Foto: Ahmad Jarrah / CMT
Toda coleção tem um início e um motivo. A coleção de bonecas da Dona Terezinha Barros teve início quando ela estava no começo da puberdade e brincava apenas com os brinquedos das irmãs e dos vizinhos. Aos 13 anos, enfim, ganhou a sua primeira boneca, Marília, do padrinho. “Quando eu for adulta e tiver bastante dinheiro comprarei bastante bonecas para mim”, prometeu.
A promessa de comprar várias bonecas não ficou no passado, como normalmente os juramentos infantis ficam. Ao conseguir seu primeiro emprego, e receber o primeiro salário, Terezinha cumpriu o acordo consigo, e nunca mais parou de comprar bonecas. “Eu ia a São Paulo e vinha com caixas e caixas de bonecas. Quando eu vejo uma boneca eu fico muito feliz”, brinca.
A coleção foi crescendo e não era mais brincadeira. As bonecas não se limitavam às vendidas em lojas de brinquedos, havia bonecas raras e de alto custo. Marília, a primeira boneca, tinha outras duas mil irmãs, quando em 1999, após vários pedidos de amigos, e uma casa cheia de bonecas, Terezinha resolveu abrir o primeiro museu de bonecas da América Latina, no Bairro Flamboyant.
Por dificuldades financeiras, o “Museu das Bonecas e Brinquedos” teve que fechar as portas, mas as reabriu, agora próximo ao Parque Mãe Bonifácia, em junho de 2014. Atualmente, com mais de 6 mil itens catalogados entre bonecas de plástico, pano, porcelana, madeira, casinhas, e até carrinhos, bonecos, jogos de tabuleiro e autoramas. Só de Barbies são mais de mil.
Casa cor-de-rosa, soldados a postos, cheirinho de chiclete, e as bonecas mais antigas do museu e pomposas simulando um chá da tarde. Assim os visitantes são recebidos no Museu. As bonecas antigas no primeiro momento podem trazer medo para alguns, mas, na realidade, a sensação que permeia o ambiente é de nostalgia.
As bonecas expostas contam história de maneira diferente. Por meio dos materiais usados, evidenciamos a modernização dos materiais dos brinquedos. Na década de 60, por exemplo, havia bonecas feitas de celuloide, inflamáveis, que logo foram proibidas. Nas barbies, a história da moda é contada modelo a modelo. Há ainda as mobílias e acessórios das casinhas.
“Pode-se fazer um estudo sobre traços físicos, pois há bonecas de todos os países, e é possível identificá-las. Há ainda a moda, e o mobiliário, onde é possível ver como era o desing de antigamente. Tudo é cultura. Tudo é história”, conta Terezinha que ainda lembra da importância dos brinquedos que vão além dos tablets, computadores e celulares.
Entre os destaques da coleção, está a boneca francesa “Jumeau”, datada de 1878, e a mais antiga do museu. Há, ainda, a boneca raríssima e uma das mais caras da coleção, reprodução da atriz Shirley Temple. A primeira Barbie e o Ken, fabricados em 1959, também são destaques da coleção.
O grupo de estudantes do 1º ano, do colégio Liceu Cuiabano foi ao museu para fazer um trabalho de história. “A nossa professora de história, Claudinha, recentemente nos levou para fazer um tour pelos museus da cidade. E perguntou se nós não queríamos fazer uma ‘reportagem’ no museu das bonecas, que é o único da América Latina. Nós aceitamos. A Dona Terezinha nos mostrou o museu e vamos produzir um vídeo para apresentar para a sala”, conta a estudante Karoline Gorget, 14 anos.
A colega de turma de Karoline afirma que a visita é singular, comparada às outras visitas já feitas em outros museus. “Uma experiência que não tem como explicar. Tem várias bonecas que não sabíamos que existiam. Bonecas antigas, da época das nossas avós, das nossas mães”, conta a estudante Karen Cristina, 15 anos.
O Museu sobrevive da cobrança de R$10 da entrada e de restauração de bonecas e venda de brinquedos repetidos da coleção. Caso o visitante queira adquirir algum item do Museu, é só entrar em contato com a administração e, caso encontre nos seus mais de 2 mil itens (estes guardados na casa de Dona Terezinha), o produto é vendido. “Dorminhocas”, o boneco fofão, barbies e até os bichinhos de pelúcia da “Parmalat”, famosos nos anos 90, são alguns dos itens à disposição.
Apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pelo museu e das propostas de compra do acervo, não há pretensão da proprietária de se mudar. “Em casa eu tenho mais dois mil itens. O nosso desejo é termos um local para colocarmos todos os brinquedos, mas sem cobrarmos a entrada. Se nós tivermos patrocínio deixaremos aberto ao público, mas aqui tem muitos custos. Como o de energia, pois as bonecas têm que ficar em local fresco, se não se deterioram”, revela Terezinha.
SERVIÇO
Museu das Bonecas
Rua Bom Jesus, número 90. Jardim Santa Marta (Rua lateral do posto Prime na Av. Miguel Sutil), Cuiabá.
Contato: (65) 3626-1525 / (65) 9981-4170 / (65) 2136-7524 / (65) 9214-9004
Horário de funcionamento:
Terça a sexta: 14h às 17h; Sábado: 9h às 12h e 14h às 17h
Ingresso R$ 10,00 e R$5,00 para crianças até 5 anos