Se é Nossa Senhora de Nazaré no céu durante os festejos do Círio, também é gula (que Deus nos perdoe) aqui na terra. Quem resiste aos encantos culinários de Belém do Pará? Nem eu que não sou lá grande coisa quando o assunto é gastronomia. M sinto impedida por um fato prosaico: não como frango, galinha, nem nada que voe. Falamos da terra do Pato com Tucupi, captou?
Vou começar pelo fim e num lugar bem fácil: a óbvia e imbatível sorveteria Cairú, na Estação das Docas (sonho de consumo de cidades como o Rio de janeiro, um enorme complexo turístico cultural composto por três antigos armazéns, ao lado do famoso Mercado Ver o Peso e da Cidade Velha e seus monumentos). Meus preferidos são o picolé de Tapioca e o sorvete Carimbó: castanha verde com geleia de cupuaçu. Meu Deus! De comer ajoelhada e repetir várias vezes.
Sabia que ia voltar ao “Lá em Casa”, no Armazém 2, o Boulevard da Gastronomia, de Daniela Martins. Primeiro passei num almoço, tipo self-service. Melhor o clima da noite, mais aconchegante e tranquilo. O Filé Ilha do Marajó, prato da Boa Lembrança, tem geleia de cupuaçu, pimenta rosa, queijo do Marajó e jambu.
Demorei a entender por que às cindo horas da tarde, num calor mais abafado do que deveria ser (considerando que dos 10 dias que passei, só duas vezes choveu no horário costumeiro e num outro dia já de noite), vinha o convite para irmos tomar um Tacacá. Caldo de Tucupi sobre a goma de tapioca, jambu, chicória, camarões, etc, etc. No segundo chamado no mesmo horário incomum foi que deduzi que esse é um costume local e, assim sendo, fui introduzida no metier na hora que, na Inglaterra, é costume tomar o chá das cinco. Numa calçada da Avenida Nazaré, no Largo Redondo, em frente ao colégio Nazaré, fica o Tacacá da dona Maria. Peleio para me entender com a cuia, cestinha, palito e, fundamental, muito guardanapo. Não há como negar que é soberbo!
Também tem o Açaí. No Point Boulevard ele vem com tudo: tapioca e farinha d’agua. Acompanha o Filé de Pirarucu com vinagrete, arroz, farofa. Isso após um passeio pelo variadíssimo Ver-o-Peso, o entreposto fiscal fundado em 1625 para aferir os produtos e pagar os impostos para a coroa portuguesa que se transformou na maior feira livre da América do Sul, com seu estilo Belle Époque. Fartura e variedade de produtos, cheiros e coisas que nunca se viu na vida. Vai Pitaya ai?
Outro lugar muito agradável é o Restô do Parque, no mesmo espaço da Estação Gasômetro, o Parque da Residência, antiga Casa dos Governadores. Um buffet à quilo, da rede Pommed’Or. Tanto aqui quanto no Manjar das Garças o quesito visual é nota dez. No restaurante do Mangal das Garças, o buffet é a preço fixo, o que, no meu caso, não é muito interessante.
A não ser… No lugar que deixei por último. O Bar do Rubão, na Travessa Gurupá, Cidade Velha. O “carnavalesco e cozinheiro” me pegou pelo sorriso e também pelo estômago. Bati ponto. A primeira vez, para experimentar o caranguejo desfiado com farofa. Depois, numa madrugada, foi à vez da singela e reconfortante sopa de caranguejo.
A última investida foi durante o Projeto Circular em que conheci a Casa Stúdio de PP Condurú, depois de visitar a Elf Galeria, de Lucinha Chaves, na Passagem Bolonha, e a Kamara Kó, galeria de fotos ali mesmo, na Cidade Velha. Pois chegamos nas mesinhas colocadas na calçada dispostos a experimentar o Pirarucu de Casaca. Pura ilusão. Pauta para a próxima visita. A iguaria havia acabado logo no início dos trabalhos. Além do caranguejo de consolação, fui apresentada ao Camusquim, macarrão com molho branco e camarão. Li em algum lugar que é prato típico do Marajó. Uma coisa!
Mas não é tudo. E aí, um toque que faz de Belém um local para todos os tipos de paladares. Foi no Bar do Rubão que comi uma das melhores batatas fritas que já provei na vi-da. Crocante por fora e um cremezinho por dentro. Viciante. De dar água na boca só de lembrar.
Belém é um PARAiso dos sabores para todos os gostos…
* Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “No Rumo” do Sem Fim…