Fotos Ahmad Jarrah – Roméro Cunha
Com o afastamento de Dilma Roussef (PT), Michel Temer (PMDB) tomou o posto de presidente interino e deve ocupar o palácio do planalto pelos próximos seis meses, enquanto Dilma é julgada pelo Senado. A nação antes dividida em pró e contra impeachment se reparte em mais algumas fatias: aqueles que consideram ilegítimo o governo de Michel Temer, os que o consideram a única saída para o Brasil e outros que propõem novas eleições.
O presidente interino do Brasil é também presidente do maior partido brasileiro: o PMDB. Entre seus colegas estão: Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Kátia Abreu, José Sarney, Marta Suplicy, entre tantos outros. O PMDB se fixou no poder a partir da renúncia de Fernando Collor, quando o então vice-presidente Itamar Franco (PMDB) assumiu a presidência. Desde essa data, dezembro de 1992, o PMDB compôs com todos os governos federais, sem exceção. Ocupou a presidência com Itamar, dois ministérios na gestão FHC, nas eleições de 2002 metade apoiou Lula e a outra metade o PSDB, e do segundo mandato de Lula em diante o partido aderiu totalmente ao governo PT.
A vida do PMDB e de Michel Temer tem entre si similaridades, ambos vivem nos bastidores, mas com intensa força política. Michel nunca se candidatou a qualquer cargo executivo, exceto o de vice-presidente. Da mesma maneira, o PMDB não lança candidatura própria à presidência desde 1994, as duas vezes em que alcançou a faixa presidencial foi através da deposição dos presidentes Fernando Collor e Dilma Roussef.
As decisões tomadas em menos de cinco dias de governo causaram estremecimentos no país. Temer anunciou medidas de austeridade: excluiu nove ministérios; anunciou demissão de comissionados, esperando chegar a quatro mil; seus respectivos ministros já anunciaram cortes na educação, na saúde e cultura. Além disso, Temer divulgou o novo slogan de seu governo, que sintetiza as medidas anunciadas: “Não pense em crise, trabalhe”.
A nomeação de seu ministério também dividiu opiniões: vibração de alguns e revolta de outros. O Ministério conta com sete nomes de investigados na operação Lava Jato e é completamente formado por homens, brancos, e de classe social alta, incluso na lista o ex-senador mato-grossense Blairo Maggi, atual ministro da agricultura. Para alguns, o corte de 9 ministérios e a nomeação de tal equipe que engloba: Henrique Meireles, Alexandre Moraes, José Serra (PSDB), Gilberto Kassab (PSDB) e o pastor Marcos Pereira (PR) significa um avanço econômico e corte de supérfluos, como políticas sociais, por exemplo.
Enquanto isso, a nomeação de Alexandre Moraes para o Ministério de Justiça e Cidadania foi um golpe sentido por todos os movimentos de direitos humanos do País. Alexandre é ex-secretário de Justiça do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Durante sua gestão, mortes classificadas como confrontos entre suspeitos e policiais militares de folga cresceram 61%. O Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos se fundiu ao Ministério da Justiça e também está sob o comando de Alexandre Moraes.
Pensando neste cenário da política brasileira e os impactos disso para Mato Grosso, o Circuito Mato Grosso perguntou para algumas lideranças do estado sobre as expectativas e as medidas anunciadas do governo interino Michel Temer (PMDB). Entre as perguntas estão: Confia no governo Temer como saída da crise política e econômica? Quais os impactos desse governo para Mato Grosso? Quais medidas espera que Michel tome para beneficiar o Brasil e Mato Grosso nesses próximos seis meses? Como avalia as decisões de Michel Temer até agora? Confira abaixo as respostas.
Governador Pedro Taques (PSDB)
– Participei da posse dos ministros do novo Governo Federal. O discurso do presidente Temer foi de um Constitucionalista. Pregou a pacificação e a união do país, propondo uma agenda política balizada pelo diálogo e conjunção de esforços. Uma das metas agora é melhorar o ambiente de negócios e gerar mais empregos no país. O Brasil tem que trabalhar para recuperar a credibilidade internacional e atrair novos investimentos. Vamos apoiar este governo, pois Mato Grosso, assim como todo o Brasil, tem interesse em superar rapidamente este crise.
– Com uma nova política econômica o Governo Federal poderá contribuir mais com Mato Grosso, porque hoje a União precisa ajudar mais Mato Grosso, assim como nós ajudamos o Brasil.
– Acompanhando as notícias da política nacional, assistimos a confirmação de previsões feitas pela nossa equipe econômica desde o ano passado. O novo ministro da saúde afirmou: "Não há recursos. Nós vivemos uma enorme crise fiscal. O meu esforço será fazer com que o governo pague os recursos que estão alocados no orçamento. Se o governo cumprir o que está no orçamento, nós cumpriremos todos os contratos que estão feitos, faremos todos os repasses. Agora, aumentar recursos eu não posso prometer”. O fato é que as transferências da União para os Estados caíram vertiginosamente desde o início do ano. No caso de alguns convênios, tivemos redução de quase 70% nos repasses.
