Circuito Entrevista

“Não podemos permitir superdeputados”, diz deputado

Líder do Governo na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Wilson Santos (PSDB) faz sua avaliação sobre a política estadual, nacional, a Assembleia, a campanha deste ano, além de falar sobre seus projetos e tecer críticas ao projeto de iluminação pública, pleiteado pelo prefeito, que deverá custar a cifra histórica de quase R$ 1 bilhão a Cuiabá.

Apesar disso afirmou que, caso o PSDB feche aliança com o PSB para eleição deste ano, “é disciplinado” e irá com o partindo, apoiando então o atual prefeito Mauro Mendes (PSB).

Em um bate papo exclusivo com o Circuito Mato Grosso, Wilson fala ainda sobre a gestão Maluf (PSDB) frente à Assembleia, eleição e reeleição. O tucano afirma que não tem nenhum projeto político e afirma que pretende continuar na Casa de Leis do Estado.

Circuito Mato Grosso: Qual a sua avaliação da gestão Maluf, frente à Assembleia Legislativa?

Wilson Santos: A gestão Maluf é uma gestão de transição. É uma gestão que sucede um período de 20 anos do ex-deputado José Riva, que tinha todo um modus operante, que tinha toda uma cultura. Agora a gestão Maluf tem a obrigação de levar a Assembleia a um porto seguro, de abrir e escancarar as portas do parlamento, dar transparência – especialmente a toda a movimentação financeira da Casa – readquirir a credibilidade da sociedade, que não é fácil, nem simples e nem rápido. A gestão está indo a contento, tem muitas evoluções. Fez um pacto com o Ministério Público e com o Tribunal de Contas e esse pacto já começa a dar resultados. A gestão da Casa já está produzindo resultados positivos.

Pela primeira vez, na história de 180 anos do parlamento estadual, a Assembleia devolveu recursos ao cidadão, com os R$ 20 milhões de reais devolvidos em 2015 e está sendo utilizado na aquisição de 150 ambulâncias. A produção no plenário é algo impressionante. A Assembleia no ano passado apresentou mais de 300 projetos de lei, realizou 38 audiências públicas sobre os mais diversos temas de interesse da sociedade. Então, a minha avaliação é que é uma gestão de transição, que está no caminho certo.

C.M.T.: Então o senhor o apoia uma possível continuidade, com reeleição do Maluf para presidência da Casa?

W.S.: Não, eu não apoio. Eu não apoio a reeleição do Guilherme e nem do Nininho, por uma questão de princípios. Nós fizemos esse compromisso quando da eleição dessa chapa há um ano, de que não haveria reeleição para os atuais mandatários. Agora, se o deputado Guilherme for candidato a vice-presidente, a primeiro secretário, conte com meu voto. Agora, não voto nele para presidente novamente, pois eu defendo que nós não podemos permitir o surgimento de novos superdeputados. Quem tem que ser grande aqui é o parlamento.

Acabamos de vivenciar uma experiência com superdeputados e deu no que deu. Por isso a alternância no poder, a alternância na Mesa Diretora é fundamental para resgatar as prerrogativas do parlamento, abrir as portas, dar transparência e resgatar a credibilidade do cidadão e uma das exigências é que não haja reeleição. 

C.M.T.: Em discurso recente o senhor assegurou que não mais iria permitir que deputados colocassem empecilhos na tramitação de matérias oriundas do Executivo, travando aprovação dos projetos, como foi o caso da terceirização no DETRAN. Sendo o líder do governo na Assembleia, quais as principais dificuldades que o senhor enfrenta junto a seus pares?

W.S.: Eu tenho uma relação entre boa e ótima com os meus pares. A referência que eu faço em relação a esse tema é que o acordo feito tem que ser honrado e cumprido. Essa matéria era para ter sido apreciada em dezembro, atendendo a acordos que fizemos com a oposição e ela deveria ter sido concluída em janeiro. Infelizmente houve mais alguns atrasos, mas tudo acabou bem. O que nós vamos ter agora é mais cuidado quando fecharmos acordos para votações, para retardamento de votações. Nós não vamos mais aceitar prorrogação de prazos acordados.

