Cidades

2015 tem fechamento recorde de lojas em Mato Grosso

Ahmad Jarrah

A difícil fase econômica pela qual vem passando o País já afetou milhares de comerciantes brasileiros. Um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que mais de 95 mil lojistas de todo o Brasil fecharam as portas no ano passado. 

A quantidade de estabelecimentos ativos caiu de 713 mil, no fim de 2014, para 617 mil um ano mais tarde, o que representa retração de 13,4% nos empreendimentos comerciais com pelo menos um funcionário. Em Mato Grosso, 1.780 empresas do ramo de comércio e prestação de serviços encerraram as atividades no período em questão – o equivalente a 1,86% das baixas de todo o País.

Ao contrário do panorama verificado no ano passado, em 2014 foi registrado saldo positivo de 1.267 empresas abertas. A mudança brusca reflete principalmente a queda substancial das vendas no varejo, mas outros fatores também afetaram os empreendedores, como a elevação dos custos com energia elétrica, folha de pagamento, além da alta tributação e da falta de incentivos.     

Queda das vendas

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que as vendas decresceram 4,3% no decorrer do ano passado. Esse é o maior recuo da série histórica, iniciada em 2001 pelo IBGE. “Essa crise no varejo provocou fechamento recorde de estabelecimentos em 2015. Estamos atravessando o pior momento em vendas dos últimos 15 anos”, enfatiza Evaldo Silva, superintendente da Federação do Comercio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Mato Grosso (Fecomércio).

No varejo ampliado, que incluem automóveis e materiais de construção, a retração foi ainda maior, de 8,6% no mesmo período. Nem as grandes lojas do varejo foram poupadas: nos últimos 12 meses, esses estabelecimentos registraram recuo de 14,8%. Os segmentos de materiais de construção (-18,3%), informática e comunicação (-16,6%), móveis e eletrodomésticos (-15,0%) foram alguns dos mais afetados.

Em termos absolutos, o segmento de hipermercados, supermercados e mercearias teve a maior redução no número de lojas em relação a 2014. Foram 25,6 mil estabelecimentos fechados no ano passado. Esse segmento e o de lojas de vestuário e acessórios representam 45,0% das baixas de empresas.

Na comparação com 2014, o único setor que apresentou aumento no volume de vendas foi o de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos, com 3% de avanço. Todos os demais segmentos recuaram: os de móveis e eletrodomésticos, hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, tecidos, vestuário e calçados e combustíveis e lubrificantes.

Crise geral

Dos pequenos aos grandes, todos foram afetados. Lojas de pequeno porte caíram 12,5%, micro empreendimentos recuaram 12,9%, as empresas médias 16,5%, o comércio varejista caiu 13,4% e os grandes estabelecimentos caíram 14,8%. Ao que tudo indica, o volume de fechamentos deve continuar aumentando nos próximos meses.

“Estamos em uma grande recessão e não há perspectiva de que as vendas sejam retomadas. Um estudo prevê queda de 3,9% no varejo em 2016. É o número com que estamos trabalhando em âmbito nacional”, informa o superintendente da Fecomércio. 

Adaptação

Na tentativa de continuar tocando o negócio, muitos empreendedores vêm reduzindo as margens de lucro, cortando gastos com folha de pagamento e encolhendo a estrutura de todas as formas possíveis. Mas, quando tais medidas ainda não são suficientes, encerrar as atividades acaba sendo inevitável.

Depois de manter um estabelecimento comercial por mais de quatro anos, o empresário Ricardo Parreira resolveu fechar a loja e dar prioridade a outro negócio.  “Não estamos fechando só por causa da crise, mas a queda das vendas contribuiu bastante pra essa decisão. As vendas começaram a diminuir no meio do ano passado e poucos meses depois o movimento caiu cerca de 50%. Já estamos operando há trinta dias sem funcionários e começamos o processo de fechamento da loja, liquidando tudo pra encerrar as atividades”, resume. 

