Política

Dilma Rousseff tenta sensibilizar líderes internacionais

A presidente Dilma Rousseff prepara uma ofensiva de relações públicas para tentar angariar apoio no exterior após a derrota sofrida na Câmara dos Deputados, que aprovou o processo de impeachment. Os esforços incluem a retomada de viagens. O primeiro destino é Nova York, onde a presidente vai aproveitar a cerimônia de assinatura do Acordo de Paris sobre a Mudança do Clima, na ONU, para promover a versão de que foi vítima de um "golpe" no último domingo.

Dilma deve embarcar para os EUA nesta quinta-feira (21). Assessores do Planalto afirmam que ela vai usar parte de seu tempo na tribuna da ONU para denunciar o impeachment e falar com jornalistas americanos.

"O processo contra Dilma provocou no exterior uma desconfiança sobre a base legal usada. É claro que a presidente e seu círculo têm interesse em reforçar essa sensação", afirma Thomas Manz, diretor da Fundação Friedrich Ebert no Brasil.

A estratégia dos governistas de angariar simpatia de plateias internacionais já vinha sendo colocada em prática antes mesmo da votação. O ex-presidente Lula, por exemplo, defendeu o governo em várias entrevistas a correspondentes estrangeiros. Nesta terça-feira, foi a vez de Dilma falar a jornalistas de outros países – e repetir ter sido vítima de um "golpe".

Para o alemão Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com essa ofensiva, Dilma tenta negar ao vice-presidente Michel Temer mecanismos no exterior que legitimem seu eventual governo. "Chefes de Estado sempre tentam reforçar sua credibilidade com o reconhecimento de outros países. Encontros internacionais são mecanismos que conferem legitimidade", afirma.

Reação do grupo de Temer

A ofensiva internacional dos petistas já provocou reação do grupo de Temer, que no momento está montando sua equipe de governo e contando com o afastamento de Dilma pelo Senado em breve.

No início da semana, Temer entrou em contato com Aloysio Nunes (PSDB-SP), que é membro da comissão de Relações Exteriores do Senado, e pediu que ele aproveitasse uma viagem a Washington para ajudar a desmontar a versão propagandeada por Dilma em encontros com autoridades americanas. 

Interlocutores de Temer afirmam que ele mesmo cogita conceder entrevistas a publicações estrangeiras. Poucos veículos no exterior manifestaram simpatia pelo vice até agora, com editoriais de jornais americanos e europeus afirmando que a ascensão de Temer não resolve os problemas do país e que o ideal seria a realização de novas eleições.

"Isso deve virar uma guerra de versões. De um lado, temos Dilma falando sobre a falta de legitimidade do processo; do outro, o círculo do Temer fazendo um esforço para convencer a opinião pública internacional de que o vice tem condições de assumir", afirma Manz.

"Ninguém vai querer intervir"

Até o momento, somente alguns poucos países latino-americanos, como o Uruguai, a Venezuela e o Equador, sinalizaram apoio a Dilma. Houve manifestações de "preocupação" de organismos como Organização dos Estados Americanos (OEA) e União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Não houve declarações expressivas por parte dos EUA e de países europeus.

Para Manz, ainda é difícil avaliar se Dilma vai obter algum resultado prático com seus esforços internacionais. "Tenho dúvidas sobre o que ela pode conseguir. Organismos manifestaram preocupação com o que está acontecendo, mas essas advertências não devem ir além. Ninguém vai querer intervir", afirma.

Stuenkel concorda que os esforços do governo Dilma não devem produzir resultados significativos. "Vejo pouco potencial de Dilma provocar impacto. Os petistas podem insistir nessa versão do golpe, mas nem eles estão muito convencidos. Se realmente achassem isso, a ofensiva seria muito maior", afirma. "O PT é bem conectado com movimentos internacionais e sindicatos, mas não usou esses canais. A impressão que passa é de que a ausência de Dilma de Brasília já não tem mais custo e de que eles só querem gerar mais um desgaste para Temer até 2018." 

"A maior parte dos países não tem interesse em se envolver em brigas internas. Dilma pode chamar a atenção agora, mas com o tempo a percepção que vai ficar no exterior é de que não se trata de um golpe, mas que o país tem problemas no seu sistema político e passa por uma situação complexa", finaliza Stuenkel.

Com ou sem resultados práticos, as falas de Dilma e de membros do governo sobre um "golpe" têm irritado partidos da oposição. Nesta terça-feira, dirigentes de 14 siglas divulgaram uma nota de repúdio às declarações de Dilma a correspondentes estrangeiros. "Para defender-se, ela inverte sua posição de autora em vítima", diz o texto.

Curiosamente, ao viajar a Nova York para denunciar o impeachment, Dilma terá que deixar a Presidência interinamente nas mãos de Michel Temer. Isso porque a Constituição prevê que, durante a ausência do chefe de Estado, o cargo passe provisoriamente para a primeira pessoa disponível na linha de sucessão.

fonte: dw.com

Redação

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