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Ação da PM acaba em tumulto com alunos em escola ocupada

Jovem recebe ajuda após ação da PM perto de escola ocupada (Foto: Will Soares)

Policiais militares utilizaram spray de pimenta na manhã desta quarta-feira (11) para conter um tumulto envolvendo estudantes que protestam contra a reorganização escolar em São Paulo. A confusão aconteceu na Rua Antônio Bicudo, em Pinheiros, nos fundos da Escola Estadual Fernão Dias Paes. A instituição está ocupada há mais de 24 horas por alunos contrários à reforma doensino e aProcuradoria Geral do Estado  afirmou que vai entrar com pedido de reintegração de posse da escola.

A reforma vai fechar 94 escolas e restruturar várias outras para unidades de ciclo único (apenas 1º ao 5º anos, 6º ao 9º anos ou ensino médio).

A confusão na manhã desta quarta começou após um grupo de manifestantes subir a rua para se juntar ao outros jovens que fazem vigília no portão de entrada do colégio, na Avenida Pedroso de Morais. A Polícia Militar havia acabado de isolar a área.

Houve bate-boca e um dos manifestantes foi retirado pelo braço por um dos policias e levado para uma área mais isolada, fora do tumulto. O PM afirmou aos gritos que só queria conversar com o rapaz, mas a atitude revoltou os demais manifestantes e um tumulto teve início.

Em poucos segundos chegou o reforço policial, alguns de moto pela calçada, outros a pé, e um spray de pimenta foi utilizado para afastar os manifestantes. Uma jovem passou mal por conta da falta de ar e precisou ser deitada no asfalto para se recuperar.

Toda a ação foi registrada em vídeo pela própria PM. Com uma câmera apoiada no ombro, um policial está no local com a exclusiva missão de documentar tudo que acontece durante o protesto.

Os estudantes que ocuparam, na manhã de terça-feira, a Escola Fernão Dias Leme em protesto contra a reestruturação, seguiam no interior do colégio às 10h desta quarta. Dois jovens, um garoto e uma garota, deixaram o local por volta das 8h30. Eles passaram dados pessoais para um policial e saíram na companhia de familiares que os aguardavam no portão.

Na saída, a dupla afirmou que cerca de 60 alunos permanecem na instituição. A PM não confirma o número. Um dos jovens que lidera o ato foi à grade da escola pouco depois para dizer que o restante do grupo só irá deixar o colégio quando for ouvido pelo secretário estadual de Educação, Herman Voorwald, ou pelo governador Geraldo Alckmin.

Ainda de acordo com o aluno, na terça, um supervisor de ensino da região de Pinheiros foi até o local para tentar convencê-los a sair. Segundo ele, o representante da secretaria só pediu para que eles deixassem o colégio e em nenhum momento se dispôs a ouvir suas reivindicações.

Em apoio à ocupação dos estudantes, um grupo de manifestantes composto por outros alunos e também por integrantes de movimentos sociais, como o MTST, fazem uma vigília em frente à Escola Fernão Dias Leme. Com bateria, cartazes e até barracas de camping, eles se reúnem na Avenida Pedroso de Morais. O trânsito na via foi bloqueado no sentido da Avenida Faria Lima.

Os estudantes que estão no colégio afirmam que a unidade segue com água e energia elétrica. O fornecimento de água chegou a ser temporariamente interrompido na terça-feira. Os jovens contam que não passam fome porque levaram alguns mantimentos em mochilas e porque, de tempos em tempos, recebem comida de pessoas que apoiam o ato. Os alimentos são atirados em sacolas por cima do cordão formado por policias no entorno da escola. Segundo a PM, eles estão recebendo alimentos por uma porta lateral, mas algumas pessoas preferem atirar a comida por cima da grade.

Em assembleia na noite da terça-feira, os estudantes decidiram que continuariam dentro da escola por tempo indeterminado.