C.M.T.: Como está a relação com o PSB? Teremos uma aliança ou não?

W.S.: Em vários municípios do Estado. Em Cuiabá eu defendo uma candidatura própria do PSDB, pois Cuiabá tem dois turnos. Então quer dizer, uma aliança com o PSB pode ser fechada no segundo turno. Pela história que o PSDB tem em Cuiabá e pelos serviços prestados pelo partido  a Cuiabá, o PSDB tem estatura e tem plenas condições de oferecer uma candidatura própria para Várzea Grande. 

C.M.T.: E se o grupo do senhor chegar a um consenso de apoiar o PSB, como ficará a situação?

W.S.: Eu sou disciplinado. Venho trabalhando essa tese desde o ano passado e o que o partido decidir na convenção eu obedecerei.

C.M.T.: Mas, por enquanto, quais possíveis nomes estão sendo postos dentro do seu grupo para o executivo cuiabano?

W.S.: Olha, nós temos nomes como o do secretário Permínio Pinto; nomes como o do vereador e médico, dr. Maurélio Ribeiro; nós temos nomes como o advogado e ex-presidente da OAB Luciel Tavares e teremos nomes também de secretários de Estado, que deixarão o governo até o dia 2. Então não é por falta de nome e por falta de serviços prestados que o PSDB deixará de apresentar uma candidatura.  

 C.M.T.: E no interior, como estão as movimentações para eleição deste ano? 

W.S.: Com a vinda do governador Pedro Taques e seu grupo para o PSDB nós saltamos de dois prefeitos para quase 30. E teremos candidatura própria em mais ou menos 60 municípios do Estado.

C.M.T.: Deputado, como estão os seus projetos políticos para os próximos anos?

W.S.: Não tenho nenhum projeto político, vou continuar quieto onde eu estou quieto, sossegado se eu estiver vivo e, gozando de popularidade, disputo a reeleição estadual.

C.M.T.: O senhor acha que isso de o prefeito Mauro Mendes estar “em cima do muro” é por querer apoio do PMDB no pleito deste ano?

W.S.: Não, ele quer engessar todo mundo. Quanto mais ele retardar a decisão dele, menos chances os outros partidos têm de terem candidaturas próprias. Então é uma estratégia inteligente, legal e democrática,  ele faz o jogo que interessa a ele, quem não está percebendo tudo isso são os partidos que vão enfrentá-lo. Estão deixando de fazer o dever de casa.

C.M.T.: O que o senhor mudaria ou faria sobre essa licitação para mudanças na rede de iluminação pública de Cuiabá no valor de R$ 752,25 milhões que Mauro Mendes está realizando?

W.S.: Primeiro eu quero dizer que o sistema de iluminação via Led é o melhor, superior a qualquer outro feito à base de sódio ou mercúrio. Segundo, que não há necessidade em licitar, isso pode ser feito como eu disse no programa Reluz, através da concessionária, o grupo Energisa, que sucedeu o grupo Rede Cemat. Terceiro, não há necessidade de se comprometer com todo esse montante de quase R$ 1 bilhão. Grande parte do sistema que está implantado pode ser aproveitado, como as braçadeiras e luminárias.

O prefeito precisa trocar somente as lâmpadas.  Vai derrubar esses valores extraordinariamente. Esse montante é impressionante, é quase o valor da dívida que a cidade tem em 300 anos de existência, que é R$ 1 bilhão e cem milhões, aproximadamente. Vai comprometer enormemente as finanças municipais. Até porque a cobrança da CIP (Contribuição de Iluminação Pública) como está sendo feita é temerária, a qualquer momento pode cair. É uma inconstitucionalidade cobrar a CIP junto com a conta de energia. Não pode haver tributos e taxas acumuladas. A qualquer momento uma adesão judicial pode acabar com isso.

