Política

Vereadores de Cuiabá custam R$ 20 milhões por ano aos cofres

Foto Ahmad Jarrah

Com pouco mais de três milhões de habitantes (3.224.357), Mato Grosso tem 1390 vereadores distribuídos entre suas 141 Câmaras Municipais.
A capital do Estado, Cuiabá, tem pouco mais de 500 mil habitantes (575.480) e 25 vereadores, seguida de Várzea Grande, com 265.775 mil habitantes e 23 vereadores;  Rondonópolis , com 211.718 mil habitantes e 21 vereadores e  Sinop  que tem 126.817 mil habitantes e 15 vereadores.

Muito distante da realidade média salarial do povo, os valores recebidos pelos parlamentares mostram não apenas a desigualdade de renda entre o povo e seus líderes. Enquanto um cidadão comum tem como salário mínimo o valor de R$ 788 reais, o subsídio de um vereador da capital é fixado, atualmente, em R$ 15 mil reais.

Isso porque ainda estamos falando de apenas uma parte dos valores que compõe o montante recebido pelos parlamentares.

Enquanto o salário mínimo teve aumento de 6.78% em relação ao último ano, passando de R$ 724 para R$ 788 em 2015, os parlamentares da Câmara de Cuiabá desfrutaram de R$ 67 mil mensais, contando o subsídio, verba indenizatória e despesas de gabinete.

Não é de se estranhar os altos valores – que aliás, não são exclusivos da Câmara de Cuiabá, mas refletem a realidade da maioria do legislativo municipal do Estado – já que, quem define os valores do subsídio são os próprios parlamentares. Ou seja, os vereadores decidem o quanto vão ganhar, tendo a obrigação legal de respeitar o máximo estipulado em 75% do valor do subsídio destinado aos deputados estaduais. 

O cálculo feito para a remuneração de vereadores obedece e varia em função de três critérios: o número de habitantes de sua cidade, o subsídio dos deputados estaduais (poderão receber entre 20% e 75% da remuneração do legislativo estadual, variando de acordo com o número de habitante) e receita de seu município, sendo que o valor destinado ao pagamento do total de legisladores municipais não pode ultrapassar 5% do valor da receita municipal.

“O subsídio dos vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a subsequente, observado o que dispõe esta Constituição, observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e os limites máximos”, pontua a Constituição Federal (CF).

O texto constitucional pontua ainda que o pagamento maior de subsídio a vereadores, em descumprimento aos limites, constitui irregularidade insanável e ato doloso de improbidade administrativa, atraindo a inelegibilidade.

A Câmara de Cuiabá, hoje, utiliza todas as máximas possíveis, como, o maior número de vereadores possível de acordo do CF, assim como o maior subsídio e verba indenizatória inclusive maior que o valor mensal dispensado a cada vereador. 

O Ministério Público chegou a contestar o valor de R$ 25 mil reais para a verba indenizatória dos vereadores de Cuiabá. A última decisão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso determinou que a verba não poderia ultrapassar o salário dos vereadores.

CUIABÁ

Número de vereadores: 25
Custo mensal por vereador
Subsídio – R$ 15 mil
Verba indenizatória – R$ 25 mil
Despesas do gabinete – R$ 27 mil
Custo total mensal R$ 1,675 milhão
Custo total anual R$ 20,1 milhões

LOA e Duodécimo

A Lei Orçamentária Anual (LOA) de Cuiabá, para 2016, tem estimativa global de R$ 2,29 bilhões e deve ser votada pelo plenário da Câmara de Cuiabá no final dezembro.

Para esse ano a receita bruta total estimada foi de R$ 2,045 bilhões, sendo que R$ 84 milhões seriam destinados à contribuição para o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica – FUNDEB, perfazendo uma receita líquida de R$ 1,96 bilhão. Desse total da receita líquida, R$ 39,5 milhões foram destinados à Câmara Municipal. O duodécimo deste ano supera o de 2014, que tinha valor aproximado a R$ 37,6 milhões. 

De acordo com a LOA, que tramita no Parlamento Municipal, a expectativa do duodécimo para 2016 é estimado em R$ 45,1 milhões, o que representa um aumento de R$ 5,6 milhões, ou 14,1% a mais, no comparativo com 2015. 

VÁRZEA GRANDE

Número de vereadores: 23
Custo mensal por vereador
Subsídio – R$ 10 mil
 Verba indenizatória – R$ 9 mil
Custo total mensal R$ 437 mil
Custo total anual R$ 5,244 milhões

LOA e Duodécimo

De acordo com a Lei Orçamentária Anual (LOA), ainda em tramitação, o valor previsto para o para 2016 é de R$ 940 milhões, enquanto o orçamento vigente recebeu estimativa de R$ 955 milhões brutos, dos quais R$ 32 milhões tinham como destino a contribuição para o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica – FUNDEB, resultando em receita estimada de R$ 930 milhões.

