“Olá, pessoal. Será que eu encontro alguém que estudou na faculdade Santana, de 1978 a 1981? Seria bom rever os amigos”. A mensagem escrita em uma comunidade no Orkut, em setembro de 2004, tinha o objetivo comum de tantas outras na época em que a rede social foi criada: reencontrar velhos amigos. Mas a insistência do autor em repeti-la ano após ano, sem resposta, fez o post viralizar e tornou o professor universitário Calixto Silva Neto conhecido como protagonista do "maior vácuo do Orkut". Um ano após o fim da rede social, comemorado nesta quarta-feira (30), ele conta ao G1 que ainda não conseguiu o almejado reencontro com a turma de 81.
“Sempre gostei da área de tecnologia, sou pós-graduado em informática, por isso, sempre fiquei ligado nessa coisa de rede social. Atualmente estou em três redes sociais e, por elas, dois colegas da turma acabaram surgindo, mas não chegamos a nos encontrar. Também achei um professor por acaso em uma palestra”, afirma Calixto.
Ele diz que viu no Orkut uma maneira de reencontrar os colegas da turma de administração de empresas que haviam se formado em 1981. Em 11 de setembro de 2004 fez a postagem, mas, como ninguém respondeu, tentou novamente em 2006. Novamente frustrado, as mensagens se repetiram em 2007 e 2008. “Será que o pessoal da minha época não é ligado em computador? Ninguém da minha época para responder? Continuo aguardando alguém”, dizia o professor.
A incansável busca pelos colegas ano após ano acabou se tornando famosa. O tópico teve mais de 3.600 respostas, mas nenhuma das mensagens era de ex-colegas de classe. Se por um lado Calixto não conseguiu o que queria, por outro, acabou virando uma "celebridade" do Orkut. “Meu perfil travou, cheguei a atingir o limite de amigos permitidos. Mas sempre levei na esportiva e dei risada. Os jovens diziam que era legal eu ter me atualizado e até que eu tinha que ir ao Programa do Jô”, lembra.
A clássica postagem é facilmente encontrada quando se busca por “maior vácuo do Orkut” no Google, mas Calixto diz que o título não o incomoda. “Foi mesmo [o maior vácuo]. Eu até entendi o motivo de ter ficado conhecido assim, porque para os jovens, que eram maioria no Orkut, quatro anos era quase um quarto da vida. Eu tinha cerca de 50 anos na época, então, esperar assim por uma resposta era pouco tempo”, reflete.
‘Pergunte ao Calixto’
O professor conta que, após a "viralização" do post, foi criada uma comunidade chamada “Pergunte ao Calixto”, com centenas de membros. Os internautas, a maioria jovem, perguntavam sobre diversos assuntos. “Da escolha profissional até sexo. Chegava a passar duas horas no computador só respondendo nessa comunidade, em torno de 40 perguntas por dia. Tinha até pessoas de outros países. Além disso, começaram a usar o termo ‘calixtando’, que significava ‘esperando por muito tempo’”, lembra.
Calixto diz que entrou no Orkut com um convite do filho – quando foi criada, a rede social só aceitava novos membros com convites, que eram até vendidos na internet.
Logo que se inscreveu na rede social, ele conseguiu reencontrar colegas de empresa onde trabalhou antes de ingressar na universidade. Mas não teve o mesmo sucesso ao tentar rever os amigos de classe. “Trabalhei na área de eletrônica de 1971 a 1979 e achei bacana usar a rede social para encontrar os colegas dessa empresa e também os da faculdade, mas só deu certo no primeiro caso. O pessoal da área de eletrônica migrou para a informática e continuou trabalhando. Eles apareceram rapidamente e fizemos vários reencontros. Já o pessoal de administração devia ser meio avesso à tecnologia, por isso não apareceu ninguém”, reflete.
'Falsa morte' e fim do Orkut
Conforme a popularidade da rede social começou a cair, o professor também foi diminuindo a assiduidade no Orkut. “Deixei de responder a tantas perguntas. Fiquei meses sem entrar e começaram a dizer que eu tinha morrido. Meu filho e um funcionário chegaram a me ligar para saber se estava tudo bem. Aí quando o Orkut finalmente foi encerrado, baixei todo o conteúdo.”
O Google anunciou em junho do ano passado que iria encerrar as atividades do Orkut em todo o mundo no dia 30 de setembro de 2014. A empresa alegou que o crescimento de suas outras comunidades superou o da rede social e que, por isso, ela seria encerrada.
Mesmo depois do fim da rede social ele continua sendo lembrado pela "pérola". “A família e os amigos brincavam bastante com isso. Meus alunos ficam sabendo da história pelos outros estudantes. Durante uma palestra, dois garotos já pediram para tirar foto comigo e ainda perguntaram se tinha eu tinha conseguido encontrar a turma”, se diverte.
Fonte: G1