A ideia do impeachment ganha força e se torna mais real a cada dia. Parlamentares de Mato Grosso anunciam estratégias focadas no pós-Dilma e coalisões sendo feitas ao redor do vice-presidente e próximo na linha sucessória, Michel Temer (PMDB). Enquanto isso, o Brasil fora do planalto continua polarizado politicamente, como mostraram as ruas e redes sociais nas últimas semanas.
De um lado camisetas da seleção, slogans como, "Vamos passar o Brasil a limpo", bonecos infláveis de Dilma e Lula, presença de artistas, intelectuais e políticos da direita e extrema-direita brasileira. E de outro, muita gente que veste vermelho, com gritos de “Golpe nunca mais”, com a adesão de movimentos sociais, artistas, políticos e intelectuais de esquerda.
O cientista político João Edson, explica, "não são mais só as pedaladas fiscais que serão julgadas, é o conjunto de fatores, e pesa do ponto de vista da opinião, o fator político sobre o fator jurídico".
Esta situação que mistura histeria, medo, ambição pelo poder e nenhum respeito à legalidade chegou ao seu auge na semana passada. No entanto, ocorre desde o início do segundo mandato de Dilma. O governo se encontra paralisado, sem poder governar, assistindo sua base aliada abandonar o barco e a esquerda, que ele mesmo abandonou em diversos momentos, ir à rua e defendê-lo com unhas e dentes.
A última onda de inflamação política começou no último dia 4, com a condução coercitiva de Lula para prestar depoimento na 24º fase da Operação Lava-Jato. Os acontecimentos após o depoimento de Lula ajudaram a estimular a situação. 12 dias depois Sergio Moro – juiz federal à frente da Operação Lava-Jato – vazou grampos de Lula para a imprensa, incluindo conversas entre ele e a presidenta. Dilma, por sua vez, nomeou Luiz Inácio para ministro-chefe da Casa Civil, e por último (até agora) foi criada a comissão especial do Impeachment na Câmara dos Deputados.
Três dos deputados federais de Mato Grosso estão na Comissão Especial do Impeachment: Nilson Leitão (PSDB), Valtenir Pereira (PMDB) e Victório Galli (PSC), como suplente do deputado Marco Feliciano (PSC). A comissão, que foi formada na quinta-feira (17.03), é constituída por 65 deputados e tem como função dar um parecer sobre o pedido de impeachment. O grupo terá 15 sessões parlamentares plenárias para chegar a um veredicto, sendo que quatro destas já foram realizadas, até o fechamento desta edição. Caso o resultado desta comissão seja favorável a um processo de impeachment, ele ainda deve ser aprovado por dois terços da Câmara (342 de 513 deputados) e ratificado por maioria simples do Senado (de 81 cadeiras).
No entanto, um dia após sua formação, a comissão já teve sua idoneidade contestada. Segundo a prestação de contas dos deputados, dos 65 integrantes da comissão, 40 receberam dinheiro de empresas investigadas pela Operação Lava Jato ou de suas subsidiárias durante a campanha de 2014.
A linha do tempo dos últimos acontecimentos é confusa e cheia de interpretações, teria sido legal a condução coercitiva e o grampo da conversa entre Lula e Dilma? Os fins justificam os meios? É imoral ou ilegal a posse de Lula? As investigações da Lava-Jato são imparciais? É um golpe político? Ou um ato democrático? A comissão tem idoneidade para julgar o processo? As respostas destes questionamentos dividem o país em pró-impeachment e contra impeachment.
Para o cientista político, o processo de impeachment não é sobre corrupção, mas um jogo político. "A oposição não pensa necessariamente em corrupção, mas em tomar o poder, assim como quem está no poder também não pensa em corrupção, mas em ficar no poder".
