Opinião

JORGE MAUTNER, PATRIARCA DA INDEPENDÊNCIA

Jorge Mautner, “o filho do holocausto” (álbum de 2012), como eternizou o documentário que evidencia as almas do artista (como o povo indígena Nambiquara, ele também tem mais de uma alma), impregnadas de cultura brasileira. Aos recéns 75 anos, o cantor, compositor, escritor e roteirista carioca, autor do Kaos (1964) dos anos de ferro, compartilha da ideia de que o brasileiro partiu “de um mesmo berço de ideias, que une a visão antropofágica de Oswald de Andrade até a afirmação cultural da negritude brasileira”. 

Apaixonado pelos jeitos de ser brasileiro, é um alquimista. Preza pela mistura ou poção de pessoas ou coisas diferentes, amálgama que vem, segundo ele, desde José Bonifácio de Andrade e Silva. Mas, o que aproxima Mautner a Bonifácio?

Mautner, em entrevista, referiu-se a José Bonifácio como “um dos primeiros brasileiros a valorizar a nossa mistura de sangue, a nossa mestiçagem como nossa maior riqueza social e cultural, que cria o amálgama que nos une, todos os brasileiros”. No Império, o estadista, naturalista e poeta José Bonifácio, por ser contrário às guerras e às ofensivas militares para exterminar os indígenas, escreveu “Apontamentos para a civilização dos índios bravos do Império do Brasil”. Seu projeto objetivou a integração dos índios à sociedade nacional. Hoje, certamente, seria condenado por organizações governamentais, não governamentais e uma parcela da sociedade nacional, mas, para aquele momento, significou a substituição da declarada política de extermínio aos índios. Ele disse: “foi ignorância crassa, para não dizer brutalidade, querer domesticar e civilizar índios à força de armas e com soldados e oficiais pela maior parte sem juízo, prudência e moralidade”.

Bonifácio recebeu a alcunha de “Patriarca da Independência” por ter sido uma pessoa decisiva para a emancipação do Brasil. Mautner deve também ser aclamado com idêntico epíteto por dedicar sua vida ao reconhecimento dos múltiplos valores culturais que compõem a identidade nacional, um passo certo à verdadeira independência do Brasil, um lugar de e para todos.

Anna Maria Ribeiro Costa

About Author

Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.

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