Política

Distância do “companheiro de luta” em tempos políticos difíceis

Um dos principais cabos eleitorais do ex-presidente Lula (PT) durante sua reeleição ao Palácio do Planalto, em 2006, o senador Blairo Maggi (PR) se distanciou da sucessora e “herdeira” direta do grupo político que elegeu o ex-sindicalista para o seu primeiro mandato, em 2002. O ex-governador de Mato Grosso, que ficou à frente do Palácio Paiaguás entre os anos de 2003 e 2010, já declarou publicamente ser a favor do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, que tramita no Congresso.

No início da gestão de Luiz Inácio “Lula” da Silva no Palácio da Alvorada, o então governador de Mato Grosso pelo Partido Popular Socialista (PPS), cultivava uma relação de certa indiferença com o chefe do executivo nacional. Maggi, o maior produtor individual de soja do mundo, observava com cautela as ações do governo federal para o agronegócio, uma vez que, entre outras coisas, o PT sempre foi aliado histórico do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST).

Mas ao fim do mandato da primeira gestão de Lula, tudo mudou: de olho em conseguir o apoio político e financeiro dos empresários do agronegócio brasileiro, o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores enxergou em Maggi um potencial aliado que poderia colocá-lo nos palanques dos discursos e nas reuniões com os empresários do campo. O ex-governador de Mato Grosso era a pessoa ideal para “vender” uma nova imagem do antigo líder sindical aos investidores.

Maggi, por sua vez, estava de olho em investimentos na logística, como a BR-163 (Cuiabá-Santarém) e BR-158 (Barra do Garças Vila Rica), além, é claro, de subsídios para os empresários do agronegócio brasileiro, sendo ele mesmo um dos principais representantes dessa seara, lucrando duplamente com a aproximação, de maneira política e econômica. Em especial, vale citar um empréstimo de R$ 3 bilhões aos agricultores endividados, considerada por pessoas próximas fator chave para que Lula obtivesse apoio do ex-governador de Mato Grosso.

Também merece destaque o anúncio do investimento de R$ 5,5 bilhões em Mato Grosso, feito na ocasião da visita do ex-presidente a Alta Floresta (812 km de Cuiabá) para o lançamento do “Mutirão Arco Verde”, um conjunto de ações que pretendia combater o desmatamento ilegal na Amazônia, além da prática de grilagem. O evento foi realizado em setembro de 2009.

Nos anos recentes, o último grande ato entre Blairo Maggi e Lula foi a viagem a Cuba, em 2014, a convite do ex-presidente. Maggi foi convidado pelo ex-presidente para conhecer as plantações da ilha e ajudar no intercâmbio de conhecimentos técnicos para aumentar a produtividade da produção agrícola cubana.

Na ocasião, eles também visitaram o Porto de Mariel, num país da América Central, construído por empréstimo por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômica e Social (BNDES). A obra custou US$ 682 milhões.

Com Lula fora, Maggi muda o tom

A lua de mel entre Blairo Maggi e o governo federal parece mesmo ter findado quando Lula deixou a presidência da República, em 2010. A relação começou mal já nas eleições majoritárias daquele ano. Quando Silval Barbosa (PMDB) se reelegeu governador, e Maggi conseguiu sua cadeira no Senado, a cúpula de campanha petista questionou ambos pelo fato de Dilma Rousseff ter perdido para o então candidato José Serra (PSDB) em Mato Grosso.

No Estado, José Serra obteve 44,16% dos votos válidos, superando Dilma Rousseff, que somou 42,94%.

No ano seguinte, em 2011, Maggi foi sondado pelo Ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, sobre a possibilidade de assumir o Ministério dos Transportes. O senador, no entanto, recusou o convite, dizendo que “suas relações empresariais” poderiam influenciar negativamente seu desempenho à frente da pasta.

Logo depois, Maggi cobrou publicamente uma definição acerca de seu “afilhado” político, Luiz Antonio Pagot, na época diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que tirou “férias compulsórias” do cargo em virtude de suspeitas de comandar um esquema de superfaturamento de obras. “Se querem mandar o cara embora mesmo, então mandem logo”, afirmou o senador na ocasião.

