Cidades

No Brasil, uma em cada cinco crianças de oito anos não sabe ler frases

O ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro (centro), apresenta os resultados da avaliação do nível de alfabetização no Brasil. 

A maioria dos estudantes do 3º ano do ensino fundamental – a idade em que termina o ciclo de alfabetização nas escolas – só consegue localizar informações "explícitas" em textos curtos. Mas uma em cada cinco crianças (22,21%) tem déficit ainda maior: elas só desenvolveram a capacidade de ler palavras isoladas, segundo dados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) de 2014, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) nesta quinta-feira (17).

De acordo com o resultado da avaliação, 56,17% dos alunos só conseguem, no máximo, localizar uma informação explícita em textos mais compridos se ela estiver na primeira linha.

A avaliação do MEC mede o conhecimento destes estudantes em diferentes níveis de três áreas: leitura, escrita e matemática. A divulgação dos resultados é feita de acordo com o número de crianças em cada um desses níveis.

Em entrevista coletiva na tarde desta quinta, o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, afirmou que o MEC trabalha com níveis de aprendizado adequado ou inadequado de maneira distinta em cada uma das três escalas. Segundo ele, na escala de leitura, é considerado inadequado apenas o nível 1, onde estão 22,21% das crianças. Em escrita, do nível 1 ao 3 os estudantes demonstram que não aprenderam o esperado. É o caso de 34,46% das crianças. Já em matemática, são considerados níveis insuficientes de aprendizado o 1 e o 2, onde estão 57,07% dos alunos avaliados na ANA.

Edição de 2015 cancelada

O ministro minimizou o fato de o governo federal ter cancelado, em julho, a edição deste ano da avaliação. Ele negou que o cancelamento tenha sido motivado por falta de recursos. "Foi dada muita importância ao fato de cancelarmos a avaliação de 2015", afirmou ele. "A questão não é economia de recursos, mas que os dados só estariam disponíveis nessa época. A avaliação de 2015 seria feita sem a divulgação de 2014, então não daria tempo para formular as políticas públicas", explicou.

"Quando fizermos, no ano que vem, a avaliação de 2016, teremos condições de extrair novas lições ao divulgá-la, em 2017. Na educação, mudanças de um ano para outro são, com frequência, pouco significativas. Teremos condições de identificar se há tendência sólida, e não soluço."

Na terça-feira (15), em palestra em São Paulo, o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, comentou os dados da ANA. "Vamos ter a condição de comparar com o anterior e vamos dizer que os dados não são uma história de sucesso", disse ele.

Entenda o exame
Em 2012, o governo criou o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), um compromisso dos governos federal, estaduais e municipais para garantir que todas as crianças estejam alfabetizadas quando concluírem o 3º ano do fundamental. A ANA, que começou a ser realizada em 2013, é feita com os estudantes em duas provas: na de língua portuguesa, há 17 questões de múltipla escolha e três de produção escrita. Na prova de matemática, são 20 questões de múltipla escolha.

Na divulgação dos dados da ANA de 2014, a primeira vez que o resultado do Brasil foi divulgado publicamente, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) não indicou quais níveis de cada escala representam aprendizado adequado.

Mas, segundo Janine, apenas os estudantes que não passaram do nível 1 preocupam o governo. "O nível 1 é francamente inadequado, a pessoa não consegue ler mais que uma palavra. Isso a gente não pode aceitar, tem que zerar. É um avanço modesto, estamos falando só de escola pública. É claro que será desejado que todos cheguem ao nível 4. Mas, a partir do 2, temos uma pessoa que está lendo e compreendendo o que lê", explicou ele.
De acordo com o governo federal, em 2014 o Brasil tinha 3.294.729 estudantes matriculados no 3º ano do fundamental, considerando as redes pública e privadas, na zona urbana e em escolas do campo.

Leitura
No caso da leitura, os níveis vão de 1 a 4, e só 11,20% dos estudantes atingiram o nível mais alto (o 4). Mais de um quinto deles (22,21%) não passaram do nível 1, onde, segundo o Inep, as crianças são capazes apenas de ler palavras com sílabas canônicas (compostas de uma vogal e uma consoante) e não canônicas.

Outros 33,96% ficaram no nível 2 e, de acordo com a escala, conhseguer, por exemplo, achar informações explícitas apenas em textos curtos, ou se elas estiverem na primeira linha de um texto mais comprido. O MEC considera como exemplos de textos curtos piadas, poemas e quadrinhos, entre outros. Segundo a avaliação, textos mais extensos podem ser trechos de literatura, lendas, cantigas folclóricas ou poemas.

