Cidades

Emprego e qualidade de vida atrai pessoa ao interior do Estado

Qualidade de vida, tranquilidade e boas oportunidades. Esses são alguns dos fatores que levam muita gente a optar por cidades menores para viver. Escolha que pode fazer uma diferença enorme, tanto no âmbito profissional quanto na vida pessoal. 

Se até algum tempo atrás era mais comum que as pessoas deixassem as pequenas cidades no interior do País em busca de sonhos que poderiam ser realizados nas metrópoles, hoje essa realidade está bem diferente. Não é difícil encontrar quem tenha decidido apostar no caminho inverso, fugindo assim das inúmeras situações nada agradáveis que fazem parte da rotina das grandes cidades.  

Falta de tempo, de espaço, excesso de trabalho, trânsito caótico, poluição, violência, estresse e alto custo de vida são apenas algumas das desvantagens vivenciadas cotidianamente por quem está nos grandes centros. Com tanta confusão, é inevitável que seja crescente a insatisfação dos habitantes dessas localidades. Segundo pesquisa do Ibope deste ano, 57% dos moradores da maior cidade brasileira afirmam que deixariam a capital paulista se pudessem (realidade que não é muito diferente das demais capitais). 

Uma mudança que muitas vezes requer atitude, coragem, o que não combina com comodismo. Ousadia que fez toda a diferença para a psicóloga Ana Paula Pereira Cesar, que depois de viver por bastante tempo em Cuiabá, resolveu tentar a “sorte” em um município menor, mas não menos promissor. 

Ela já havia saído da capital mato-grossense para cursar a faculdade em Rondonópolis. Ao concluir os estudos, retornou a Cuiabá, mas não por muito tempo. Mesmo sem nenhuma proposta de emprego em vista, foi para Sinop, de onde não pretende sair tão cedo.   

“Eu tinha acabado de me formar e percebi que a procura por empregos na minha área era muito grande e a oferta muito pequena em Cuiabá. São muitos profissionais formados, salários baixos e as propostas que recebi não valiam a pena. Foi aí que resolvi me mudar para Sinop, porque alguns conhecidos me disseram que a região oferecia mais oportunidades”, conta. 

Um projeto ousado, que com uma dose adequada de persistência acabou dando certo. “Decidi me mudar, mesmo sem ter nada concreto. Tinha um dinheiro guardado e conhecidos que poderiam me receber nos primeiros dias. Um mês depois de chegar, entregar currículos e me cadastrar em agências de emprego, consegui uma boa proposta”, resume.  

Hoje trabalha como consultora interna de gestão de pessoas em um grupo de supermercados com mais de 1.800 funcionários. Contrata, desenvolve e acompanha os trabalhos ligados ao capital humano da empresa. E não é só a vida profissional que vai bem: na nova morada ela conheceu aquele que viria a ser seu marido. 

Mas, para que tudo isso acontecesse, foi necessário sair da zona de conforto e buscar novos desafios. “Tive aquele medo inicial, sem saber se ia conseguir algo, se ia dar certo. Felizmente deu mais certo do que eu imaginava, mesmo não tendo sido fácil. Conheci até o homem da minha vida aqui”, brinca. 

A vida da educadora física Amanda Gomes também mudou para melhor  depois que ela foi morar no município de Sorriso. Ela lembra que no início sentiu falta do movimento e de tudo que a capital tem a oferecer. Mas, pouco tempo depois já estava totalmente adaptada. “Gostei bastante da cidade e em algumas semanas já estava adorando. É claro que no começo tem aquele impacto da mudança, mas a rotina que a gente tem aqui é boa demais. Custo de vida mais baixo, mais tempo para ficar em casa com a família, mais tranquilidade. Acho que qualidade de vida não tem preço”, afirma. 

Oportunidades 

Segundo informações divulgadas pelo Ministério do Trabalho, por meio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), ao longo do mês de setembro Sorriso foi o município mato-grossense com maior número de vagas ofertadas (193), seguido de Pontes e Lacerda com 75 e Colíder com 54. O pior desempenho foi constatado em Cuiabá, com saldo negativo de 1.184 postos.  

No acumulado de janeiro até agosto, foram criadas 1.700 novas vagas no Estado, de acordo com balanço do Caged. Realidade que contrasta com o cenário nacional: no mesmo período foram extintos mais de 570 mil postos de trabalho em todo o País. Apesar do saldo positivo registrado em Mato Grosso, na comparação com 2014 os números não são animadores. No mesmo período do ano passado foram geradas quase 27 mil vagas no Estado. 

