Cidades

Reforma da Praça do Porto provoca polêmica em moradores

Texto e fotos por Wellyngton Souza 

Um dos pontos turísticos de Cuiabá, a Praça Major João Bueno, localizada no Bairro Porto, em frente à Casa do Artesão, passa por um “momento delicado”.  Isso devido a uma reforma que deixou o ambiente semelhante a um canteiro de obras.

A Major João Bueno está cercada por tapumes e não possui nenhum pedaço de concreto para contar história, já que todo o piso e a calçada foram quebrados. Os canteiros, antes gramados, já não existem mais. Algumas árvores foram cortadas e os bancos retirados.  

Os moradores que residem nas proximidades do local e os comerciantes da região questionam a gravidade da obra e sua real necessidade, desde questões ligadas à retirada de árvores até a destruição total para implantação do que foi denominado ‘mudanças estratégicas’ – pelo Secretário Adjunto de Turismo de Cuiabá,  Jeferson Moreno – como paisagismo, troca da parte elétrica, renovação da iluminação, pavimentação e acessibilidade com a implantação de piso tático e rampas para portadores de necessidades especiais.

A empresa GRE Engenharia, responsável pela obra, teria em seu projeto a retirada de nove árvores, como pés de bocaiuva, mangueiras, Pau Brasil e palmeiras imperiais e alteração de todo o piso. 

“Quando eu vi não acreditei. Era possível preservar a praça sem que a deteriorassem. Queremos apenas que poupem o pouco do verde que restou”, afirma o advogado João Carlos da Silva. 

A empresária Cristiane Seiko Ishizuka, tem uma empresa de artesanato no local e ressalta que algumas árvores já foram arrancadas para a construção do piso. “O projeto está completamente equivocado. Não tem lógica destruir uma área verde para fazer reforma. Poderiam adaptar a praça sem que prejudicassem a natureza”, exalta indignada sobre a situação da praça, que possui um total de 21 árvores e várias plantas.  “Um dos dois pés de bocaiuva que tem lá, eu plantei quando criança, faz parte da minha história” conta saudosa Seiko. 

O local também é lembrado por abrigar uma tradicional feira de comidas típicas todas as terças-feiras à noite. Durante o período da reforma, feirantes que ocupavam o local estão negociando com moradores para fechar e utilizar uma das ruas laterais para acomodação e realização da feira.

Segunda reforma seria para implantação de piso tático e rampas 

De acordo com o Secretário Adjunto de Turismo de Cuiabá, Jeferson Moreno, em 2014 a praça havia passado por uma repaginada devido a um evento futebolístico. “Não foi uma reforma, era apenas uma maquiagem para o evento. O trecho era utilizado como rota para Arena Pantanal. Na manutenção só foi feito uma pintura, conservação dos bancos e limpeza”, explica. 

Ainda segundo o secretário, para a reforma deste ano, os recursos das obras são oriundos de uma emenda parlamentar obtida pelo então senador Pedro Taques (PSDB) e por meio do PAC Cidades Históricas, do governo federal, no valor de R$ 10,5 milhões, para reforma de duas praças da região do Bairro Porto e quatro casarões do Centro Histórico da cidade, sendo que cerca de R$ 1 milhão será destinado para duas praças do Porto, entre as quais está a Major João Bueno.

Jeferson pondera a necessidade de reconstrução da praça. “Entendo que a capital precisa de mais verde, só que a intenção é dar mais mobilidade aos pedestres e toda a comunidade”. Jeferson não soube informar o valor estimado da “maquiagem” em 2014 e os gastos individuais de cada praça este ano.

Ele assegura que no projeto não consta a retirada de nove árvores, e que isso seria um  equívoco. “As árvores que estamos “tirando” da praça, são duas palmeiras imperiais. Uma está completamente podre e pode ser um risco para a comunidade. E a outra, vamos apenas tirar do meio da passagem e colocar junto com as outras em um canteiro, nada mais. São apenas boatos”, afirma. 

O aposentado Michel Arruda questiona a retirada da calçada. Ele comenta que na semana retrasada, operários estavam cortando vários troncos e raízes de árvores. “Cuiabá está de cabeça para baixo e qualquer sombra é preciosa”. Ele argumenta que não entende o verdadeiro motivo da reforma e, segundo ele, a praça era uma das mais bonitas da cidade. 

Morador do Bairro Porto há 35 anos, o artista plástico Suede Ferreira, afirma que no momento a praça não precisava desta reforma, já que em 2014, ela passou por uma manutenção geral. “Antes da Copa do Mundo, os bancos foram pintados e praça passou por uma pequena reforma, agora a calçada estava sem buraco e não tinha um tijolo fora do lugar. Hoje só era necessário uma melhora na pintura e construir rampas de acessibilidade na calçada”. 

O Secretário descreve que a Major João Bueno foi construída com paralelepípedos e que os mesmos estavam quebrados. “Eles têm vida útil de seis anos, estava na hora de trocar. É preciso que a praça seja nivelada para implantarmos o piso tático”.

 O Circuito Mato Grosso procurou especialistas para argumentarem sobre a necessidade da retirada de todo o piso para implantação do piso tático e as consequências do desmatamento de árvores. Segundo arquiteta Karina Volkman, os paralelepípedos possuem vida útil muito longa, e diz que a troca é feita caso existam rachaduras. 

“Se o local em que o paralelepípedo está inserido não tem tráfego de veículos, eles podem durar muitos mais anos sem a necessidade de trocar rapidamente. Para fixar qualquer tipo de piso, é importante que o local esteja bem nivelado”. Outro ponto esclarecido pela arquiteta é que, dependendo do caso, não há necessidade em retirar todo o piso. “É só fazer uma marcação exata do tamanho e largura do piso tático e instalar”.

 

Redação

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