Em 1997, o povo Ticuna, do Amazonas, publicou O livro das Árvores. O Ticuna entende que “a floresta é a coberta da terra”. As árvores são diferentes umas das outras, ainda que da mesma espécie: Existem árvores de várias espécies, cores, tamanhos, larguras, com âmago, sem âmago. É a diversidade que faz da floresta um lugar tão rico. Além de tudo, as árvores também têm histórias. Contam os índios da etnia Ticuna que o rio Solimões é formado pelo tronco de uma samaumeira e que seus galhos formaram, há muitos e muitos anos, outros rios e igarapés.
Eware é a terra sagrada do povo Ticuna, o começo do mundo, onde foi criado. Animais e seres encantados protegem Eware, onde correm as águas do igarapé de mesmo nome: Eware. Dessas águas surgiram gentes do povo Ticuna, quando foram pescadas por Yo’i, seu Deus supremo. De geração a geração, os índios aprendem sobre a terra sagrada e das árvores de muitas frutas e muitas flores que nunca morrem.
A floresta, com suas tantas e tantas espécies de árvores, é chamada de Nainecü. Cada uma tem seu lugar para nascer. Em terra firme nascem: “abiurana, cedrorana, jatobá, patauá, matamatá, sorva, tento, anauirá, pamá, muirapiranga, araratucupi, taniboca, castanheira, coquita, louro, acapu, cumaru, Jutaí, tucumã, copaiba, aguano, andiroba, guariúba, castanha-de-paca” … Na várzea estão: “castanha-de-macaco, apuí, mulateiro, pau-brasil, samaumeira, seringueira, taxi, ucuuba, arapari, urucurana, jenipapo, louro-cheiroso, taperebá, taniboca-da-várzea, jacareúba, paracuuba, açacu, envireira, cacau, embaúba, bacuri, maubarana, capinuri, pau-de-colher, caxinguba”, … Outras espécies se espalham pela floresta, outras se juntam, como “os buritis, açaís, seringueiras, castanheiras, caranãs, inajás, bacabas, patauás, tucumãs, paxiúbas” …
Árvores chamam homens, aves, bichos. Pertencem a Nanatü, pai, mãe ou dono das árvores, dos animais, dos peixes, das águas. Os Nanatü são espíritos protetores da natureza. Como dizem os índios, a floresta está sempre em movimento.