Cidades

Jovem customiza bonecas negras e critica setor de brinquedos

Estudante de Brasília Ingrith Calazans customiza bonecas negras (Foto: Ingrith Calazans/Arquivo Pessoal)

Uma busca em prateleiras de lojas de brinquedos provocou um estalo na estudante negra Ingrith Calazans, do Gama, no Distrito Federal. Faltavam às bonecas roupas, maquiagens e cabelos semelhantes ao que ela sempre viu no espelho. A jovem decidiu então "adaptar" as famosas Barbies à realidade dela, dando cachos, maquiagem especial e roupas novas.

A ideia sugiu quando Ingrith quis comprar uma boneca para o aniversário da irmã do namorado e não encontrou nenhuma que se parecesse com a menina. "Fui à loja e me deparei com um monte de bonecas brancas, loiras, dos olhos azuis", relatou a mulher de 22 anos, que pretende se formar em pedagogia.

Preocupada com a falta de identificação, ela passou a garimpar brinquedos usados e decidiu transformá-los manualmente. A estudante diz que o trabalho artesanal partiu de uma "questão de necessidade" porque "faltava um ícone representativo".

"Peguei uma boneca já utilizada, retirei o cabelo original, costurei a lã na cabeça dela e soltei os fios", disse a jovem. "Em geral é uma luta para encontrar [um exemplar usado]. Tem boneca que chega faltando até uma parte da boca, então eu tenho de redesenhar com tinta acrílica."

Bonecas customizadas, que demoram até dois dias para serem prontas (Foto: Ingrith Calazans/Arquivo Pessoal)

A artesã, que já chegou a cursar cinco semestres de direito, desenvolveu a técnica sozinha em apenas duas semanas. "No cabelo, enrolo mecha por mecha no palito de churrasco. Coloco o canecalon [tipo de fios de nylon] para ferver, e aí costuro na boneca", disse. Ela afirma demorar em média dois dias na customização de cada peça.

Os preços variam de R$ 35 a R$ 200. São Paulo é o principal mercado dos brinquedos, declarou. "A maior parte é de professoras que me procuram desesperadas para dar uma aula mais inclusiva", afirma Ingrith, que disse ter afinidade com artesanato desde criança.

Apesar da demanda crescente, deu uma parada na produção das bonecas para poder se preparar para um concurso. "Estou estudando para concurso a fim de eu ter mais autonomia e angariar um projeto que profissionalize, que faça um giro social de renda e criar uma microempresa."

Na visão dela, a maneira com que a mulher negra passou a se destacar na sociedade ocorreu de "forma errada".

"O corpo delas é hipermegassexualizado. Em vez de vermos mulheres negras em lugar de chefia, vemos elas sensualizadas. No mercado visual, por exemplo, a mulher pode até ter a pele escura, mas não tem o cabelo crespo", disse. "Isso precisa mudar."

Fonte: G1

Redação

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