Devido ao alto preço dos aluguéis, muitas salas comerciais permanecem ociosas por longos períodos. O comerciante João Gabriel Muniz diz que o alto custo para manter o ponto foi um dos fatores que levou ao fechamento do estabelecimento. Desde que encerrou as atividades, no começo do ano passado, nenhum outro negócio foi aberto no local. “Eu tinha uma lanchonete e vendia polpa de frutas. Como o preço do aluguel mais que dobrou em menos de cinco anos e as vendas caíram muito, a gente acabou fechando. Já faz um ano e o espaço continua lá pra alugar”, conta. 

 No caso de Muniz, a saída mais viável foi fechar a loja física e criar novas dinâmicas para prosseguir no ramo. “Agora estamos atendendo por telefone e foi isso que ajudou a gente a permanecer no mercado. Se não fosse assim, a gente teria encerrado as atividades definitivamente”, avalia.

Desemprego

O grande volume de baixas ocasionou a queda de 2,2% do número de empregos relativos ao setor em 2015. A estimativa é de que pelo menos quatro mil funcionários registrados tenham perdido seus postos de trabalho em Mato Grosso. Situação que se agravou no segundo trimestre do ano passado, quando a taxa de desemprego saltou de 3,9% para 6,2% ante o mesmo período de 2014. De acordo com o levantamento do IBGE, o índice nacional foi ainda mais elevado, de 8,3%, sendo essa a maior taxa da série histórica.

Além dos transtornos enfrentados por quem perdeu a fonte de renda, a preocupação é ainda maior, devido à dificuldade na hora de encontrar um novo trabalho. “Dava pra perceber que as vendas estavam caindo, mas não imaginei que perderia o emprego, até porque já estava há mais de três anos na loja. Agora é continuar tentando outro, mas não está fácil”, conta Jeniffer Alves, que trabalhava em uma loja de roupas.     

Tributos

Altos custos com folha de pagamento, energia elétrica e a dificuldade para obtenção de crédito são alguns dos fatores que pesaram na decisão dos empresários de encerrar o negócio. No entanto, a categoria é unânime ao apontar a cobrança abusiva de impostos como o principal desestímulo para o setor.  

“Não adianta os governos municipal, estadual e federal aumentarem ou criarem novos impostos pra arrecadar mais. Se não circula mercadoria, não tem arrecadação, então precisamos baixar a tributação. O maior problema para o empresariado brasileiro é essa carga tributária pesadíssima”, pontua Evaldo Silva.

“Em vez de o governo tentar movimentar o mercado, reduzindo impostos e concedendo algum benefício pras empresas, o que a gente vê é um aumento pesado da carga tributária. Além de faltarem incentivos, a gente acaba sendo muito desestimulado na hora de abrir ou tentar expandir um negócio”, lamenta Parreira.

Panorama

Apesar da acentuada queda das vendas em 2015, este cenário já vinha sendo formando desde 2014. Naquele ano, o número de empresas mato-grossenses cresceu 1,6%, mesmo com o início da retração das vendas, que também fechou com queda de 1,6%. Enquanto a média nacional da baixa de empresas ficou em 13,4%, em Mato Grosso esse índice foi um pouco menos elevado: 9,7%.

Atividade econômica

O desempenho da atividade econômica em 2015 foi o pior já registrado pelo Banco Central (BC) desde o início da série histórica, em 2003. O segundo pior resultado é referente a 2009, quando houve retração de 1,71%. Em 2014, comparado com o ano anterior, a queda ficou em 0,15%, segundo dados do BC divulgados no último dia 18.

O estudo mostra que no último trimestre do ano comparado com o terceiro trimestre, houve queda de 1,87%, de acordo com os dados dessazonalizados (ajustados para o período). Em relação ao quarto trimestre de 2014, a queda foi maior: 6,34%. Em dezembro, o IBC-Br registrou queda de 0,52 %, na comparação com novembro.

O IBC-Br é uma forma de avaliar a evolução da atividade econômica brasileira. O índice incorpora informações sobre o nível de atividade de três setores da economia: indústria, comércio e serviços e agropecuária.

Veja mais sobre essa matéria na edição 572.

Thales de Paiva

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