*Em viagem a Nova York, não foi possível entrevistar o governador, as declarações que constam na matéria foram postadas por Pedro Taques em sua rede social.
Paulo Brustolin – secretário de estado de fazenda de Mato Grosso
– Espero que melhore a economia brasileira. Espero que o Brasil tenha um novo ciclo, porque a confiança deve aumentar na gestão do Brasil. E espero que o novo presidente, Michel Temer, tenha coragem de fazer e de tomar as medidas necessárias para fazer o Brasil voltar a crescer e ser o grande potencial que é. Mas, para isso, precisamos de medidas corajosas.
Arlan de Azevedo Ferreira – pediatra e vice-presidente Unimed.
– Sim, para Mato Grosso nós temos pelo menos uma afinação político-partidária que irá favorecer algumas decisões que sejam de cunho subjetivo e que haverá ao menos um interesse maior em resolver os problemas que sejam possíveis de serem auxiliados pelo governo federal.
– Dar credibilidade no mercado financeiro e estabelecer metas que sejam possíveis de ser cumpridas, principalmente em relação aos setores mais nevrálgicos, que são a Saúde e a Educação. São áreas onde houve muitos cortes impactantes, principalmente na área da saúde e há hoje a necessidade de haver sustentabilidade financeira do setor.
– Até agora eu vejo uma sinalização positiva, pois além dessas mudanças que ele já está fazendo, pelo menos ele está criando um grupo técnico que poderá dar a resposta necessária pra resolver esse problema que vivemos hoje. Não só do ponto de vista político, mas da gestão como um todo.
Eduardo Ferreira – músico, cineasta e ativista cultural
– Primeiro eu pergunto, qual governo? Porque isso pra mim não é governo, não é legitimo, é um retrocesso na história política brasileira. Fruto da violência, do descaso, do desrespeito com as escolhas populares.
– Impacto negativo. O Blairo Maggi no Ministério da Agricultura é a raposa cuidando do galinheiro. Essa proposta dele do fim do licenciamento ambiental é absurda, um retrocesso. Acho que o impacto é negativo para o Brasil inteiro, inclusive Mato Grosso.
– A medida que ele deve tomar é renunciar. A renúncia dele seria ótima para o Brasil e Mato Grosso. Ele tinha 1% das intenções de voto, provavelmente não se elegeria nem deputado federal.
– Um golpe violento nas conquista democráticas que a gente vem lutando há tanto tempo. Retirando todas as politicas públicas sociais, na questão de gênero, de raça, de cultura. Nós voltamos para a idade das trevas.
Deputada Estadual Janaina Riva (PMDB)
– Sim, acho que qualquer alternativa neste momento, não só o nome do Michel Temer, mas qualquer outra liderança política que assuma a presidência do Brasil é uma alternativa para novos caminhos no país.
– Já começa com uma diferença na articulação, no próprio relacionamento com o governo, é muito importante que seja um relacionamento respeitoso e pacífico. Então, o Temer já se mostra muito articulado que a Dilma e mais próximo ao nosso governador Pedro Taques, o que é ótimo para o nosso Estado.
– A primeira atitude deveria ser o enxugamento da máquina, a revisão da previdência, a revisão de programas sociais, a concessão de benefícios. Acho que tudo isso deve ser as primeiras medidas a serem analisadas por ele, o reajuste de todas elas já impactaria para Mato Grosso e para todo o País.
– Importantes, mas ainda irrelevantes diante da necessidade que o país tem. Sei que parece muito quando você fala quatro mil cargos, mas na ponta do lápis ainda não representa uma economia de que o Brasil necessita. Ele ainda vai ter que economizar mais, reajustar a máquina e reajustes fiscais para que o Brasil volte a crescer economicamente.
Ana Maria Marques – Historiadora e professora da Universidade Federal de Mato Grosso
– Não confio. Ele não foi eleito e traiu a confiança de quem o colocou no cargo de vice – a Dilma. E ele praticou muito mais pedaladas que a Dilma, logo, se for considerar que houve crime, ele é mais criminoso.
– A exposição maior dos nossos ladrões da política, Delcídio, Taques, Gilmar Mendes e o mór Blairo Maggi. Para o agronegócio vai ficar ainda melhor, pois pra eles não tem crise, mas para índios e populações ribeirinhas vai ficar bem pior. Educação nem se fala, essa gente quer é a ignorância do povo mesmo.
– Temer não tem condições de beneficiar nada, nem ele, nem o PMDB e seus comparsas do atraso. Ministério de homens brancos e ricos. Acha que vão governar pra quem?
