As margens da alegria, um dos contos do clássico Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, ganha ilustrações de Nelson Cruz e projeto editorial diferenciado para conquistar outras gerações de leitores e possibilitar novas leituras. Publicado pela Editora Nova Fronteira, premiado em 2011, na categoria Criança, pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, essa obra é exemplar da complexidade conceitual a respeito da literatura infantil.
Retomando algumas características do livro infantil, podem-se perceber elementos como o formato, as ilustrações, a quantidade de texto em cada página, a diagramação da página, enfim, uma série de expedientes que dão forma a um produto que vem sendo definido como “infantil”.
A temática também se insere no contexto infantil e a estrutura narrativa ajuda a inserir as personagens e os diversos recursos em uma história de estripulias, ódio e alegrias: um menino, uma viagem de avião com os tios, uma casa perto do mato e a relação com bichos. O trabalho de visualidade da obra acompanha a qualidade do texto verbal, criando uma ambiência verbovisual de encantamento e sentimentos diversos de tristeza, tristeza, amor, alegria, na contradição entre o erguer uma cidade e a morte das árvores, dos bichos, e a emoção de tudo ver.
Constitui, certamente, o melhor livro para iniciação literária de crianças e jovens, de forma a levá-los a penetrar mais profundamente nas sinuosas entrelinhas e nos infindáveis recursos da linguagem roseana.
Merece especial atenção as ilustrações feitas por Nelson Cruz desenhista, pintor, ilustrador, autor. Esse é o percurso traçado por Nelson Cruz, de forma quase que totalmente autodidata. As ilustrações de As margens da alegria são de um rigor técnico e de uma sensibilidade plástica que faz conjugar texto e imagem na mesma direção da emoção e da fruição estética.