Rotatividade

Nas 26 cidades onde o Sistema Nacional de Emprego (Sine) está presente em Mato Grosso, 1.338 vagas estavam em aberto na última semana. Os dados da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas). Depois de Cuiabá (268 vagas), Rondonópolis (172), Alta Floresta (162), Pontes e Lacerda (123), Sinop (89), Campo Novo do Parecis (79) e Sapezal (77) concentram o maior número de oportunidades de trabalho. 

Na capital, auxiliar de limpeza e auxiliar de linha de produção são as ocupações com a maior quantidade de vagas em aberto. Em Rondonópolis, auxiliar administrativo e auxiliar de linha de produção são as oportunidades mais numerosas. Em Alta Floresta, a maior demanda é por trabalhadores que atuam como ajudante de obras e servente de obras. Auxiliar de linha de produção e auxiliar de agricultura são as vagas mais numerosas em Pontes e Lacerda. 

Em Sinop, a maior procura é por carpinteiros e serventes de obras. Eletricista de instalação de veículos automotores e eletricista de instalações industriais são as principais oportunidades em Campo Novo do Parecis. Já em Sapezal, a maior demanda é por auxiliares de agricultura e operadores de maquinário agrícola.         

Panorama nacional

Quem está disposto a ir mais longe, pode apostar em alguns estados que têm sido responsáveis por 70% das novas vagas criadas País afora: Bahia, Pará, Ceará, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Nos últimos dois anos, foram criados mais de um milhão de empregos no interior desses estados, especialmente nas áreas da indústria, construção, comércio e serviços. Nos últimos dez anos, o Produto Interno Bruto (PIB) do interior cresceu 10% a mais que o dos grandes centros.  

Enfim, motivos não faltam para quem está inclinado a tirar o pé do acelerador, se arriscar em localidades mais pacatas, que ofereçam uma rotina menos estressante, mais saudável. O representante comercial Edilson Teixeira não teve dúvidas quando surgiu uma oportunidade de trabalho no interior do Paraná.

“Estava morando em Cuiabá há seis anos e gostava de lá. Mas, quando surgiu essa proposta, eu comecei a pesquisar sobre a região de Guarapuava e vi que poderia ter uma vida mais tranquila, com mais tempo pra ficar com a família. Não pensei muito, acabei aceitando o emprego e a mudança foi muito boa”, diz.    

Quem também garante ter acertado ao deixar de lado a vida na capital foi o autônomo Carlos Felix. Ele conta que resolveu sair de Cuiabá rumo ao Paraná (na cidade de Umuarama) em busca de uma rotina menos agitada e estressante. Inicialmente foi sozinho, depois de um ano levou a família e desde então a vida tem sido melhor, mais calma.   

O lado profissional também vai bem. Além da venda de macarrão, lasanha, rondelli, nhoque e diversas outras massas por encomenda, a cozinha sobre rodas (Food Truck) em que trabalha durante as noites teve uma aceitação muito boa na cidade. “O negócio tem dado certo, estamos trabalhando bastante. Moro muito melhor, o aluguel é mais em conta e também acho que a resposta do Poder Público às necessidades da população é mais rápida e mais visível. Isso sem falar no trânsito, na correria em que a gente vivia e que agora acabou”, avalia.   

Preparação

Para quem pretende arriscar, mesmo sem ter um emprego ou um empreendimento em vista, é sempre bom ter metas e estar preparado para cumpri-las. Especialistas sugerem que o perfil desse trabalhador que procura outras cidades mudou. Se antes quem estava menos capacitado buscava outros horizontes, agora esta é uma escolha mais recorrente entre aqueles que estão prontos para atender as demandas do mercado.

Preparação, vontade e pró-atividade são as principais dicas de quem entende do assunto. “Acho interessante arriscar, mas a pessoa tem que ter experiência, ter uma base pra atuar. As empresas querem ver seu comportamento e suas habilidades como profissional. Além de uma boa apresentação, a pessoa precisa mostrar que quer vestir a camisa da empresa. Depois disso, basta ter interesse, humildade e ir conquistando seu lugar a partir do seu desempenho”, afirma Ana Paula.  

Thales de Paiva

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