Comadre Creonice, prima de segundo grau de Ivan Belém, estará na FLIMT – Feira do Livro Indígena. Em suas mãos, seu conhecido (e já surrado) leque será substituído por um exemplar do livro Iracema, de José de Alencar, datado de 1865.
Isso porque, ainda que seu grau de instrução não seja o idealizado na adolescência, está antenada na literatura brasileira. Na FLIMT, que acontecerá nos dias 21, 22 e 23 de outubro no Centro Cultural da UFMT, cansada das promessas casameiteiras não cumpridas de Manelão, a cuiabana irá festejar os 150 anos de Iracema, a virgem dos lábios de mel.
A obra-prima do escritor cearense, Iracema – a lenda do Ceará – conta a história da índia Tabajara que guarda o segredo da Jurema e, por isso, deve permanecer virgem, como predestinou Tupã. A poção tem propriedades alucinógenas que levam aquele que bebe ao estado de sonho. Após a ingestão da Jurema, Martim Soares Moreno uniu-se à paixão de Iracema.
Na narrativa, Iracema e Martim passam a viver entre o povo Potiguara, inimigos do Tabajara. O tempo passa e o militar português, mesmo enfrentando fortes batalhas, é tomado pela saudade de suas raízes. Iracema, grávida, aguarda sempre pelo retorno do amado. Mas sua ausência a faz definhar de tristeza e, ao voltar de mais uma batalha, Martim encontra Iracema extremamente doente com seu filho, Moacir, o filho do sofrimento. Iracema morre e é enterrada à sombra de um coqueiro que passou a ser Ceará, o canto da jandaia, sua ave predileta. A narrativa alencariana revela o cruzamento do europeu e do índio, na nascença da identidade brasileira. Moacir simboliza a valorização das raízes e da história do Brasil.
Creonice, desamparada de Manelão, ao ler o romance, deleita-se no amor de Martim por Iracema. Intrigada, pergunta a si mesma, diante do espelho, ao colorir seus carnudos lábios de vermelho, se não é melhor besuntá-los de mel para encantar seu sempre amado Manelão. Iracema, publicado em diversas línguas, dentre elas o mandarim, agora estará na voz de Comadre Creonice, no linguajar cuiabanês.