Muita gente não sabe, mas os animais têm problemas dentais tão sérios quanto humanos e precisam de cuidados similares. Para isso há os especialistas em odontologia veterinária, que cuidam desde pequenos problemas, como acúmulo de cálculo dentário – chamado até pouco tempo de tártaro – até casos mais sérios, como oclusões, inflamações, problemas endodônticos – canal – lesões e úlceras.
A especialista em odontologia veterinária, Paula Márcia Marques de Campos Andrade, explica que, assim como nós, eles também têm infecções na cavidade oral e precisam de tratamentos adequados.
O exemplo mais comum de problema odontológico em animais, que acomete em 85% dos cães e gatos, é a doença periodontal com acúmulo de placas bacterianas e, posteriormente, cálculo dentário, devido à falta de limpeza periódica.
A indicação é que o animal faça uma limpeza anual, para conservar, tratar e manter os dentes.
Na profilaxia, ou limpeza, é realizada raspagem, polimento e passa-se flúor para retirada da placa e do cálculo dentário. O procedimento evita lesões periodontais, que são irreversíveis.
“Se o animal não é tratado ao longo do tempo – se não são feitas limpezas periódicas – toda a estrutura periodontal que é o que sustenta o dente na boca é afetada e com isso vão acontecendo as perdas dentárias ao longo da vida”.
Ela explica que periodicidade da limpeza muda de acordo com o paciente, sendo que poderá variar entre seis meses e dois anos, pois alguns animais acumulam mais “tártaro” em menos tempo que outros, sendo que o mau hálito é um dos sintomas de que há necessidade de limpeza.
Entre os fatores para acumular mais ou menos rápido o cálculo dentário está a alimentação, a anatomia da boca, o potencial hidrogeniônico (pH) da boca e o sistema imunológico do animal, sendo que animais de raças pequenas têm pré-disposição para acumular muito mais rápido.
A veterinária salienta que é importante analisar o que é dado para o animal comer e de que maneira. “A ração é seca, então ela raspa o dente e ajuda na prevenção dos cálculos. Não quer dizer que não vai acumular comida, vai sim, e vai precisar de limpeza, mas acumulará muito menos do que quando você dá pastinhas, amolece a ração ou dá comida – casos em que há maior retenção de alimento na boca – e a saliva mineraliza essa placa bacteriana que vai se formando sobre os dentes e vai causando o tártaro”.
Aí você se pergunta: “Mas então eu não posso dar nada amolecido para o meu pet?”. A especialista responde que pode! Mas, para isso, é preciso escovar os dentes do animal em seguida. Aliás, a escovação é o ponto chave para evitar que o animal acumule as placas e chegue a ter cálculos e, consequentemente, evitar assim a doença periodontal e perda dos dentes dos gatos e cachorros, pois o acúmulo de tártaro é um processo progressivo e tem como consequência a lesão periodontal.
“A extração só ocorre se o periodonto já estiver muito comprometido, ou seja, já esteja aparecendo a raiz do dente ou a furca, que é a região entre uma raiz e outra e, não tendo mais como higienizar”, pontua Márcia.
DOR
Apesar de não ficar nada bonita a boca cheia de placas e cálculos, os pets só costumam sentir dor quando já há mobilidade dentária avançada, ou seja, quando há perda das estruturas de sustentação e inflamação ao redor do dente. “Algumas bocas chegam a ter pus e, nesses casos, os animais já estão com desconforto oral, sofrendo na hora de se alimentar”, explica a especialista em odontologia veterinária.
Entre os principais problemas que acabam fazendo com que os pets sintam dor está:
Lesão periodontal – Nesse caso eles sentem desconforto, mas não têm como demonstrar. Indicativos de que o cão ou gato podem estar passando por isso é quando começam a raspar o focinho no chão ou esfregando de alguma maneira. “O problema maior dessa lesão não é apenas o desconforto oral, mas principalmente por ser uma infecção, que está ali, destruindo o que sustenta o dente na boca e passando todos os dias bactérias para o organismo do animal. Se ele tiver a imunidade baixa piora, pois as consequências aumentam. Ao longo da vida isso poderá causar problemas nas válvulas cardíacas, no fígado, no rim e o dono do animal nem imagina que o problema vinha da boca, por conta da bacteremia”.
Fratura dentária – Nesse caso, depois da dor aguda da fratura, se o dente não for tratado irá causar um abscesso periapical, com dor com possibilidade de fistulação (aberturas por onde secreções, como pus e sangue de uma lesão, são eliminados).
Lesão de reabsorção – É uma lesão que ocorre principalmente em gatos e causa muita dor. Paula explica que há muitos estudos, mais não se sabe a causa. Nessa lesão o dente vai perdendo a estrutura natural dele e é reabsorvido.
“Animais que têm essa lesão e extraem o dente com problema, costumam mudar completamente o comportamento, voltando a brincar, pular, se lamber, se cuidar e demonstrar alegria. Esse é o relatório de todos os pacientes”. A veterinária pontua ainda que esse é um problema de difícil visualização e passa despercebido.
Estomatite – É uma espécie de afta, porém mais avançada. Às vezes envolve a boca toda e causa desconforto oral.
Problemas de oclusão – Esse tipo de problema trará desconforto quando um canino, que é um dente mais logo, ocluir no palato e acabar machucando o palato, podendo causar até comunicação nasal, depois perfurar o palato.
Complexo Gengivite Estomatite Faringite Felina (CGEF) – Inflamação intensa, ulcerada e ulceroproliferativa, de difícil cura, que causa dor aguda e intensa, afetando os arcos dentários e chegando a proliferar tecidos, por conta da inflamação.
Paula cita ainda a Fratura de mandíbula-maxilo, causado por traumas de toda natureza.
Outras especialidades
Para quem ficou impressionado com a quantidade de doenças e cuidados necessários com a boca e dentes dos pets, saiba que há ainda especialistas em diversas outras áreas. Na Clínica Veterinária Boa Esperança os cães e gatos encontram quem possa cuidar da saúde de seu coração, rins, olhos, ossos, sistema imunológico e outros. Confira as especialidades: Nefrologia – com máquina de hemodiálise para pacientes renais; Dermatologia; Oftalmologia; Cardiologia; Ortopedia; Infectologia; Fisioterapia e Acupuntura.
A variedade de profissionais especializados mostra que cada dia mais há pessoas preocupadas com seus bichinhos. Se você também cuida do seu pet, evite que ele fique doente e debilitado e realize consultas periódicas, ao menos uma vez por ano.
Para mostrar o quanto é importante o cuidado com a boca, vamos ilustrar aqui dois casos bem diferentes um do outro. O primeiro é a cadelinha Cristal, uma poodle de 8 anos, que realiza limpezas periódicas e outro é do Joe, um lhasa apso de 7 anos, que nunca havia feito uma limpeza ou tido qualquer cuidado, como escovação regular. Os dois passarão por uma limpeza e vamos mostrar o antes e depois de casa um.
CRISTAL
A cadela Cristal estava há cerca de dois anos sem realizar o procedimento, mas como o fazia de ano em ano, a limpeza foi eficiente, deixando os dentes branquinhos, sem placas. Apesar disso a diferença é visível.
Passando o ultrassom odontológico, que vai quebrando o cálculo e limpando. Depois disso é feito um polimento para que a superfície do dente não fique porosa, mantendo, assim, por mais tempo a limpeza.
Veja a reportagem na íntegra na edição 565 do jornal Cicuito Mato Grosso