Internacional

Brasileira engaja o filho de 5 anos na acolhida de refugiados

Lukas Hommel, de 5 anos, ajuda a dobrar roupas para imigrantes na Alemanha (Foto: Denise Hommel/ Arquivo pessoal)

Sírios, afegãos, iraquianos, entre outros povos, sem pátria, fonte de sustento, casa e destino. Há um mês a designer de móveis infantis brasileira Denise Talarico Hommel, de 42 anos, convive com imigrantes que fogem da Guerra Civil na Síria, da pobreza, da violação dos direitos humanos e do avanço do Estado Islâmico em busca de um recomeço na Alemanha.

A brasileira é voluntária nessa acolhida aos imigrantes e estendeu também o espírito solidário ao filho Lukas, de 5 anos. O menino chamou atenção dos alemães e da imprensa estrangeira ao doar seus brinquedos para crianças refugiadas na Estação Central de Munique no início deste mês.

"Passo a noite com crianças completamente traumatizadas, elas chegam realmente caminhando, há crianças há três ou quatro meses viajando. É uma sensação horrível, mas a gente está fazendo de tudo para que elas tenham um pouco de conforto na chegada", diz Denise, que mora há seis anos na capital da Baviera, desde que deixou sua cidade natal, Ribeirão Preto (SP).

Maior acolhedor de refugiados, a principal economia do velho continente espera receber 800 mil pessoas em 2015, quatro vezes mais que no ano passado. Um epicentro desse êxodo, Munique declarou que chegou ao limite de sua capacidade de alojamento no dia 12 deste mês, quando foi registrada a chegada de 12,2 mil em um único dia.

"Isso não é um assunto de adulto, envolve todo mundo, é da família inteira, por isso levei meu filho. Acho importante ele saber que tem muita gente chegando que não fala a língua dele e que ele vai ter que ajudar, ensinar os costumes para crianças que são completamente diferentes e que ele não poderá ter preconceito."

Rotina voluntária
Denise é uma das milhares de pessoas envolvidas no acolhimento de famílias que chegam à Europa sem dinheiro e sem lugar para morar. A designer diz que sua vida e a de seus vizinhos mudou diante da progressão visível de imigrantes no território europeu e principalmente após as medidas de contenção adotadas pelas autoridades húngaras.

"São tantas pessoas que chegam de repente que Munique ficou uma cidade isolada. No primeiro dia outras cidades ajudaram e agora estão todas as pessoas aqui. A cidade não tem mais lugar", afirma a paulista, casada com um alemão há 12 anos e morando pela segunda vez em Munique.

Ela relata que, logo depois de chegarem à Estação Central de Munique, os refugiados recebem os primeiros atendimentos médicos antes de serem deslocados para diferentes alojamentos, com disponibilidade de camas e banheiros.

Pelo alto volume de doações e pela reação das pessoas, a brasileira avalia que os alemães estão muito dispostos a ajudar, apesar de atitudes isoladas de radicais neonazistas e do alegado esgotamento da capacidade de alojamento local.

"Os alemães entendem muito bem o que é ser refugiado de guerra. A gente sabe que não vai dar para receber todo mundo, mas as pessoas estão bem tristes e dando tudo, tudo que a gente pede eu venho com lista e consigo. Pasta de dente, cobertor, a gente separou um quarto no prédio debaixo onde moro e ele lota. Eles dão tudo o que podem. Têm quatro mil civis nas ruas ajudando, sem estarem ligados a nenhuma organização", afirma.

Para Denise, uma das situações mais marcantes foi saber que uma família com um bebê de oito meses passou oito dias sem ter sequer água para beber. "Você não pode admitir, num país rico, ver criança na rua passando fome, isso é um absurdo."

Gesto espontâneo
A crise da imigração mudou também a infância do filho de Denise. Lukas Hommel, que completou 5 anos em 20 de agosto, decidiu ajudar ao seu modo. Em 2 de setembro, ele doou 20 brinquedos para crianças refugiadas na Estação Central de Munique e chamou atenção da imprensa internacional. Sem cerimônias, ele apareceu com um cartaz de boas-vindas e presenteou crianças de cinco famílias, segundo a mãe.

"Seu maravilhoso gesto nos mostra mais uma vez como é simples ajudar os refugiados", publicou a edição alemã do Huffington Post.

Lukas começou a se envolver quando viu, em foto, uma multidão cruzando as estradas europeias a pé. Segundo Denise, ele ficou assustado com a cena e queria ajudar. "Ele perguntou: eles podem dormir aqui? Eu respondi: não, porque tem muita gente. Então ele perguntou por que eles não carregavam malas e se ele poderia dar o pijama dele. Falei que era muita gente."

No alojamento
Como solução, a designer o estimulou a separar brinquedos que ele ainda usava e o levou à estação, local onde, de acordo com ela, os imigrantes experimentam um rápido momento de felicidade pela chegada após a exaustante jornada.

"Fiz questão que ele levasse brinquedos com que ele brinca. Falei que eram pessoas diferentes, que perderam as casas e que eram iguais às nossas e que as crianças precisavam de brinquedos. Dei três dias de prazo e coloquei uma caixa no quarto dele."

Aos poucos, ela quer que Lukas participe mais das missões voluntárias e também brinque com filhos de refugiados. Hoje, ele ajuda a organizar as roupas para as doações e já visita locais onde os mantimentos são armazenados.

"É muito triste levar uma criança a um alojamento. As crianças refugiadas estão muito apavoradas, elas não choram, não têm reação alguma, estão num estado de choque que passa do choro. Futuramente Lukas vai uma vez por semana comigo para brincar com as crianças, agora não há condições", diz.

Fonte: G1

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Internacional

Orçamento de Londres-2012 dispara até os 13 bilhões de euros

A organização dos Jogos ultrapassou em quase 2,4 bilhões de euros o orçamento com o qual trabalhava, segundo revelou o
Internacional

Brasil firma parceria e estimula produção sustentável de café

A ideia da parceria é por em prática medidas que levem à redução da pobreza por meio de atividades que