Com o momento ímpar em que o Brasil se encontra, em meio a uma crise econômica e com o governo paralisado politicamente, o comércio sofre retração. “O cliente não leva mais o supérfluo, apenas o essencial”, afirma a gerente de loja Celine Marinho de Melo. Empresários buscam contornar as dificuldades com estratégias elaboradas a partir das especificidades de seu negócio, como setor e localização.
Para se ter uma ideia da crise que afeta o comércio, o nível de consumo atual das famílias brasileiras registrou menor valor em fevereiro de 2016, desde 2010. Segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em relação a fevereiro, a queda foi de 4,4%, enquanto que, na comparação com o ano de 2015, foi de 38,4%. A maior parte das famílias, 59,2%, declarou estar com o nível de consumo menor que o do ano passado.
Para o vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL), Celio Fernandes, as recomendações gerais para os comerciantes não quebrarem com a crise são criatividade e cautela. Inovar em publicidade, estratégias para atrair o cliente e procurar não correr riscos desnecessários. Junior Macagnam, presidente da União dos Lojistas de Shoppings Centers de Cuiabá (Unishop), completa, “Você adia uma reforma que poderia fazer, procura uma embalagem mais barata, adia uma contratação, reposição de pessoas, cada um vai solucionando como pode. Acho que o momento, antes de qualquer coisa, pede reflexão e muita conta”.
Celio também levanta um alerta sobre a inadimplência crescente no estado de Mato Grosso. “Nós aconselhamos os comerciantes a realizar uma venda segura, não adianta fazer a venda, se depois acaba não recebendo o pagamento. A média de inadimplência de Mato Grosso dos últimos meses está maior que a média nacional, provavelmente, porque demorou um pouco para o estado entrar na crise, então, os efeitos estão aparecendo mais recentemente”, declarou.
Comércio de rua x Shopping Center
Mesmo que as orientações amplas sejam as mesmas, as particularidades de cada estabelecimento vão diferenciar o impacto da crise e as estratégias adotadas para superá-la. Segundo Celio Fernandes, o comércio de rua, por exemplo, sofre uma perda mais significativa que os shoppings centers.
Para o vice-presidente da CDL, fatores que já afetam as lojas de calçada em períodos econômicos regulares como a falta de estacionamento, pavimentação de vias e calor se agravam durante a crise. “As estratégias da empresa não surtem efeito. Por mais que façam propagandas e ações, o cliente prefere ir aos shoppings centers, onde tem mais conforto”, concorda a gerente de loja, Celine Marinho de Melo.
Outro quesito que pode interferir nos lucros do comércio de calçada é o perfil do consumidor. Formado pelas classes C e D, o público das lojas de rua são os mais atingidos pela crise. É exatamente o tipo de cliente citado por Celine, que não vai às lojas para passear, apenas para comprar o necessário.
Por outro lado, a lojista Maria Diniz ferreira discorda deste ponto de vista. Para a comerciante, especificamente a rua 13 de Junho e os arredores que compõem a região central de Cuiabá se beneficiam pela localização e concentração de comércios, atuando como um centro comercial de mesma força que um shopping center. “A redução nas expectativas, tanto na passagem mensal quanto na comparação anual, demonstra que seguem ausentes fatores indicativos de reversão e retomada do crescimento da atividade do comércio no curto prazo”, aponta a CNC.
A cliente Cleonice da Silva reforça a possibilidade de que o comércio de rua sofra menos, ou pelo menos da mesma maneira que os shoppings, com a instabilidade econômica. Segundo a cliente, durante crise, passou a comprar menos e fazer mais pesquisas de preço, o que a trouxe para as lojas de rua. “Eu tento fazer mais pesquisa de preço e aqui estão as opções mais baratas”, declarou.
O vice-presidente da CDL pondera os prós e contras antes de qualquer decisão para abrir ou mudar seu negócio de local, e afirma que o posicionamento deve partir da análise das especificidades de cada setor. Para Celio, o comércio de rua é instável e exige mais esforço para conquistar a clientela, no entanto, os aluguéis também são bem mais baratos. Enquanto nos shoppings, o empresário tem mais facilidade e estabilidade nos lucros, porém os custos com locação e condomínio abocanham boa parte do faturamento.
Para se ter uma ideia, em matéria veiculada pelo Circuito MT em 24 de abril de 2015, os custos de uma loja de 70m² no Pantanal Shopping saem em média R$ 23 mil, entre aluguel, condomínio e fundo de promoção (uma taxa paga para publicidade do shopping).
Os shoppings centers de Cuiabá utilizaram uma estratégia este ano para manter as lojas em seu espaço. Apesar do reajuste anual do aluguel mantido, houve estabilidade na cobrança da taxa de condomínio, afirmou o presidente da UNishop. Esta taxa, considerada cara e até exorbitante pelo empresariado, chega a custar até 40% a mais que o valor do aluguel. Por exemplo, uma loja de 60m² do Goiabeiras Shopping paga, em média, R$ 3.500 de aluguel e R$ 9.300 de condomínio.
Junior também adverte que não basta só planejar estratégias para o estabelecimento, mas conhecer as ações do legislativo e executivo que interferem no seu negócio. “Os empresários têm que continuar atentos, pressionando os governos para não ter aumento de carga tributária, como a CPMF do governo Dilma e o decreto 380, do governo do Estado. Tem que ficar atento e ter participação”, declarou.