Pensando nas eleições majoritárias de 2014, entre o final de 2012 e 2013, Maggi e Dilma ensaiaram uma reaproximação. Ao senador, interessava estar à frente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), ocupado pelo atual governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). 
As negociações perduraram até o fim de 2013, sem sucesso.

Animosidade marca relação atual entre Dilma e Maggi

Com a perspectiva da difícil eleição de 2014, Dilma ainda pretendia contar com o apoio de Blairo Maggi e seu antigo vice, eleito governador de Mato Grosso quatro anos antes, Silval Barbosa.

Mas apesar de ambos estarem ao lado da presidente no ato simbólico da colheita da safra de soja 2013/2014, realizado em fevereiro de 2014 na cidade de Lucas do Rio Verde (354 km de Cuiabá), os apoios regionais, pretendidos por Dilma e o Partido dos Trabalhadores, não foram suficientes para que a ela vencesse em Mato Grosso seu candidato mais perigoso, Aécio Neves (PSDB).

O resultado frustrante não foi visto com bons olhos pela cúpula da eleição de Dilma que, apesar de ter vencido pleito no cenário nacional, começou a se afastar do senador do Partido da República.

Em abril de 2015, Blairo fez uma das críticas mais contundentes até então para a presidente Dilma. Dizendo-se “enganado”, ele afirmou que o Ministério da Fazendo estava dando “calote” com a paralização de obras, e a suspensão de pagamentos.

“Politicamente tenho muitos colegas que não apoiaram a presidente Dilma. Eu apoiei, pedi voto. Fiz em nome de muitos projetos e, assim como muita gente se sente enganada, eu me sinto enganado. Eu fui derrotado”, disse.

O senador afirmou ainda que “estava errado e os que estavam contra mim, certos”. 

A relação entre os dois estagnou mais rapidamente com o apoio declarado de Blairo Maggi à queda de Dilma Roussef, que sofre um processo de cassação na Câmara dos Deputados. Nas redes sociais, uma foto do senador com a camisa do movimento “Muda Brasil”, que defende o impeachment, já foi alvo de sátiras e críticas, devido ao histórico de apoio aos governos do PT e ao fato de que o próprio Maggi é alvo de um inquérito sigiloso da “Operação Ararath”, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Todos aqueles que não estão de acordo com o governo, com a situação econômica que estamos vivendo nesse momento, que quer uma mudança precisa ir pra rua porque o Congresso Nacional poderá e fará sua parte, mas só se mexerá se tiver um apoio popular bastante forte. Portanto, vem você pra rua e muda Brasil”.

Senador foi um dos “financiadores” da Copa

Blairo Maggi, ainda governador de Mato Grosso, foi um dos principais apoiadores da vinda dos jogos da Copa do Mundo para o Estado. Em todo o processo de escolha – primeiro do Brasil como país que sediaria o evento e em seguido Cuiabá como uma das cidades-sede que realizariam os jogos -, o senador do Partido da República esteve ao lado de Lula, que em troca de apoio dos empresários do agronegócio, chegou a afirmar que “Mato Grosso reúne todas as condições para receber o evento”.

Na ocasião do anúncio de Cuiabá, quatro telões foram montados em diferentes pontos da capital para que as pessoas acompanhassem a decisão da FIFA. A polícia militar estimou que 10 mil pessoas saíram às ruas em comemoração pela escolha, que contou com apresentações culturais e performances de artistas, evidenciando o ganho político que os gestores que bancaram a iniciativa poderiam ter.

Blairo Maggi, ainda governador, acompanhou a transmissão da Praça 8 de Abril, ao lado do prefeito de Cuiabá na época, Wilson Santos (PSDB), secretários estaduais e municipais, além de deputados e correligionários. O senador disse que uniria a classe política, pois se tratava “de um momento histórico para Mato Grosso”.

Veja mais na edição 574.

Diego Fredericci

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