Hoje, a escola Fernão Dias Paes tem turmas do ensino fundamental dos anos finais (6º ao 9º ano) e do ensino médio. Em 2016, com a reorganização do ensino, a escola passará a ter apenas o ensino médio. Os alunos do ensino fundamental serão transferidos, segundo a Secretaria da Educação.

Início
A PM diz que os estudantes começaram a manifestação às 6h55 de terça-feira e impediram a entrada de funcionários. Policiais cercaram a escola.
Mesmo os alunos que chegaram pela manhã para assistir às aulas, sem participar do protesto, precisaram esperar a chegada dos familiares para a liberação da saída pela Polícia Militar.

De acordo com estudantes que estavam no local, outras escolas da região serão fechadas e, por isso, haverá um remanejamento na quantidade de alunos na escola Fernão Dias Paes. Os alunos reclamam que poderá ter pelo menos mais 10 pessoas por sala e que estudantes que moram em outros bairros podem ser obrigados a sair do colégio.

Pais preocupados
Maria Aparecida Pires, de 47 anos, foi ao local para buscar o filho Juarez, de 16 anos. "Sou a favor e contra. Acho que no período de aulas isso [protesto] só atrasa eles". Segundo a mãe, o filho ligou para ela ir buscá-la. 

A mãe da estudante Júlia Helena Oliveira, de 15 anos, ficou preocupada com a quantidade de policiais que estão em frente à escola.  “Até manifestar, acho tranquilo. O que me preocupou foi a polícia chegar nessa proporção. Quem tem que estar aqui conversando com eles não são esses policias. A mudança veio de cima para baixo. Ela não foi discutida", disse Juliana Oliveira, de 41 anos.

Juliana é professora de outra escola estadual, mas diz que estudou no Fernão Dias quando criança. A filha dela estuda no colégio ocupado e também participa da manifestação. Procurada pelo G1, a PM disse que apenas acompanha o protesto na escola.

A mãe Lúcia Helena Gonçalves Pereira, de 38 anos, foi buscar a filha. Ela estuda de manhã na escola e a mãe ficou preocupada com a demora da jovem. “Ninguém me ligou, ninguém me falou nada. Eu fiquei sabendo porque ela me ligou agora há pouco em casa, eu estava preocupada. Se, em vez de fazerem aqui, fossem até o palácio encher o saco do Alckmin, eu até concordo [com as reivindicações]”, afirmou.

Boletim de ocorrência
Segundo a Secretaria da Educação, por meio de sua assessoria de imprensa, há estudantes que ocuparam a escola que não são alunos da unidade. A pasta registrou boletim de ocorrência por depredação ao patrimônio público e afirmou que os alunos não quiseram conversar com representantes da secretaria.

De acordo com a diretora de ensino da região Centro-Oeste, Rosângela Valim, os funcionários da escola foram "surpreendidos por cerca de 40 pessoas que não são da escola". "É um grupo radical que está lá dentro e não deixam que as crianças saiam do prédio. Eles invadem o prédio público, colocam funcionários para fora da escola e não deixam ninguém entrar e sair. Isso é cárcere privado", afirmou.

"As crianças que estão lá dentro, não sabemos como elas estão. Os pais não sabem. Não temos acesso ao grupo de alunos. De 60 a 80 alunos. Não faz parte da rede. A escola é tranquila, não tem esse tipo de radicalismo. A diretora está estarrecida", disse Rosângela.
De acordo com ela, a direção quer entrar para conversar com os alunos, mas eles não "aceitam o diálogo".

Caso em Diadema
Na Escola Estadual Diadema, 18 alunos ocuparam o refeitório na noite desta segunda-feira (9), por volta das 19h, o que impediu as aulas do período noturno. Eles montaram barracas e tocaram bumbo, segundo a diretora de ensino de Diadema, Liane Bayer. Durante a madrugada, alguns pais foram buscar os filhos.

A E. E. Diadema tem Ensino Fundamental e Médio. No ano que vem, os alunos que irão para o 1º ano do Ensino Médio irão ser transferidos para a Escola Estadual Filinto Miller. Os que estão no 2º ou 3º ano concluirão os estudos na E. E. Diadema.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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