Casal Ana Cássia e Cássio Gleisson ficaram quase dois meses sem ver a filha de sete meses (Foto: Valéria Oliveira/G1 RR)
Os brasileiros, Cássio Gleisson da Silva Almeida, de 24 anos, e Ana Cássia da Silva Oliveira, de 19, que ficaram 48 dias presos na Venezuela por compra de gasolina em local não autorizado, relataram ao G1 nesta quarta-feira (28) que foi 'um sufoco' os quase dois meses que passaram em um presídio do país vizinho. Eles chegaram a Boa Vista por volta das 22h30 de terça-feira (27).
O casal e um amigo deles, Taysson da Silva Correia, de 22 anos, foram soltos na segunda-feira (26), após o governo ter intermediado as negociações na Vezezuela. Taysson e a secretária-adjunta de Assuntos Internacionais ainda não chegaram à capital devido ao bloqueio na BR-174, onde professores e lideranças indígenas fecharam a rodovia e autorizam somente a passagem de veículos de urgência e emergência.
Eles contam que no dia da prisão haviam ido para Santa Elena de Uairén, cidade que faz fronteira com o Brasil, para passar o feriado de 7 de Setembro e fazer compras. Os três foram presos após tentar abastecer o carro em uma residência da região.
"Chegamos lá tarde e o posto de gasolina já estava fechado. Uma moça na rua indicou uma casa que fazia o abastecimento. Quando chegamos lá, o lugar era todo murado. Entramos e, minutos depois, chegou a guarda venezuelana, que nos levou presos para o comando", relatou Gleisson, alegando que não chegou a sofrer ameaças dos militares.
Após serem presos, eles foram conduzidos para Puerto Ordaz, onde passaram cinco dias. De lá, após terem passado por um júri, os três foram encaminhados para penitenciárias de Ciudad Bolívar.
"Dormimos uma noite presos em Santa Elena. Após procedimentos, seguimos para Puerto Ordaz direto para o tribunal, onde fomos julgados. Os guardas venezuelanos colocaram no relatório deles que estávamos com 90 litros e mais R$ 50", lembrou Ana Cássia.
Presídio
O casal conta que os dias no presídio foram complicados devido à falta de comida, porém, dizem que não sofreram agressões. "Lá é tudo à base do dinheiro: para comer, se comunicar com a família. Apesar do lugar ser perigoso, o que 'pegava' mesmo era a comida. Tudo que conseguíamos era dividido com os outros presos", cita Gleisson.
Durante o período em que estiveram presos, o pai de Gleisson 'se mudou' para o país vizinho, e com a ajuda dos familiares que estavam em Boa Vista prestava apoio a eles. Para custear as despesas, a família chegou a organizar uma feijoada para arrecadar dinheiro.
Para Ana Cássia, o desgaste emocional e a saudade da filha de sete meses eram o que mais preocupava.
"Tinha horas que pensava que estava tudo perdido e nada mais ia dar certo", diz. No dia da prisão, a bebê, que na época tinha cinco meses, estava com o casal. A avô materna foi buscá-la no dia seguinte. "Ela me estranhou quando voltei", conta a mãe da menina.
Liberdade
A soltura dos brasileiros foi acompanhada pela Secretaria Extraordinária de Assuntos Internacionais (Seai) e Itamaraty. De acordo com o casal, a família deles teve de pagar uma fiança estipulada no valor de R$ 7 mil, além de terem contratado um advogado particular por R$ 1,7 mil.
Após terem assinado uma espécie de alvará de soltura, os três deverão retornar a Venezuela pelo menos duas vezes por mês. O casal garante que se não fosse por isso, não voltaria mais ao país vizinho. "Jamais voltaríamos. Foi traumático. Lá é um país de muito sofrimento", concluiu Gleisson.
Fonte: G1