" do parto humanizado por uma grande amiga chamada Josy Anne. Acompanhei toda a gravidez dela e vi que nós mulheres nascemos para parir. Antes dela, eu pensava que ao engravidar eu teria meu parto cesárea, pois foi assim que minha mãe teve seus três filhos.
Quando a Josy me apresentou a esse mundo e me indicou o Dr. Victor Rodrigues, foi que passei a estudar com mais profundidade o tema e pude perceber que há muito preconceito na visão das pessoas sobre o tema. Quando eu falo que tive minha filha de parto normal sem nenhuma intervenção as pessoas arregalam os olhos, me perguntam se eu não levei "pique", algumas me chamam de louca e outras de corajosa. O que as pessoas não sabem é que o parto normal é fisiológico, enquanto que a cesárea é uma cirurgia e, como tal, tem muitos mais riscos.
O meu parto foi extremamente tranquilo, a todo momento assistida pelo Dr. Victor Rodrigues. Minhas contrações começaram por volta das 22h do dia 18.04.2015, e fiquei em casa junto com meu marido Alexandre Lacerda e minha doula Maria Carolina Turin. Minha bolsa rompeu por volta das 3h do dia 19.04.2015, e somente por volta das 5h é que resolvemos ir para o Hospital São Matheus.
Chegando lá, fui atendida pelo Dr. Victor que constatou que eu já estava com 7 cm de dilatação. Ele me perguntou se eu gostaria de voltar para casa e aguardar um pouco mais ou se eu já preferia dar entrada no Hospital. Achei melhor já ficar no hospital. Fomos direcionados para um quarto normal do hospital (meu plano de saúde é de apartamento). Pedi para que minha doula levasse a piscina inflável, pois a água diminui o desconforto das contrações, e ali permaneci durante toda essa fase do trabalho de parto.
Quando me aproximei do expulsivo, eu preferi usar a banqueta (que também foi levada pela minha doula), e foi nessa posição que eu pari minha filha, Giovanna Gonçalves Lacerda, as 08h55, com 3.445, 50,5cm.”
Advogada e mãe Heleonora Maria Barros Gonçalves, 32 anos