Cidades

Muito além da pesca esportiva, Cáceres mostra seu potencial turístico

A cidade de Cáceres tem na pesca esportiva a consolidação do turismo nacional e internacional, com embarcações para todos os gostos e bolsos.

O que algumas pessoas talvez não saibam – ou apenas não tiveram a oportunidade de conhecer –é que a cidade tem um apanhado de outras possibilidades a oferecer com o turismo ecológico e também o turismo rural.

Em uma visita à cidade, a reportagem do Circuito Mato Grosso pôde presenciar um pedacinho da história, natureza, águas milagrosas, rios e pantanal. A cidade é um oásis de descobertas para quem gosta de estar em contato com esses atrativos.

Fazenda Jacobina

A fazenda Jacobina , localizada às margens da BR-070, próxima a Cáceres, já foi pioneira na distribuição de mantimentos para Mato Grosso e outros estados, sendo sua fundação anterior à da cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade.

“Essa fazenda foi uma das pioneiras no estado de Mato Grosso. Antes de Cuiabá ser capital eles já produziam aqui o charque, pinga, açúcar e cereais. Tinha vários colonos, escravos que ficaram depois da abolição pois gostavam muito do patrão. Com a estrada começaram a sair para Vila Bela”, conta o senhor Sebastião Natalino de Lara, 72 anos.

Ele é último dos filhos de Vitório da Silva Lara que ainda reside no local e toca a fazenda.

“Meu pai comprou a fazenda em 1932, quando já estava meio abandonada e produziu pinga e açúcar até 1967. Hoje, resta eu de filho aqui, preservando a história”.

Segundo Sebastião , quando foram fazer o inventário é que ele conheceu, de verdade, a história da fazenda. “Quando ela passou para o meu pai já não havia escravidão, mas a gente achou na igreja católica um registro – nem tinha cartório – que vivam aqui 80 famílias. No papel tinha o nome do escravo, o valor deles e muitas informações da contabilidade da época”.

O fazendeiro conta que os documentos datam de 1786, como a carta patente, assinada pelo imperador, doando a fazenda para um capitão-mor. 

Dos três filhos de Sebastião, apenas um permanece na fazenda e o ajuda a manter o local.

Cheia de riqueza e história, a fazenda que outrora ocupou 90 mil hectares de terra, indo do rio Paraguai até o rio sangradouro, hoje tem 1600 hectares.

Estão iniciando atividades de visitação no local: um restaurante caseiro,  banho de rio, passeio a pé e a cavalo e pescaria.  No local há criação de peixes em cerca de 12 tanques.

O secretário de Indústria, Comércio, Meio Ambiente e Turismo de Cáceres, Julio Parreira, explica que a ideia é, realmente, mostrar o “que” a mais da cidade. “Queremos mostrar que Cáceres é um destino de turismo, não apenas da pesca esportiva, mas do ecoturismo, de turismo rural e todo recurso natural que temos”.

Turismo Ecológico

Uma das maiores apostas da região para o turismo ecológico e de observação é a estrada parque, que ganhou o nome de “Transpantanal”, devido ao seu ecossistema e possibilidades de fauna e flora.

A Secretaria de Turismo denominou o local como “um verdadeiro paraíso escondido, com potencial para se tornar uma rodovia tão visitada quanto a Transpantaneira”. A via fica próxima à fronteira Brasil-Bolívia e tem 130 km de extensão.

Apesar das promessas, em visita ao local a reportagem presenciou muito pouco do que era esperando, com algumas espécimes de aves , cervos e alguns exemplares de jacarés a uma distância considerável. Não há nenhum tipo de hotel, restaurante ou serviço em toda a extensão da estrada, apenas três fazendas de apoio, das quais pudemos conhecer uma.

Dolina da Água Milagrosa

Um pedacinho de paraíso no meio de Mato Grosso. A Dolina de águas milagrosas, localizada numa fazenda a 18 quilômetros do centro de Cáceres é, sem dúvida, um local que todo mato-grossense deveria conhecer.

Muitas vezes as pessoas viajam para muito longe para ver algo similar, sem saber do potencial que temos, tão perto, tão fácil e acessível.

O local, administrado pelo senhor Lauriano Sebalho  e sua esposa, tem em sua entrada uma hospitaleira sede, com um pequeno restaurante, uma piscina, banheiros e um visual que vale a pena. Para chegar à atração principal o turista precisa caminhar cerca de 800 metros e depois descer 154 lances de escada.

O esforço vale a pena, pois, ao final está a Dolina, rodeada de árvores e, bem no meio, a água que, dependendo do período do ano é azul turquesa ou verde esmeralda.

Pelo preço módico de R$ 10 é possível fazer o passeio até lá. Para os mais curiosos a flutuação custa R$ 40 reais e o mergulho com cilindro custa, em média, R$ 150.

