Cidades

Profissionais se dividem entre noite e dia para a cidade funcionar

Por Thales de Paiva e Cíntia Borges 

Trocar o dia pela noite por conta dos horários de trabalho é uma realidade  – e muitas vezes um desafio – para muita gente. Fotógrafos, videomakers, músicos, djs, policiais, garçons, taxistas, seguranças, porteiros, profissionais da saúde e de muitas outras áreas integram essa legião de corujas. 

Enquanto quase toda a cidade dorme, eles fazem a vida acontecer ao longo das madrugadas. Uma rotina cansativa e um tanto quanto desgastante, em determinados casos, mas que pode ser apaixonante para outros.

O videomaker Alan Caetano Afonso passou quase um ano fazendo filmagem de eventos, como casamentos e aniversários. Ele lembra que no começo foi cansativo, mas que logo se acostumou. “No início foi um pouco complicado, porque uma gravação dura dez horas seguidas, em média. Mas, em pouco tempo já estava acostumado”, conta.

Para ele, o maior incômodo era ter que trabalhar nos finais de semana. “Como sou notívago, não sentia tanto problema em trabalhar à noite. O que me incomodava mais era trabalhar no final de semana. Acabava perdendo boa parte do outro dia me recuperando da noite anterior”, diz.

Por conta de mudanças em seu foco profissional, recentemente deixou de trabalhar à noite. Mas, não foi o horário em que realiza a maioria das filmagens que ocasionou essa mudança. “Agora eu não estou mais fazendo esses eventos por ter outros objetivos profissionais. Pretendo trabalhar com filmes publicitários e cinema.”

Profissionais da área da saúde muitas vezes também não têm outra opção, que não seja enfrentar algumas noites sem “pregar” os olhos. De médicos a auxiliares de enfermaria, todos enfrentam turnos e plantões em hospitais. Noites em claro que fazem parte do cotidiano da acadêmica de enfermagem Priscila Lenz.

Mesmo não tendo concluído o curso, ela já atua na área há um bom tempo e conhece de perto a rotina que a profissão pode exigir. “Os plantões acabam sendo inevitáveis. É cansativo, mas faz parte da nossa rotina, então tem que acostumar”, afirma.  

Quem trabalha com música também se depara com compromissos nos mais variados horários, muitos dos quais se estendem noite adentro. O contrabaixista Paulinho Nascimento toca na noite cuiabana há mais de oito anos e já está acostumado a ficar acordado até mais tarde, especialmente aos fins de semana. Além dos afazeres diários durante o horário comercial, a jornada continua em eventos, casas de show e bares.

“A minha rotina começa cedo, pois sou pai de família e professor de música também. É uma correria para administrar família, aulas, ensaios, estudos musicais, reuniões de projetos e passagens de som, pois atendo a várias bandas, artistas, escolas e empresas do segmento. Ainda tenho os shows, eventos e realizações de espetáculos. Eu amo o que faço, gosto de tocar na noite, mas confesso que é bem cansativo”, diz.

Há seis anos ele vive exclusivamente de música. Apesar das dificuldades de quem atua na área, Nascimento se diz realizado com o trabalho que exerce. “Não posso deixar de admitir que falta uma regulamentação da classe. Mas, nada mais prazeroso que poder passar alegrias, emoções e acredito que tudo que é feito com amor terá sempre a recompensa. Me sinto muito feliz, afinal minha maior recompensa vem do céu. E o som do coração”, afirma.

A noite e a música também fazem parte da rotina da pesquisadora musical, Xodó Castrillon, que atua em casas noturnas desde os anos 80, e foi a primeira mulher DJ a tocar na noite cuiabana. Quando começou, aos 18 anos, era apenas para aliar o amor à música e ao trabalho remunerado. Hoje tem uma carreira consolidada como pesquisadora musical e para ela música é o “entusiasmo da alma”.

Entretanto, Castrillon não trabalha apenas animando as pessoas na noite. Aos 50 anos, diz que a música não é mais prioridade, o que está em primeiro plano atualmente para Xodó é o trabalho como auditora. Mas, antes mesmo da auditoria entrar em sua vida, era proprietária de um empreendimento para organizar eventos.

“Eu trabalhava na noite e tinha a necessidade de trabalhar durante o dia por causa da empresa. De dia tinha que me planejar para estudar e trabalhar. Eu sempre tive um planejamento de ações na minha vida”, conta Castrillon, após revelar que nunca gostou muito da cama: dorme apenas cinco horas diária.

Nesse ritmo frenético, para não perder saúde e ter qualidade de vida, ela diz que é primordial cuidar da alimentação. “Nós que trabalhamos na noite não podemos comer qualquer coisa. A tendência é entrar no sanduíche e achar que está alimentado. Para ter um controle maior da minha alimentação eu procurei uma nutricionista que elaborou um cardápio especial para a minha rotina”, alerta.

Direitos

De acordo com o Ministério do Trabalho, é considerado trabalho noturno o que é realizado entre as 22h de um dia até as 5h do dia seguinte. Para que tenha o direito de receber um adicional noturno, ou seja, um acréscimo de 20% em seu salário, o profissional deve ser contratado em regime CLT (Consolidação das Leis de Trabalho).

Só não tem direito a receber este extra quem trabalha em sistema de revezamento semanal ou quinzenal – profissionais, por exemplo, que trabalham à noite por uma semana, em sistema de plantão, alternando com trabalhos durante o dia.

No caso da jornada noturna urbana, a hora tem 52,30 minutos, diferentemente da diurna, de 60 minutos. Essa disposição legal reduz em 12,5% a hora noturna. O salário deve ser pago pelas horas trabalhadas com base neste cálculo.

Confira detalhes da reportagem no jornal Circuito Mato Grosso 

 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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