E aqueles que nos representam em Brasília, de que lado estão? Com a formação da Comissão Especial do Impeachment e a pressão nas redes sociais tem sido difícil manter-se neutro sobre a questão. Mato Grosso tem 11 parlamentares no planalto, três senadores e oito deputados federais. Destes, dois senadores e cinco deputados são a favor do impeachment, um senador e dois deputados ainda não se posicionaram ou se mantêm neutros, e somente o deputado Ságuas Moraes é declaradamente contra.
Pró impeachment |
Contra impeachment |
Neutros |
Senador Blairo Maggi |
Dep. Ságuas Moraes |
Senador Wellington Fagundes |
Senador José Medeiros |
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Dep. Carlos Bezerra |
Dep. Fabio Garcia |
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Dep. Valtenir Pereira |
Dep. Nilson Leitão |
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Dep. Victório Galli |
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Dep. Adilton Sachetti |
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Dep. José Curvo – suplente de Ezequiel Fonseca |
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Nilson Leitão (PSDB)
Presidente estadual do PSDB e um dos líderes emergentes da oposição no Congresso Nacional, Nilson Leitão (PSDB) é a favor do processo de impeachment. O deputado faz militância ativa nas redes sociais, participa de protestos contra o governo, e apoia publicamente o Movimento Brasil Livre (MBL), principal organização popular na luta pelo impeachment. Ao ser questionado sobre a nomeação de Luiz Inácio para o ministério da Casa Civil, o parlamentar afirma, “Ambos [Lula e Dilma] cometeram crime. Ele, tentando ludibriar a justiça sendo nomeado, e ela agilizando a nomeação com dolo, com intenção de cometer o crime. Isso é gravíssimo. Com esse aparelhamento que o governo fez do país, eles simplesmente apagaram o Palácio do Planalto como palácio do governo federal e vão torná-lo no QG do PT e dos criminosos do PT”.
Nilson Leitão também faz parte da Comissão especial do Impeachment, e está entre os 40 deputados acusados de receber doações de empresas investigadas na Lava-Jato. A maior contribuição para sua campanha eleitoral de 2014, R$ 511.550, veio de duas empresas investigadas na Operação Lava Jato. Sendo R$ 500 mil da empresa Galvão Engenharia SA e R$ 11.550 da construtora Andrade Gutierrez.
Em sua defesa, Leitão afirmou que as doações das empreiteiras foram feitas ao diretório nacional do PSDB, e só então distribuídas entre os candidatos a deputado federal. Ainda complementou que as doações não interferem em seu posicionamento, que sempre foi a favor do impeachment de Dilma Roussef.
Valtenir Pereira (PMDB)
Valtenir Pereira (PMDB) é membro de um dos partidos da base aliada do governo que, por enquanto, permanece junto ao governo federal. O deputado, junto com Wellington Fagundes, é um dos poucos que permanece sem tomar posição publicamente. Sobre sua participação na Comissão Especial do Impeachment, Valtenir declara, “Minha análise se pautará numa dedicada e profunda avaliação jurídica do processo, para chegar a um adequado juízo de valor e definir o meu voto. Vou agir com a independência e com a sensatez que sempre pautaram minha vida parlamentar, doa a quem doer. Não me furtarei a seguir a Constituição e toda legislação cabível nesse processo de impeachment”.
Victório Galli (PSC)
Deputado federal pelo Partido Social Cristão, Galli entra na comissão como suplente de Marco Feliciano. Seu partido conta com figuras marcantes da extrema direita e da direita religiosa brasileira, como o já citado Marco Feliciano, Pastor Everaldo e o deputado Jair Bolsonaro. O deputado é explícita e impetuosamente, oposição ao governo Dilma, inclusive se refere ao governo federal como “desgoverno”, e critica aqueles que permanecem neutros: “No meu entendimento, quem foi feito para ficar em cima do muro é tijolo e não sou isso. Os demais (que não se posicionaram), cada um assume com seus compromissos”. Em caso de impeachment, Galli apoia a ascensão do vice-presidente Michel Temer (PMDB), “Eu voto a favor do povo e ponto final. Precisamos limpar tudo, fazer uma limpeza geral. O PMDB também está lá, mas vamos ter um fôlego, vai oxigenar mais a política. O Michel Temer é mais político, sabe conversar, é muito articulista, acredito que vai melhorar”.
