Cidades

‘Vi ele batendo a cabeça’, conta filha de agredida por sargento

A dor ainda era nítida nesta sexta-feira (30) no rosto e nas palavras da mulher mantida por quatro dias em cárcere privado pelo sargento do Exército Tony Fabio Lima de Oliveira, de 42 anos, preso na quinta-feira (29) no Rio. Em entrevista ao G1, ela conta que as agressões eram recorrentes e tinham as duas filhas como testemunhas. "Nenhuma mulher merece passar por isso", desabafou.

Uma semana depois da prova da redação do Enem, com o tema "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira", as cicatrizes, legado de um ano e meio de relacionamento com Tony, permanecem no corpo da vítima, que prefere não ser identificada.

"Eu já tinha dado várias chances a ele, né? Mas ele me magoou muito, não tem mais como não. Ainda sinto por ele, gosto dele, mas isso vai embora com o tempo", afirmou

A vítima contou que conheceu Tony como professor em um curso técnico de radiologia, em 2014. "Ele me tratava bem, era ótimo."

Depois de engatarem um relacionamento, as agressões e o comportamento difuso começaram.

"Ele agia de jeitos diferentes. Em um dia me agredia, no outro era um príncipe, fazia de tudo, dizia que me amava. E eu perdoei todas as vezes", relembrou.

As agressões aconteciam até na rua, segundo a vítima. Mas era na casa dela, onde morava com Tony e as duas filhas, que as piores agressões aconteceram.

"Ele me dava muito tapa, mas era um, no máximo dois por vez. Por causa da força, minha cabeça batia na parede às vezes. Muita coisa eu não lembro mesmo, mas lembro disso", diz, pensativa.

Na terça-feira (27), os pedidos de desculpa e juras de amor não surtiam mais efeito. Ela estava disposta a ir até a delegacia e registrar queixa contra o namorado na Lei Maria da Penha. A vítima iria com o irmão, mas o sargento impediu que ela saísse de casa.

"Eu ainda tentei argumentar com ele, mas ele me trancou em casa e não me deixou sair. Aí, ele perdeu o controle e me bateu", disse, destacando que foi agredidadas 18h de terça até as 3h de quarta-feira.

Irmão tem fotos
O irmão da vítima conseguiu fotos e áudios que comprovavam as agressões e ameaças e foi até a 27ª DP (Vicente de Carvalho), onde relatou que a irmã estava mantida em cárcere desde segunda (26).

O grupo de investigação criminal da delegacia foi até a casa da vítima, em um dos acessos ao Morro da Serrinha, em Madureira, e prendeu Tony em flagrante por cárcere privado e lesão corporal.

No banheiro da casa havia várias mensagens escritas: "Me perdoa, você está certo. Te amo".

Desde quinta, o sargento está preso no quartel onde trabalha, na Vila Militar. Após a prisão dele, avitima quer seguir a vida.

"Ele não queria me deixar fazer estágios de radiologia, mas agora vou tentar retomar. Só quero retomar minha vida."

Filhas testemunhas
As filhas, de 3 e 11 anos, foram testemunhas em vários momentos. "Vi ele batendo a cabeça dela na quina, perto do ar condicionado. Lembro que ele puxou o cabelo dela uma vez na rua também", disse a mais velha, que sofreu até consequências escolares: por ter ficado em casa com a mãe várias vezes sem poder sair, teve menos de 75% de presença na escola municipal Astolfo Rezende, em Madureira.

 

"É verdade isso, estou tentando mudar ela de colégio para o ano que vem", reconhece a vítima.

Cárcere privado recorrente
Segundo ela, por várias vezes Tony saía de casa e não deixava chave para que a mãe e as duas filhas saíssem de casa.
"Na semana passada, eu perguntei a ele onde estava, e ele me perguntou: 'Quer sair de casa por quê? Depois, me mostrou que estava embaixo do sofá", relata.

A mãe da vítima, em depoimento na delegacia, contou que, após Tony ter invadido a casa dela e agredido seu outro filho, André Ribeiro, a filha ficou um mês afastada do sargento. No entanto, resolveu lhe dar outra chance. A última, depois das agressões por pelo menos sete horas entre terça e quarta-feira.

"Ele nunca bateu nela na nossa frente, mas também nunca olhava diretamente no nosso rosto. Só repetia para ela, durante brigas: 'Você não me ama? Você não me ama?'", relata a mãe ao G1.

Passagens anteriores
Segundo o delegado da 27ª DP, Felipe Curi, Tony tinha pelo menos outros três registros na polícia, todos relacionados a violência doméstica.

"Vamos encaminhar os autos na próxima semana para a Justiça, mas já comunicamos ao juiz do plantão judiciário na noite desta quinta sobre a prisão em flagrante", explica Curi.

"Agradeço de coração ao trabalho da 27ª DP. Sem eles, esse filme de terror não teria chegado ao fim", disse o irmão da vítima, André Ribeiro, emocionado.

Fonte: G1

Redação

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