Então ele está fazendo um programa num montante jamais realizado na história de Cuiabá em cima de algo extremamente delicado, sob o ponto de vista da segurança jurídica, pois a cobrança da CIP em Cuiabá é garupa da cobrança de energia e isso é ilegal e inconstitucional e pode, a qualquer momento ser desfeito pela justiça e como ele pagará todo esse investimento?

C.M.T: Qual a sua avaliação do atual cenário político nacional?

W.S.: Vivemos uma crise gravíssima, tanto de ordem política como econômica. É, sem dúvida a maior crise econômica da República, superando a Crise do Encilhamento, em 1891, e superando as consequência da quebra da bolsa de valores de Nova York, em 1929, quando o governo Vargas teve que queimar nosso principal produto, o café, em praça pública. Essa crise aqui consegue superar, pois só no ano passado foram um milhão, quinhentos e quarenta e dois mil desempregados com carteira assinada.

Neste ano deve chegar a quase dois milhões de desempregados, quer dizer, o País está derretendo. Caiu 3.8 no PIB ano passado e a previsão esse ano é cair também em torno de 3.8. Cada ponto, cada 0,1%, representa cerca de R$ 23 bilhões de dólares. Quase 4% deu cerca de R$ 90 bilhões de dólares, a R$ 4 reais, deu quase R$ 360 bilhões de reais, que foram retirados da economia brasileira no ano passado e serão retirados esse ano também. É muito. Então você tem uma crise econômica sem precedentes aliada a uma crise política.

O governo não tem base de sustentação no Congresso, está moralmente muito abatido, a presidente não governa mais, tentou terceirizar a gestão com o ex-presidente Lula e não deu certo. A população está nas ruas, a inflação com dois dígitos, o desemprego tomando conta. É uma crise econômica que encontrou com uma crise política e eu espero que isso não vire uma crise institucional. O País está rachado e eu espero que isso acabe bem.

C.M.T: E os impactos disso em Mato Grosso?

W.S.: Olha, Mato Grosso é o Estado que menos vem sofrendo com essa crise, mas vem sofrendo já. O estado cresceu ano passado a menor taxa nos últimos 30 anos, menos de 3%, quando a média era entre 8 e 10%. Este ano talvez nem haja crescimento e o governador tem feito das tripas coração para honrar salários, para manter programas de infraestrutura em dia. Talvez o último estado, mas também foi abatido por essa crise.

C.M.T: O senhor é a favor do impeachment?

W.S.: Na minha concepção a melhor solução para o País seria a cassação de toda a chapa pelo TSE, da presidente e do vice e que nós pudéssemos ter eleição novamente, pois só pode governar quem tem legitimidade. Aí todos os partidos, inclusive os atuais da base lançam candidatura, disputam voto. 

C.M.T: Sendo uma grande liderança do seu partido, como o senhor analisa o suposto envolvimento do Aécio Neves na Lava-Jato?

W.S.: Tem que ser apurado com rigor. Aécio, Wilsom Santos, Nilson Leitão, Pedro Taques, Dante de Oliveira. A lei está acima de todos. Se nós queremos deixar para nossos filhos e netos um país melhor, nós temos que agir republicanamente. Não tem Aécio, Deécio, Ceécio não, quem quer que seja que tenha cometido irregularidades e ilegalidades, tem que ser apurado e, comprovada a culpa, punido. Temos que viver o império da lei, não tem que aliviar para ninguém. 

C.M.T: O deputado Oscar Bezerra disse que, após análise dos documentos das Obras da Copa do Mundo, a CPI constatou desperdício de dinheiro. Quem deverá ser responsabilizado e o que de concreto será feito?   