José Medeiros (PSD)
José Medeiros (PSD), eleito como primeiro suplente de Pedro Taques, se tornou parlamentar efetivamente após a renúncia de Taques, para tomar posse como governador do estado de Mato Grosso. Medeiros é um dos parlamentares que apoia o impeachment com fervor. Em entrevista ao Circuito Mato Grosso o senador defende o impeachment, “A presidenta Dilma já reuniu as condições em que um presidente não consegue mais continuar no cargo. Há farta fundamentação legal, de cometimento de crime no exercício do cargo, ela já perdeu apoio político no Congresso, sem o qual o presidente não consegue governar, e ela já perdeu o apoio das ruas. Então, o tripé necessário para o impeachment no país já aconteceu”.
Sobre as acusações de golpe José responde, “Estão acusando a oposição de golpismo, mas eles deram um autogolpe. Eles estão tentando fazer a substituição branca da presidenta, nomeando o Lula ministro, o que é uma loucura, uma falta de sensibilidade neste momento eles tentarem fazer isso”.
O senador ainda declara que o pós-impeachment já está sendo construído pela oposição, “Os partidos da oposição já estão pensando o pós-Dilma, o vice-presidente está muito arredio ainda e não quer conversar, mas nós estamos insistindo para que ele converse. O nosso foco agora é construir uma coalisão, nos mesmos moldes que foi construído com Itamar Franco, conseguir os partidos todos, não para virar base de apoio do governo, mas fazer o alicerce necessário para o País voltar a andar.”
José Curvo (PDT)
Membro da base aliada do governo federal que se debandou para oposição, José Curvo (PDT) foi um dos últimos parlamentares de Mato Grosso a se posicionar. Curvo, que está atualmente na Câmara como suplente de Ezequiel Barbosa, seguiu a determinação de seu partido PDT, mesmo do governador Pedro Taques. "A gente estava até ponderando no início, porque não tinha motivo que chegasse na Dilma, surgiram as pedaladas, que era improbidade, mas outros presidentes já tinham feito o mesmo, não tinha conta na Suíça, por exemplo. Até que chegou a delação de Delcidio, acusando a presidenta de usar recurso da Petrobrás em sua campanha de 2014, mais a nomeação do Lula e agora parece que vai piorar, a Odebrecht vai fazer o acordo de delação. Então o País tá quebrado, parado, empresários fazendo demissões em massa, a instabilidade do dólar, não dá mais pra aguentar três anos disso aí", declarou o deputado.
Blairo Maggi (PR)
Integrante do Partido da República, que foi base de apoio para a reeleição do governo Dilma, Blairo Maggi defende a mudança para oposição, “Logo depois das eleições, no início de 2015, frequentava as reuniões de lideranças com os outros partidos. Começamos a perceber que as coisas iriam ser diferentes daquilo que se falou na eleição. Houve barbeiragem no processo, e eles começaram a insistir muito de que ainda iríamos entrar numa crise, mas que seria de problemas externos. Não é verdade.”
A favor do impeachment da presidenta Dilma, Blairo comentou sobre a nomeação de Lula para ministro-chefe da Casa Civil em entrevista ao Estadão comentou, “Acho um erro ele voltar. Ele vai virar um superministro e a presidente vai virar a rainha da Inglaterra. Como diz na Bíblia, não dá para servir dois senhores ao mesmo tempo”.