No nível 2, as crianças sabem reconhecer a finalidade de diferentes tipos de texto, como convite, receita, anúncio ou um bilhete, e entendem o sentido de piadas ou de histórias em quadrinhos que misturam a linguagem verbal e a não verbal.

No nível 3 estão 32,63% das crianças, diz a ANA. Nesse nível, o estudante é capaz de localizar informações explícitas no meio ou ao final de textos mais extensos, identificar onde está o pronome pessoal do caso reto em alguns textos, e fazer a relação entre causa e consequência de textos verbais ou de textos que usam linguagem verbal e não verbal.

Já no nível 4, o mais alto, onde está a menor porcentagem das crianças avaliadas, o estudante já deve ser capaz de reconhecer a relação de tempo em texto verbal e os participantes de um diálogo em uma entrevista ficcional, identificam outras estruturas sintáticas em textos curtos, como o pronome possessivo, o advérbio de lugar e o pronome demonstrativo, entendem o sentido de trechos de contos e o sentido de palavras em meio a texto mais compridos.

Escrita
A escala de escrita na ANA tem cinco níveis e, segundo o ministro, os níveis 1, 2 e 3 são considerados de aprendizado inadequado. Nele estão 34,46% dos estudantes avaliados. No nível 1 estão 11,64% dos estudantes. Isso significa, segundo o Inep, que elas "ainda não escrevem palavras alfabeticamente" e "provavelmente não escrevem o texto ou produzem textos ilegíveis".

No nível 2, em que os alunos "provavelmente escrevem alfabeticamente palavras com trocas ou omissão de letras, alterações na ordem das letras e outros desvios ortográficos", estão 15,03% dos estudantes.

Segundo a ANA 2014, 7,79% dos estudantes estão no nível 3 de escrita. Nele, a criança deve ser capaz de escrever "palavras com estrutura silábica consoante-vogal, apresentando alguns desvios ortográficos em palavras com estruturas silábicas mais complexas", e "escrevem de forma incipiente ou inadequada ao que foi proposto", ou escrevem frases, mas ainda sem conectivos, e "apresentam ainda grande quantidade de desvios ortográficos".

A maioria das crianças de oito anos avaliadas (55,66%) se encontram no nível 4 de escrita, diz o Inep. Nele, elas podem escrever com diferentes estruturas silábicas, dão continuidade a uma narrativa, mesmo que não consigam contar todas as partes da história, ou incluir todos os elementos da narrativa. Elas já usam conectivos no texto. Além disso, segundo o Inep, "o texto pode apresentar alguns desvios ortográficos e de segmentação que não comprometem a compreensão".

Uma em cada dez crianças (9,88%) atingiu o nível mais alto de escrita no fim do ciclo de alfabetização. Isso quer dizer que elas provavelmente sabem continuar uma narrativa, com uma situação central e final, articulam as partes do texto com conectivos, separam e escrevem as palavras corretamente, mas ainda podem apresentar "alguns desvios ortográficos e de pontuação que não comprometem a compreensão".

Matemática
Praticamente um quarto das crianças avaliadas em 2014 (24,29%) atingiram o nível 1 na escala de alfabetização em matemática, e 32,78% delas ficaram no nível 2. Ambos os níveis são considerados inadequados pelo ministro Janine Ribeiro.

Segundo o presidente do Inep, Chico Soares, há uma explicação mais complexa por trás dos resultados da prova de matemática. O desempenho dos estudantes, de acordo com ele, é impactado pelo nível de conhecimento do português, "porque os estudantes precisam interpretar aquele problema para transformá-lo em um cálculo, em um resultado".

No primeiro nível, espera-se que as crianças saibam contar até 20, ler as horas e minutos em relógio digital e comparem objetos pelo seu comprimento, entre outras habilidades. No segundo, elas também reconhecem o valor monetário de cédulos e de grupos de cédulas e moedas, identificam o registro do tempo em um calendário, completam sequências numéricas crescentes e escrevem números de dois algarismos na ordem, além de somar até três algarismos e subtrair até dois algarismos.

Já no nível 3, onde o aluno provavelmente é capaz de resolver problemas com números maiores de 20 e calcular divisões entre partes iguais, com apoio de imagem, estão 17,78% dos estudantes.

No nível 4, o mais alto da escala de matemática, estão 25,15% dos estudantes brasileiros que concluíram o ciclo de alfabetização em 2014, segundo o Inep. Neste nível, eles devem ser capazes de ler as horas e minutos em relógios analógicos, sabem ler alguns elementos de gráficos de barra, fazem operação de subtração com até três algaritmos e divisão em partes iguais ou em proporcionalidade sem auxílio de imagens.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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