A Câmara de Várzea Grande deverá ter um duodécimo de R$ 15,3 milhões em 2016. Valor superior aos R$ 14,7 milhões destinados ao legislativo de Várzea Grande nesse ano.

SINOP

Número de vereadores: 15
Custo mensal por vereador
Subsídio – R$ 8475 mil
 Verba indenizatória – R$ 5 mil
Custo total mensal R$ 202 mil
Custo total anual R$ 2,424 milhões

LOA e Duodécimo

De acordo com a Lei Orçamentária Anual (LOA), o orçamento geral do município de Sinop, estimou a Receita Bruta em R$ 350,2 milhões, com Receita Líquida de R$ 322,3 milhões, dos quais R$ 282,9 seriam destinados à Administração Direta e R$ 39,4 à Administração Indireta.  A Câmara teve o duodécimo de R$ 10 milhões.

A previsão orçamentária de Sinop para o exercício de 2016 é de R$ 347 milhões em receita líquida e R$ 378,4 em receita bruta. Para o exercício de 2016 a Câmara de Sinop tem estimados R$ 11 milhões para 2016.

RONDONÓPOLIS

Número de vereadores: 21
Custo mensal por vereador
Subsídio – R$ 10 mil
 Verba indenizatória – R$ 10 mil
Custo total mensal R$ 420 mil
Custo total anual R$ 5,040 milhões

LOA e Duodécimo

Na proposta de Lei Orçamentária Anual de Rondonópolis , o orçamento total para 2016 é de 720 milhões,  dos quais R$ 21 milhões serão destinado à Câmara Municipal. O duodécimo da Casa Legislativa Rondonopolitana em 2015 foi de R$ 16 milhões.

Mato Grosso no centro da polêmica

Conhecida pelo apelido de Casa dos Horrores, devido aos diversos escândalos aos quais reiteradamente esteve envolvida, a Casa Legislativa de Cuiabá foi, mais uma fez, palco de muita polêmica este ano, quando o Jornal da Globo a apontou nacionalmente com a “maior verba indenizatória do País”, de acordo com dados da ONG Transparência Brasil.

Na referida reportagem, em que Cuiabá foi citada, destacou-se que as verbas indenizatórias astronômicas e sem controle pagas a vereadores, citando ainda que as 13 capitais mais pobres gastam 16% a mais por vereador que as capitais mais ricas.

À época, o presidente da Câmara de Cuiabá, Júlio Pinheiro, garantiu que todo o valor recebido pelos parlamentares da Casa, de verba indenizatória, seria utilizado para despesas dos vereadores e, por isso, consideraria o valor justo.

“Se você precisar comprar material de expediente, lápis, caneta, borracha, qualquer coisa, você usa com a verba indenizatória. Se você precisa tirar xerox, colocar telefone no seu gabinete, você tem que pagar com a verba indenizatória. Tem que viajar, diárias, tudo você usa com a verba indenizatória”, disse Júlio Pinheiro.

A situação não é muito diferente na Casa Legislativa do Estado, onde cada deputado recebe R$ 65 mil, só de verba indenizatória. O valor exorbitante é mais que o dobro destinado, hoje, aos deputados federais (R$ 30,4 mil). Sem contar o subsídio recebido pelos 24 parlamentares, de R$25,3 mil, as cotas de passagem, combustível e outros suplementos.

O valor exorbitante da verba indenizatória dos deputados estaduais foi entendido como inconstitucional pela Procuradoria Geral do Estado (PGE), que emitiu parecer pela inconstitucionalidade da Lei. Entendimento esse que se estende à Procuradoria Geral da Justiça, já que a lei estaria ferindo a Constituição Federal. 

O Ministério Público emitiu um parecer, no dia 27, no processo da segunda ação direta de inconstitucionalidade (Adin) movida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), declarando inconstitucional a nova verba indenizatória dos deputados estaduais de Mato Grosso.

De acordo procurador-geral de Justiça, Paulo Prado, a lei fere a moralidade e da razoabilidade “em virtude da sua considerável monta, por ultrapassar em muito o valor da própria remuneração dos Deputados”.

Veja mais detalhes na edição 562.
 

Josiane Dalmagro

About Author

Você também pode se interessar

Política

Lista de 164 entidades impedidas de assinar convênios com o governo

Incluídas no Cadastro de Entidades Privadas sem Fins Lucrativos Impedidas (Cepim), elas estão proibidas de assinar novos convênios ou termos
Política

PSDB gasta R$ 250 mil em sistema para votação

O esquema –com dados criptografados, senhas de segurança e núcleos de apoio técnico com 12 agentes espalhados pelas quatro regiões