“Queremos desenvolver o turismo aqui, mas não temos muito incentivo de ninguém. Temos liberação para usar a área, liberação para mergulho com cilindro, flutuação e passeio”, explica Lauriano.

É necessário realizar agendamentos para visitar o local, especialmente se houver interesse em mergulho com cilindro, pois é necessário que um instrutor especializado realize o acompanhamento. “Tem que agendar, mas se a pessoa quer apenas visitar eu acabo atendendo, pois quero mesmo divulgar e muita gente vem de longe só para conhecer a Dolina”.

Eco Pousada Sininbu

Com clima intimista e muito aconchegante, a Eco Pousada Sininbu é um achado para quem deseja sentir um pouco do que é o Pantanal, sem ter que se isolar, já que o local fica próximo ao centro de Cáceres.

Antes de se tornar uma pousada, o local era casa de uma família de alemães que, após o falecimento do patriarca, foi vendido e então transformado em uma pousada com viés ecológico.

“Tudo aqui é pensado com preservação, reaproveitamento. Aqui é um minipantanal, tem o rio ali na frente, com animais o dia todo soltos e tentamos conviver harmoniosamente”, conta o empresário Fransergio Rojas Piovezam.

Ele explica que é possível chegar de barco até a pousada durante o período de cheia e que na seca há acesso através de uma passarela de madeira que vai até a Bahia do Malheiro, que dá acesso ao rio Paraguai. “Estamos dentro do pantanal e dentro da cidade ao mesmo tempo”.

A hospedagem no local varia entre R$ 150 a 220, com direito ao café da manhã.

“Acredito no potencial do turismo ecológico, com a cultura, gastronomia e vejo que temos poucas opções de hospedagem. Os turistas acabam tendo que ficar na BR e queremos oferecer o acesso ao pantanal dentro da cidade”.

Artesanato

Assim como ocorre na maioria das cidades de Mato Grosso – e arriscaria dizer do Brasil – em Cáceres os artistas também passam por dificuldades.

Apesar de toda a riqueza pantaneira com artesanato, música e muita cultura, a Associação Pantaneira dos Artesãos de Cáceres (Apac) espera há sete anos pela conclusão da Casa do Artesão, que está parada.

A associação tem dez anos em funcionamento, e já esteve presente em feiras estaduais, nacionais e até internacionais.

“Estamos aguardando a Casa do Artesão há sete anos. Isso desanimou o pessoal né. Estamos batalhando junto à prefeitura e órgãos competentes e quem mais pode ajudar o término da Casa. Nunca terminam, a coisa vem se arrastando. Venho cobrando de todos, pois nós precisamos de um espaço de utilidade pública para receber artistas, turistas, shows. Não temos um ponto aqui em Cáceres”, desabafa a presidente da Apac, Sueli Tocantins.

Ela conta que a associação esteve desativada por muito tempo por conta disso e que, cerca de dois anos atrás, decidiram reativar o grupo. “As pessoas foram deixando, abandonando. Decidimos colocar a associação na ativa, fizemos levantamento das dívidas e colocamos toda a parte burocrática em ordem. Depois disso chamamos os artesãos para voltar”.

O vice presidente dos artesãos, Carlos Viana Costa, afirma que, com a volta a procura por profissionalização do artesanato tem aumentado. “Hoje temos cerca de 20 artesãos, mas já tivemos 80 associados. Fomos profissionalizando, os artistas foram investindo nas ferramentas e melhorando para fazer cada vez mais e melhor”, explica, salientando que o trabalho é bem aceito, pois tem o apelo pantaneiro

Pesca Esportiva

Apesar da tentativa de implantar novas modalidades de turismo, a pesca esportiva ainda é o chamariz da cidade. Nas margens do Rio Paraguai é possível ver ribeirinhos pescando com anzóis de mão, escondidos na vegetação sobre as águas.

Mais próximo ao cais, diversas embarcações, de todos os tamanhos e para todos os gostos, bolsos e necessidade.

Responsável por uma dessas embarcações, Ricardo Oliveira explica que o setor tem investido no turismo para época da piracema, quando não é possível organizar passeio com grupos de pescadores, porém os barcos e chalanas não podem ficar parados.

 “A ideia é trabalhar o turismo ecológico, com empresas, igrejas, famílias para que os barcos não fiquem parados na piracema, com valores mais em conta e dias reduzidos”.

Ele explica que, no período em que a pesca é liberada, um passeio de barco pode chegar a custar R$ 4 mil por pessoa.

“Temos passeios de 4 a 6 dias, para o mínimo de 12 e máximo de 24 pessoas, com valores variando entre R$ 2700 e 4 mil reais, por pessoa, com todas as refeições e bebidas inclusas, além dos barcos de apoio com barqueiro”.

Os passeio saindo de Cáceres costumam ir até a reserva do Taiamã, 170 km rio abaixo. Há também pacotes até a cidade de Corumbá e Porto Jofre.

Josiane Dalmagro

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