– Extinção de ministérios, por exemplo, da Igualdade e o da Cultura. Diz bem pra que veio, para massacrar as manifestações de expressão e liberdade de pensamento. Ele tem um governo burro, uma fala burra, lembrando o Caetano dos tempos idos. Uma vergonha para o Brasil.
João Edison – cientista político
– Ninguém pode confiar em um governo que chame Temer, como o nome já diz, é temeroso. Contudo, neste momento do Brasil o governo Temer faz parte de um processo constitucional necessário, mas não um governo confiável. O ministério dele não é confiável, o Congresso que o colocou lá não é confiável, mas nem sempre governos confiáveis fizeram bons governos. E nem sempre governos que a gente desconfia foram ruins, mas esse governo é uma incógnita. Agora, dava pra continuar com a Dilma? Não. Convocar novas eleições não está previsto na Constituição, então a única saída é essa.
– Em Mato Grosso a situação é difícil, já que o estado tem uma única dependência: as commodities. Nesse ponto o governo federal já favoreceu muito a região, tanto é que dos estados brasileiros, Mato Grosso é o que está menos sentindo essa crise. O ministro da agricultura é um indicativo que essa política continua, acho que não terá muito impacto, nem para cima, nem para baixo.
– Corte de ministério é necessário, mas é muito impactante, porque o governo Dilma foi muito no caminho do social, ligado aos direitos humanos. Esses ministérios foram criados para resolver um problema que de fato existe na sociedade, mas era melhor não ter criado, porque não solucionou o problema. Não houve uma discussão séria sobre o assunto, que se refletisse no mercado. Se ele mantivesse o ministério seria de uma hipocrisia sem tamanho, mas cortar gera uma revolta e decepção nas pessoas que sofrem a violência. Ou seja, o governo que saiu deixou um punhado de armadilhas. Quanto ao Ministério da Cultura, acredito que ele deva continuar existindo, pois um país sem cultura não vai a lugar nenhum.
Endrigo Dalcin – presidente da Associação dos Produtores de Soja E Milho do Estado De Mato Grosso (Aprosoja)
– Confio. Nós estivemos em reunião com ele, que demonstrou uma segurança muito grande na união de todos os partidos em prol da mudança.
– O impacto para Mato Grosso vai ser indireto, porque vai voltar a confiança, a nossa maior crise é de confiança na política brasileira. Isso reflete fortemente em Mato Grosso, porque a locomotiva econômica de Mato Grosso é o agronegócio, que começava a dar sinais de retração e com essa volta da confiança pretendemos avançar novamente, continuar os investimentos e acreditar novamente na economia.
– Os estados, municípios e as federações estão inchados, muito pesados pra se carregar, a arrecadação está caindo, precisa diminuir o peso da máquina pública. Este é um dos principais pontos que ele tem realmente que mexer e os ajustes fiscais, mudanças na previdência, reforma tributária, previdenciária, trabalhista, precisamos fazer andar as pautas que estavam paradas no Congresso.
– Nós temos um novo Ministério que em sua maioria são pessoas com vontade técnica e vontade de mudança. Nós temos como ministro da agricultura o Blairo Maggi, um nome importantíssimo no cenário mato-grossense. Um produtor de nascença, de família, com conhecimento profundo da área e vai poder fazer um grande trabalho à frente do ministério para o Brasil inteiro. Então são os pontos que ele já acertou acredito muito que os nomes indicados já foram um acerto.
Junior Macagnan – presidente do Movimento Brasil Livre em Mato Grosso
– De certa forma ele nomeou uma equipe extremamente capaz, inclusive com o Henrique Meireles e o Mansueto. Então nós achamos que pela nomeação da equipe econômica, que é o principal gargalo do país hoje, nós temos que dar um voto de apoio ao presidente interino Michel Temer.
– Com um ministro da agricultura do estado de Mato Grosso acreditamos que ele irá olhar com muito carinho. E com as melhorias na economia de forma geral, Mato Grosso será beneficiado. Acreditamos que não teremos mais problemas com os repasses do FEX, e que Mato Grosso só tende a melhorar.
– Primeiro é dar apoio à continuação da Lava Jato, que é uma forma de passar o Brasil a limpo. Depois que ele proponha uma reforma tributária e fiscal, para que as empresas nacionais tenham condições de concorrer, inclusive as mato-grossenses. E que ele ponha o País nos eixos, privatize muitas coisas, hoje temos muitas estatais desnecessárias.
– Até o momento com muito otimismo, nós não temos outra opção que não acreditar. A constituição nos dizia que em caso de impedimento o vice assumiria, então o que resta gora é dar apoio para que ele faça o que reivindicamos na rua. Somos um país só, temos que nos livrar desse ranço do PT, que ficava jogando um contra os outros. Nós somos um país único. Vamos dar um voto de confiança ao presidente Michel Temer.