W.S.: Eu nunca tive dúvida em relação a isso, já disse várias vezes que a mudança do modal do BRT para o VLT foi para roubar e nós vamos chegar a uma conclusão que só no VLT o rombo supera os R$ 500 milhões de reais. A Arena Panatanal tinha uma projeção de pouco mais de R$ 300 milhões e acabou em quase R$ 700 milhões. Tem viadutos, trincheiras. Quer dizer, não há dúvida de que as pessoas que estavam dirigindo o Estado e as obras eram pessoas mal intencionadas, despreparadas para o exercício do poder.

Queriam e tiraram poder da máquina pública. Então a constatação da CPI é apenas algo que toda a sociedade mato-grossense já tinha conhecimento. Roubou-se mais de R$ 500 milhões nas obras da Copa, fora o VLT, que se somado dará mais de R$ 1 bilhão de roubo. Por isso que você tem ex-governador preso e 11 ex-secretários que foram para cadeia.

C.M.T: Vamos falar um pouco sobre seus projetos. Como estão as discussões sobre o Ensino ciclado e quais foram as principais fragilidades que o senhor percebeu, após as reuniões realizadas com professores e representantes da categoria?

W.S.: Primeiro a minha alegria de estar recolocando a educação na agenda diária da sociedade mato-grossense. Não vejo nada mais sério, nada mais importante do que a educação. O Brasil não pode continuar dando essa pequena escolaridade e essa baixa qualidade. O Brasil tem uma das piores educação do mundo e Mato Grosso uma das piores do Brasil. Nós temos 400 mil crianças e jovens sendo preparadas para a lata do lixo, para o subemprego e para o desemprego. É um crime de lesa pátria e nós resolvemos iniciar tudo isso fazendo um diagnóstico da qualidade da educação pública mato-grossense e constatamos que é muito ruim.

As pesquisas do Ministério da Educação e da Secretaria de Educação só comprovam que é um absurdo, é uma vergonha e uma tragédia a qualidade da educação em Mato Grosso, então é preciso fazer uma cruzada pela educação nesse Estado, em todos os níveis. Resolvemos estudar e fomos conhecer a organização em ciclos de formação que está aí, implantada há 15 anos na rede pública estadual e diagnosticamos mais de 20 falhas.  Apresentamos uma proposta que é a implantação do ciclo de formação com aprendizagem, de que, não havendo aprendizagem, não haverá progressão, o aluno não avança para próxima série, para o próximo ciclo.

Essa é a nossa principal proposta, mas temos mais de 15 propostas. Trouxemos o Ministério Público estadual junto, nós vamos elaborar um Termo de Ajustamento de Conduta, um TAC, onde todos os atores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem assumirão responsabilidades com prazos para executá-las. Estabeleceremos metas por escolha e proponho a avaliação não só dos alunos, mas a avaliação de todo o sistema de ensino e aprendizagem, com alunos, professores, demais profissionais, infraestrutura, recursos metodológicos, família e nós propomos que tudo isso leve um tempo de nove anos, ou seja, estamos propondo a implantação de uma fase de transição na educação mato-grossense, levando em conta a construção de um indivíduo crítico, pensante, questionador, protagonista da sua história, mas que tenha conhecimento. 

C.M.T: E o projeto que trata da obrigatoriedade da instalação de sistemas de captação de energia solar e o reaproveitamento de água de chuva na construção de novos prédios, centros comerciais e condomínios residenciais em Mato Grosso?

W.S.: Isso é evolução, isso é o futuro. Nós temos sido extremamente competentes, hors concours em destruir o planeta. É um projeto aparentemente simples, mas que visa, de maneira racional e inteligente, economizar recursos naturais e maximizar energia e água, criando uma cultura de combate ao desperdício do aproveitamento ao máximo das riquezas naturais. Estamos discutindo com a Federação das Indústrias, com o Sinduscom, com o setor de construção e estamos chegando a um consenso. Essa implantação será gradual.

Veja mais na edição 577.

Josiane Dalmagro

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