O estudante Vinicius Neres no carro da polícia depois de indicar o local onde havia abandonado o corpo da ex-namorada, em Brasília (Foto: Polícia Militar/Divulgação)
O Ministério Público do Distrito Federal acusou o estudante de biologia Vinícius Neres, que confessou ter matado a ex-namorada em um laboratório da Universidade de Brasília (UnB), de ter praticado feminicídio. Pela denúncia do MP, ele matou por motivo torpe, asfixiou a vítima e agiu de forma a dificultar a defesa dela, além de ter ocultado o corpo.
Neres está preso na Papuda desde o dia 13 de março, onde aguarda julgamento. Dois dias antes, o jovem de 19 anos confessou ter matado a garota de 20 por ela ter se recusado a reatar o relacionamento com ele. “Eu ainda não sei por que a matei”, afirmou à época. “Definitivamente, não foi pelo motivo de amor.”
No pedido de prisão, a Polícia Civil tinha indiciado o estudante expulso da UnB por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Pela denúncia desta sexta-feira (8), o Ministério Público também vê que o jovem cometeu crime contra a mulher.
“O delito foi praticado contra mulher, por razões da condição de sexo feminino, em contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher (feminicídio), pois o denunciado e a vítima mantiveram relacionamento amoroso até pouco tempo antes dos fatos”, argumenta o promotor Marcello Oliveira Medeiros.
Relembre o caso
O assassinato aconteceu na noite de 10 de março. Louise foi dopada e depois teve 200 ml de clorofórmio despejado na boca. O produto é tóxico e causa morte. Neres, que era veterano da garota e monitor do Instituto de Biologia, prendeu então os pés e as mãos da menina e enrolou o corpo dela em um colchão inflável. O transporte foi feito em uma espécie de carrinho de mão até o veículo da vítima. O corpo dela foi abandonado em uma área de cerrado no Setor de Clubes Norte.
O jovem alegou que teve um “ataque de fúria” quando Louise Ribeiro, que se recusava a reatar o relacionamento, quis abraçá-lo. A Polícia Civil, porém, trabalha com a hipótese de que o crime tenha sido premeditado, já que as janelas do laboratório estavam vedadas com papel pardo.
Na Papuda, Neres ocupa sozinho uma cela de cinco metros quadrados, sem chuveiro elétrico e com bacia turca – sanitário que fica no chão.
O suspeito disse que cogitou violentar Louise após o crime, mas depois mudou de ideia. Ele chegou a atear fogo nas costas e na genitália da estudante. Neres voltou para casa de ônibus e no dia posterior ligou para a família da menina e ajudou a colar cartazes de “procura-se” na instituição. Ainda na manhã de sexta, ele ligou para a Delegacia de Repressão a Sequestros e, enquanto esperava a chegada de agentes, encontrou um policial militar no campus e se entregou.
Pai dela, o tenente-coronel Ronald Ribeiro afirmou que gostaria de ter dito ao suspeito para aprender a respeitar quando as pessoas dizem "não". "Respeitem, por favor, que quando alguém disser ‘não’ é ‘não’. Aprendam, aceitem isso. Se você realmente ama aquela pessoa, aprenda a admirá-la, isso que é importante. Isso que eu gostaria de ter dito ao Vinícius quando ele me ligou perguntando pela Loiuse. Eu disse: 'eu quero conversar com você olhando no seu olho'. Mas, infelizmente, não foi possível", declarou.
Na época, a universidade instituiu luto por causa da morte da estudante. As aulas não foram suspensas, mas os professores receberam recomendação de liberar os alunos nos horários das homenagens. A reitoria disse que iria reforçar a iluminação e a segurança no período noturno para evitar novos crimes na UnB.
Crime
Louise e o suspeito tiveram um relacionamento de dois meses, segundo a defesa dele, embora Neres tenha dito que o namoro tenha durado nove meses. Ele disse que ainda era apaixonado pela estudante. Algemado, o rapaz deu detalhes do crime em uma coletiva de imprensa sem aparentar nervosismo.
Ao ser perguntado se achava que tinha algum problema mental, afirmou que já havia pensado na hipótese. “Eu quis fazer um tratamento contra depressão, principalmente, mas nunca cheguei a fazê-lo. Então precisaria de uma avaliação.”
Segundo a Polícia Civil, Neres marcou um encontro com Louise no laboratório do Instituto de Biologia às 18h30 da quinta. Durante a conversa, o estudante falou para ela que iria se matar. “Eu mostrei o produto que ia utilizar e falei que ia me suicidar. Ela tentou me impedir, gritou para outras pessoas chegarem ao laboratório.”
O delegado-chefe da Delegacia de Repressão a Sequestros (DRS), Leandro Ritt, afirmou que o rapaz alegou ter tido um "ataque de fúria" no momento em que a vítima foi abraçá-lo. Nesse momento ele a dopou com clorofórmio e cometeu o crime, disse. Neres foi transferido para a Papuda no domingo.
Colegas descreveram a menina como risonha e doce. Sergipana, ela tinha 20 anos, era apaixonada por tartarugas e estagiava no Ibama. "Uma ótima amiga, sempre muito alegre, sempre prestativa. Apaixonada pela vida, pelas tartarugas, pela vida marinha", disse Bruna.
"Não sei como vai ser esse semestre, olhar para frente e não ver aquele ponto loiro com rosa, que sempre sabia de tudo, até da economia dos países que ninguém conhece", afirmou Lucas. "As saídas não serão as mesmas. Sempre vou achar que está faltando alguém."
Feminicídio
Em março do ano passado, o governo sancionou a lei que prevê pena maior para assassinos de mulheres. O texto considera a questão de gênero quando o crime envolve violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. O chamado "feminicídio" se tornou um agravante do crime de homicídio, além de ser classificado como crime hediondo.
Até então, as circunstâncias previstas como agravante são meio cruel, motivo fútil, motivo torpe, impossibilidade de defesa da vítima e quando é praticado para acobertar outro crime. A pena de prisão para homicídio simples varia de 6 a 20 anos. No caso do homicídio qualificado, onde se incluirá o feminicídio, a pena vai de 12 a 30 anos.
Fonte: G1