Foto: Ahmad Jarrah
Enquanto a produção industrial caiu expressivamente ao longo do ano passado, em grande parte do País, Mato Grosso conseguiu manter índices relevantes de desenvolvimento da atividade industrial, que continuou crescendo.
No acumulado de janeiro a novembro do ano passado, o setor apresentou decréscimo de 8,1% ante o mesmo período de 2014, na média nacional. Já no Estado, foi registrada expansão de 3,6% da produção industrial. Na comparação entre os meses de novembro de 2014 e 2015, Mato Grosso avançou 5,9%, alcançando o sexto índice positivo consecutivo.
Os dados são da pesquisa Industrial Mensal Produção Física – Regional, divulgados no dia 12 de janeiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estre os segmentos que puxaram a alta, se destacaram as indústrias de produtos químicos (+38,8%), de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+31,7%), impulsionados pela produção de etanol, e de produtos alimentícios (+4,2%).
Conforme o balanço do IBGE, a produção industrial caiu em nove dos 14 estados pesquisados pelo Instituto no mês de novembro. As principais baixas foram verificadas no Espírito Santo (-11,1%), Ceará (-4,5%) e Minas Gerais (-4,0%), além de São Paulo (-2,6%) e da região Nordeste (-2,8%). Outros locais com queda na produção entre outubro e novembro foram o Amazonas (-2,1%), a Bahia (-2%), o Paraná (-1,3%) e Goiás (-0,9%).
Agroindústria
Mais uma vez, as indústrias diretamente ligadas ao agronegócio fizeram com que Mato Grosso mantivesse o ritmo de produção. “As principais indústrias que temos no Estado são as de agroindústria. O agronegócio é a base da economia em Mato Grosso e apresentou crescimento em 2015 e deverá continuar crescendo em 2016, mesmo que em ritmo menor, e, assim, manterá a oferta de matéria-prima para o setor industrial”, avalia Seneri Paludo, secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico.
Na avaliação do diretor executivo do Sindicato da Indústria Sucroalcooleira do Estado de Mato Grosso (Sindalcool-MT), o resultado mostra a força do agronegócio no Estado, que continua crescendo mesmo diante da recessão que assola o País. “Mato Grosso é ainda um oásis em meio a essa crise brasileira. Estamos sobrevivendo graças ao agronegócio, à venda de commodities. Mas, o problema é a renitência da inflação, que em breve deve afetar também não só a produção industrial, mas todo o setor produtivo e a população em geral”, afirma Jorge dos Santos.
Ainda de acordo com o diretor executivo da Sindalcool, os bons resultados do setor sucroalcooleiro obtidos em 2015 devem ser mantidos neste ano. “O governo tem se comprometido em não aumentar impostos, trazendo certa tranquilidade ao setor produtivo. Por isso, não vejo grandes modificações para este ano. Poderíamos continuar crescendo, mas isso já é incerto, porque dependemos muito do consumo de combustíveis, que já não cresceu no ano passado e a demanda continua retraída por conta da inflação”, analisa Santos.
Presidente da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Fiemt), Jandir Milan acredita no crescimento do segmento, apesar do fato de que o momento pelo qual passa o País requer bastante cautela por parte dos empreendedores com relação aos investimentos.
“É uma crise profunda e ainda não sabemos a dimensão dela. Por isso, temos que ter cautela neste ano em relação a investimentos. Mas, acreditamos na pujança do Estado mato-grossense e esperamos que ocorram fatos que contribuam para o crescimento da indústria. Nos últimos 10 anos, crescemos 6,5%, e temos perspectiva de crescimento para a indústria em 2016”, avalia Milan.
Confiança que poderia ser um tanto quanto mais sólida, não fossem algumas dificuldades e demandas antigas para o pleno desenvolvimento do setor. Altas cargas tributárias, uma das tarifas de energia elétrica mais caras de todo o País e a falta de estrutura e logística para o escoamento dos produtos são os principais entraves.
Em 2014, após reajuste de 11,16% da concessionária de energia, o Estado deixou a segunda posição e passou a ter a tarifa de energia elétrica mais cara do País, de R$ 424,27 megawatt/hora (MWh), segundo dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Situação que praticamente não mudou no decorrer de 2015: Mato Grosso teve a segunda tarifa mais alta do País.
“As dificuldades para o setor industrial crescer em Mato Grosso são muitas, umas delas é ser vice-líder no ranking da tarifa de energia mais cara do Brasil. Temos que reduzir a altíssima carga tributária que prejudica o desenvolvimento das empresas, o setor produtivo necessita de um ambiente de negócio mais favorável. Outra grande questão é o custo do frete, o mais caro do Brasil”, pontua o presidente da Fiemt.
De acordo com informações da Sedec, está em fase de finalização o Investe Indústria, um programa direcionado para incentivos fiscais à indústria, com ênfase na geração de emprego e renda, mesclando incentivos empresariais individuais com incentivos por segmentos estratégicos.
“As novas regras visam à redução do custo de produção e estímulo ao crescimento da economia criando um ambiente de negócios para fomentar a ampliação e modernização das indústrias existentes e atrair novas plantas para Mato Grosso”, explica o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico.
Índice de confiança
O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) mato-grossense manteve-se abaixo da linha divisória – apresentando 37,7 pontos e refletindo novamente o baixo nível de confiança. O ICEI apresentou uma elevação de 1,4 pontos, comparado com o mês anterior. Se comparado com novembro do ano passado, apresentou queda de 6,6 pontos.
O índice de confiança, quando considerado o porte das empresas, continuou abaixo da linha dos 50 pontos. As pequenas indústrias apresentaram leve queda em comparação ao mês passado, variando negativamente em 3,3 pontos e chegando a 35,8 pontos. Já as empresas de médio e grande porte apresentaram elevação de 2,9 pontos, ficando com 38,5 pontos em novembro.
Panorama
Atualmente, mais de 11.820 indústrias estão em atividade no Estado, segundo informações da Fiemt. Crescimento bastante expressivo na comparação com os últimos anos. Em 2008, apenas 7.150 unidades industriais estavam funcionando nos municípios mato-grossenses. Com a instalação de centenas de empreendimentos, hoje essas empresas geram mais de 162 mil empregos diretos (números da Relação Anual de Informações Sociais).
Depois de Cuiabá, Rondonópolis e Várzea Grande, Lucas do Rio Verde, Alto Araguaia, Nova Mutum, Sorriso, Primavera do Leste, Sinop, Tangará da Serra, Barra do Garças e Campo Novo do Parecis são os municípios com maior atividade industrial.
Grande parte da indústria é voltada especialmente aos setores alimentício e metalúrgico. O Estado tem destacado, aos potenciais investidores, as oportunidades de verticalização da produção primária na cadeia dos segmentos de base florestal, têxtil, mineral, de energia e do turismo.
Confira detalhes da reportagem na edição 568 do jornal Circuito Mato Grosso