Cidades

Problema social: Flanelinhas são retirados das ruas de Cuiabá

Foto Ahmad Jarrah

O trabalho de cuidadores de carros, popularmente conhecidos como “flanelinhas”, desempenhado nas principais avenidas e ruas de Cuiabá, traz para perto uma parte negligenciada das cidades. O serviço é feito por pessoas que não encontraram lugar na formalidade de empresas e, em muitos casos, por usuários de drogas.

Não há um levantamento do número de flanelinhas que atuam na cidade. Nas ruas o que se encontra, na maioria dos casos, são usuários de drogas desempenhando a função. Segundo levantamento da Secretaria de Ordem Pública e Assistência Social e Desenvolvimento Humano 80% dos guardadores ilegais são dependentes químicos.

Dilsinei Mendes, 27, conhecido como “Chiquinho”, trabalha próximo à Delegacia do Trabalho, no Porto, e tem apoio da população para continuar seu trabalho ali. Segundo uma funcionária, já tentaram tirá-lo algumas vezes do local, mas ele sempre volta. “Ele cuida da gente” diz.

O flanelinha, morador de rua e usuário de drogas, cuida de carros há oito anos naquele local. “Eu ganho uns R$ 40 por dia, mas nos fins de semana não trabalho. Alguns policiais vieram aqui e pediram para eu não ficar mais aqui. Fiquei uma noite fora, e depois voltei”, revela.

Há seis meses a Prefeitura de Cuiabá, com apoio da Polícia Militar, fechou o cerco para os flanelinhas. Eles foram retirados do centro financeiro e de bairros empresariais e comerciais, como o Santa Rosa e Bosque da Saúde. Os locais foram escolhidos devido aos frequentes casos de furtos e arrombamentos em veículos, além do registro de um estupro, em que o suspeito de ter praticado o crime seria ou estaria se passando por cuidador de carro. 

Na segunda-feira (22) uma nova ação foi realizada na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Avenida do CPA). Nela, 16 “flanelinhas” foram autuados e receberam orientações quanto ao processo da ação.

O secretário-adjunto de Ordem Pública, Zilmar Dias da Silva, esclareceu que a operação se faz necessária para proteger a população, visto que além da atividade ser ilegal, existe ainda, uma série de situações que colocam em risco a segurança das pessoas. 

“Nós temos casos de extorsão, de ameaça a integridade das pessoas. E  dentro dessa realidade, recebemos a determinação das ações para combater esta prática e não deixar que se prolifere esse tipo de atividade irregularidade pela capital”, disse.

Para o secretário, a população não deve aceitar este tipo de prestação de serviço, pois os guardadores não oferecem nenhuma segurança ou amparo.  “Uma vez que as pessoas não cedem a eles, também nos auxiliam na fiscalização. Se não alimentamos a prática, eles não terão o porque continuar com ela. Não queremos tirar o sustento de ninguém. Pelo contrário, estamos dentro da lei e o nosso objetivo é auxiliar a todos,” disse.

Viviane Zvolinski Matozo, 31 anos, usuária de drogas e moradora de rua, trabalha em um restaurante no horário do almoço e há 4 anos é flanelinha. “Eu fico revoltada. Os policiais não querem deixar a gente cuidar de carro. Não é melhor cuidar de carro que roubar? Melhor cuidar honestamente! Até quem trabalha vendendo coco eles tiraram. Os carros precisam da nossa ajuda até pra estacionar”, afirma.

A flanelinha diz ainda que, caso o cuidador de carro trabalhe durante todo o dia, ele consegue tirar mais de R$100 e que, para garantir esse dinheiro, não exige nenhum tipo de valor do cliente. “O que a pessoa sentir no coração dela que deve dar, a gente agradece. Mas tem uns colegas que fazem ‘patifaria’, que riscam o carro, sim”, admite.

Outro flanelinha, que desempenha o trabalho há 25 anos na Avenida do CPA, não quis ser identificado, pois, segundo ele, as pessoas não diferenciam o trabalho que ele faz, com o que alguns usuários de droga fazem. “O que atrapalha nosso trabalho são eles. Os outros vêm, olham os carros de clientes durante meia hora e depois somem para comprar drogas. Eu não sou assim”.

FLANELINHA COMO PROFISSÃO

Muitos não sabem, mas a função de cuidador de carro não é crime. O que caracteriza como crime é o fato de o motorista se sentir obrigado a pagar, após ser coagido. O que caracteriza como crime é o fato de o motorista se sentir obrigado a pagar, após ser coagido. E ainda, exercer ilegalmente a profissão como previsto Artigo 47 da Lei das Contravenções Penais. O recomendado, é que caso o motorista que se sinta coagido, vá a uma delegacia e faça o registro de Boletim de Ocorrência. 

Contudo, caso o flanelinha queira se profissionalizar, a atividade é regulamentada pela lei Nº 6.242, de 1975, que trata a questão no âmbito trabalhista. Segundo a lei, “o exercício da profissão de guardador e lavador autônomo de veículos automotores” deve ser regulamentado na Delegacia do Trabalho. Entretanto, é necessário a apresentação de identidade; atestado de bons antecedentes; certidão negativa dos cartórios criminais de seu domicílio. E é ai que os flanelinhas encontram o entrave.

A flanelinha Viviane afirma é a favor da regulamentação da prefeitura sobre o trabalho, mas diz que muitos dos seus amigos possuem passagem pela polícia e não têm os documentos necessários. “O problema é que muito de nós não tem nem os documentos”.

LOJISTAS

O que pode ser um incômodo para quem estaciona o veículo nas ruas da cidade, também atrapalha comerciantes. Segundo o diretor da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL), Ozair Bezerra, muitos comerciantes que trabalham no Centro da cidade alegam estar perdendo cliente para shoppings e centros comerciais. 

“Você não sabe se os flanelinhas realmente guardam os carros, ou os lesam. Alguns clientes reclamam de carros riscados, pneus furados e, há ainda, alguns casos de furtos com a participação deles. Há uma desorganização quanto a isso”, denuncia.

Para o presidente, uma solução imediata seria a volta do estacionamento rotativo, em Cuiabá chamado de “Faixa Verde”. “Nós, comerciantes, pedimos a volta da faixa verde. Quando existia a faixa verde, havia uma organização e profissionalização dos cuidadores. Claro que nem todos os flanelinhas devem ser excluídos das ruas com a faixa verde, mas haveria uma seleção, algo que os profissionalize e que tenha preço fixo. Uma coisa mais legal para cidade e para o consumidor”, sugere. 

FAIXA VERDE

O processo de licitação do sistema de estacionamento rotativo de Cuiabá, que estava suspenso desde janeiro, foi republicado pela Prefeitura de Cuiabá com suas devidas correções, como a cobrança de caçambas e isenção da cobrança nas áreas destinadas aos pontos de táxi e de moto-táxi. Com a reabertura da licitação, as propostas serão verificadas no dia 1º de abril, na sede da prefeitura.

O valor da tarifa, por hora, será de R$ 2,50 para automóveis e de R$ 1,50 para motocicletas (com período mínimo de 30 minutos, pagando o valor proporcional), e o funcionamento será de segunda a sexta-feira das 7h às 19h e aos sábados, das 7h às 13h. O sistema deve ser implantado em 32 ruas da Capital e contempla mais de 1,5 mil vagas, sendo 1,2 mil para carros e 300 para motos.

Cintia Borges

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