A principal preocupação de Maggi é a crise na economia. Segundo o senador o conflito político fica em segundo plano. “Se for resolver o político para depois o econômico, nós vamos chegar em 2018 esfacelados. E se os negócios começarem a andar, criando um ambiente para destravar o País, vai trazendo também a possibilidade de destravar a política. Então, penso que se houver o afastamento da presidenta essas mudanças no comando criarão um ambiente favorável para os negócios novamente”, argumentou. Além disso, Blairo confia fortemente em Michel Temer, “Ele demonstra é que está pronto. Se tiver que agarrar o chifre do boi ele vai agarrar”.
Wellington Fagundes (PR)
Membro da Comissão Especial que irá analisar o processo de impeachment na Câmara, Wellington Fagundes se mantém publicamente neutro sobre a questão. No entanto, concorda com o cientista político José Edson, no que concerne ao aspecto político sobre o jurídico na decisão do impeachment. O deputado discorda que o processo seja analisado só pelo viés legal, “Na verdade as ruas têm que ser ouvidas. Nós não podemos deixar de ouvir o sentimento da população”.
Sobre a sua posição como membro da Comissão declara, “Tirarei as minhas conclusões e votarei, se chegar aqui no Senado, com muito equilíbrio. Agora, é claro que não me curvarei àqueles que, de forma radical, entendem que eu tenha que tomar uma postura isolada, sem ouvir o partido, ou sem consciência daquele que é o meu papel, para o qual fui eleito legitimamente”. Outro integrante do Partido da República, Blairo Maggi é publicamente a favor do impeachment.
Fabio Garcia (PSB)
O deputado há até pouco tempo indeciso, seguiu a direção de seu partido, que em nota oficial firmou o apoio à oposição. “O cenário atual é insustentável e exige mudança imediata: um novo caminho capaz de pacificar o País, acabar com a crise política, garantir a retomada do crescimento econômico e o resgate da confiança dos brasileiros. Somente um novo modelo de governo com um novo projeto para o País será capaz de reverter o atual quadro e reconduzir o Brasil para um futuro melhor”, afirmou o Fabio. Em sua página oficial, ainda reitera com entusiasmo sua posição, “Nem o Lula, nem a Dilma, nem o PT são maiores que o Brasil e a vontade dos brasileiros”.
Ságuas Moraes (PT)
O único dos parlamentares de Mato Grosso que se posiciona veementemente contra o impeachment e também o único membro do Partido dos Trabalhadores, Ságuas afirma “A oposição insiste no golpe, quer o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), mesmo sem os elementos legais e não apresenta alternativas para o País”. Refuta ainda o argumento de que a crise política seria a causa da instabilidade econômica brasileira, “Mesmo com todas as dificuldades, o desemprego e a inflação ainda são menores que os índices do período em que o tucano Fernando Henrique Cardoso governava o País”.
Adilton Sachetti (PSB)
Integrante do Partido Socialista Brasileiro, que já era oposição à Dilma durante as eleições passadas, Adilton confirma seu posicionamento em declaração ao Circuito Mato Grosso, "O impeachment é um movimento da sociedade, por isso sem conotações partidárias. Nenhum partido tem o direito de tomar posse dessa bandeira, que é do povo. A população já impeachmou a Dilma. No momento oportuno votarei sim a favor do impeachment, mas vou seguir todos os trâmites legais de um processo legítimo e democrático."
Carlos Bezerra (PMDB)
Sem nenhum posicionamento oficial e sem retornar aos contatos do Circuito Mato Grosso, Carlos Bezerra é o único que não se manifestou sobre o assunto. Diferente de seu colega Valtenir Pereira, que publicou nota oficial afirmando sua neutralidade, Carlos Bezerra se mantém uma incógnita. O silêncio de Bezerra pode ser resultado de um conflito nos bastidores. Segundo o cientista político José Edson, o PMDB se reunirá esse mês para decidir se abandona de vez a base aliada de Dilma Roussef. Como partido de Michel Temer, sucessor em caso de impeachment, são fortes os indícios de que o PMDB assuma seu posicionamento de oposição. Para José Edson, cientista político, “Se isso de fato ocorrer, o PT não tem condição de continuar”.